Na quarta-feira, dia 2 de setembro, o Teatro Cásper Líbero foi palco de apresentação da mesa de “Jornalismo Internacional”, mediada pelo Prof. Dr. Pedro Ortiz, e que teve a participação de Todd Benson, chefe de comunicação do Google Brasil, Luciana Taddeo, correspondente do Opera Mundi na Venezuela e Argentina, e Gabriel Toueg, correspondente em Israel e editor dos periódicos Metro e do estadão.com.
Ortiz, que trabalhou por dez anos como correspondente em diversos países da América Latina, abriu o debate apresentando o currículo dos convidados e discutindo a falsa noção de “glamour” no trabalho dos correspondentes internacionais, quando, na verdade, trata-se de uma realidade bastante diferente. O correspondente, em geral, trabalha sozinho e muito, enfrenta uma rotina caótica, precisa se adaptar ao idioma e às idiossincrasias de um povo, além da complexa tarefa de transcrever a conjuntura política, social, econômica, cultural e mesmo esportiva para um público estrangeiro.
A primeira participante a contar um pouco de sua trajetória foi Luciana Taddeo. Após terminar a faculdade de Jornalismo na Cásper Líbero, em 2008, ela foi para a Argentina estudar espanhol e se preparar para obter o certificado de proficiência nesse idioma, afinal desejava fazer uma pós-graduação na Espanha sobre conflitos armados. Após algum tempo, Luciana começou a traduzir textos e a produzir alguns artigos para o jornal La Nación, enquanto também mandava material para o site Opera Mundi. A rotina de seu tempo na Argentina permitia que Luciana propusesse temas variados, como uma coberta do julgamento de Jorge Rafael Videla e claro, pautas para outros países latino-americanos, entre eles Paraguai, Cuba e o Haiti – país que visitou durante a missão brasileira.
Todavia, a experiência de cobertura na Venezuela foi muito distinta do que Luciana estava acostumada na Argentina. Ao aterrissar em Caracas no “olho do furacão”, em 2013, ela pegou um país caótico e tenso. Desde os possíveis atentados ao presidente Maduro, os protestos e contraprotestos diários, combinados com os discursos quilométricos constantes e a violência inacabável, tudo somado à falta de abastecimento básico na capital venezuelana, Luciana comenta que o ritmo de produção de notícias era intenso e desgastante. Muitas vezes, ela cobria um protesto, voltava para casa, assistia ao discurso de Maduro ou da oposição e descobria que alguém havia sido morto no protesto de que acabara de assistir. A jornalista enfatiza que, como correspondente, você é desafiado a desconstruir suas preconcepções todos os dias e que não existem verdades absolutas.
Gabriel Toueg relatou suas experiências em Israel logo na sequência dos trabalhos da mesa. De origem judaica, ele havia viajado para a capital israelita com 25 anos, sem um conhecimento tão profundo da língua e sem muitos contatos de editores e repórteres. Mas, por um golpe de sorte, em 2005, o governo de direita de Ariel Sharon retirou as tropas da faixa de Gaza e a Radio France procurava alguém para enviar reportagens. No entanto, em 2006, com o início da II Guerra do Líbano, Gabriel decidiu cobrir o conflito, apesar das dificuldades de acesso, pois a fronteira Israel-Líbano estava fechada. Enquanto que, em 2008, quando Israel completou 60 anos de sua criação como Estado, ele planejou uma reportagem, vendida para a revista Marie Claire, sobre a história do país através de mulheres israelenses, fossem empreendedoras ou militares. Devido à sua carreira, ele salienta: “Se você quer, vá e faça. Eu tinha 25 anos e não sabia quase nada quando viajei para Israel, mas se puder, saiba pelo menos o idioma do lugar, porque assim você terá mais confiança para se comunicar”.
Em contraposição com a história dos brasileiros que foram correspondentes no exterior, Todd Benson é um estrangeiro que foi correspondente c e continua trabalhando com comunicação – no Brasil. Ao completar seu mestrado em Estudos Latinoamericanos e caribenhos na Universidade de Chicago, ele veio para o Brasil atrás de alguns trabalhos freelancers. Na época, junho de 1999, o país saía da crise cambial. Ele foi contratado pela Dow Jones para cobrir o mercado de commodities na região, tendo trabalhado ali por dois anos. Suas próximas paradas como correspondente foram no The New York Times e na Reuters, onde atuou de repórter a chefe de redação. Em seus dez anos de Reuters, Benson foi enviado especial para países como Argentina, Paraguai, Venezuela, Cuba, México e teve oportunidade de cobrir o terremoto no Chile, falar com os presidentes Fernando Henrique Cardoso, Lula e Hugo Chávez. Agora, trabalhando na Google Brasil, ele brinca que pela primeira vez, em anos, tem finais de semana livres, algo raro no tempo com
o correspondente, pois precisava estar conectado em tempo real às notícias ou no mínimo disponível para dúvidas de alguns repórteres.
Benson relata que quando pensou em ser jornalista nunca imaginou que moraria no Brasil por mais de 17 anos, construindo uma carreira aqui. Para ele, mesmo com a carga tensional da profissão e o retorno financeiro mais baixo que o esperado – ele acrescenta: “Você acaba entendendo que não é uma profissão para ficar rico” –, é muito satisfatório saber no final do dia que presenciou e cobriu a história se desenrolando.