No primeiro dia da 23º Semana de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero, 31 de agosto, a mesa de debates foi uma partida em que os jogadores valorizam o seu diferencial e reverenciam a qualidade do companheiro. Até o árbitro Celso Unzelte pulou para dentro da partida, quando percebeu que o amarelo e o vermelho ficariam intocados, tendo em vista a maestria do clube dos cinco: PVC, Mauro Beting, Mauricio Oliveira, Lu Castro e Marília Ruiz. Porém, apesar de toda a sintonia, o que não faltou foram cobranças.
O primeiro tiro veio com uma observação de Maurício Oliveira, editor chefe do jornal Lance!, que vê o jornalismo impresso vivendo um clima de 7×1. Usando como exemplo a redução de mais de 50% da tiragem do periódico ao longo dos últimos cinco anos, Oliveira deu início a uma das jogadas repetidas ao longo da partida, a necessidade de o jornalista se tornar mais versátil, seja com reportagens multimídia, ou até dando lugar a outros formatos de texto. O toque camarada da comentarista Marília Ruiz foi que “existe uma lacuna que pode ser preenchida pelo new journalism – o que acontece antes, durante e depois do jogo”. Mauro Beting concluiu a jogada dizendo que “o jornalista atual precisa estar sempre se reciclando”.
Entre piadas e toques de experiência, Beting também provou que é possível ser fanático por um time de futebol e ainda manter a imparcialidade jornalística. Vestindo um boné da seleção alemã, o comentarista iniciou sua jogada deixando bem claro que é palmeirense roxo e brincou ao dizer que tudo o que diz respeito ao futebol brasileiro está, de alguma forma, ligado à equipe alviverde, e que, portanto, é um assunto importante para ser tratado. Brincadeiras à parte, Beting disse que não há problema algum em vestir a camisa de sua equipe, contanto que o jornalista não permita que a paixão pelo time do coração distorça o sentido da notícia.
Quem deu continuidade ao lance foi o experiente jornalista Paulo Vinícius Coelho, comentarista da Fox Sports, quando lembrou que o jornalista deve ser o meio e não a notícia. Em tom de preocupação, afirmou que observa um futuro de incertezas para o jornalismo atual, e um de seus toques foi que “o bom jornalista é constituído 80% de raça e 20% de técnica”. Paulo enfatizou a importância de o jornalista sujar os sapatos, porém, como explicou Mauricio Oliveira durante uma tabela com PVC, os jornalistas devem ter cautela para que a paixão excessiva pela profissão não se volte contra eles mesmos.
Já para Luciane Castro, autora do blog Futebol para Meninas, do Lance!net., sujar os sapatos não foi opção para se transformar em uma das maiores peritas em futebol feminino. “Eu fui atrás e tive que abrir o caminho, pois não havia nada”, explicou. Aliás, uma das maiores bombas do jogo no Gazetão, foi a de Luciane, logo no inicio do primeiro tempo, quando disse que não dá para viver somente como jornalista de futebol feminino. A jornalista observa uma melhora no futebol das brasileiras, porém, apontou ainda como principal barreira o preconceito. Para Marília Ruiz, ironicamente essa forma de discriminação surge na redação quando a mulher apresenta uma opinião sobre futebol.
Se para o futebol feminino o maior obstáculo, dentro e fora de campo, é o preconceito, sobre o futebol brasileiro em geral, foi comentada a falta de infraestrutura em setores como a segurança nos estádios e na organização dos campeonatos. “São coisas simples que precisamos mudar, a começar por uma mudança no calendário”, explicou Marília Ruíz. A jornalista ainda sugeriu que o governo continue trabalhando em conjunto com o futebol brasileiro, usando a MP do futebol, sancionada no início de agosto, como bom exemplo de uma mistura de política e futebol. PVC complementou dizendo que o futebol deveria ser visto como um setor da economia. “Quanto mais ele for valorizado, mais empregos e mais impostos ele vai gerar”. Além disso, disse que a permanência de mais jogadores brasileiros no Brasil é necessária para que haja um maior entrosamento dentro de campo, o que poderia evitar outro possível 7×1.
Apesar de terem lançado alguns temas sobre formas com que o Brasil poderia melhorar o seu futebol, os toques principais lembraram mais um treino entre colegas experientes e aspirantes no jogo. Sim, o jornalismo esportivo pode estar vivendo o mesmo clima do Brasil pós seu último jogo de Copa do Mundo. Porém, como foi apontado pelos mestres, há métodos alternativos disponíveis para que possamos driblar os adversários. E para chegarmos à meta, precisamos fazer uso de recursos que lembram o futebol dos saudosos textos de Nelson Rodrigues, que uniam raça, determinação, e um pouco de criatividade.
Celso Unzelte apita, fim de jogo no Teatro Gazeta.