Anunciado como “debate do século”, o encontro entre o filósofo esloveno Slavoj Zizek e o psicólogo clínico canadense Jordan Peterson era tudo o que uma sociedade cindida queria ver. Afinal, eles representam polos distintos – Zizek, a esquerda, e Peterson, a direita. Tal expectativa se refletiu na plateia, que, como se estivesse no Maracanã em dia de Fla-Flu, torcia, às vezes até com gritos, para um dos dois.
Contudo, o debate de mais de duas horas e meia tomou outro rumo. Mesmo de lados opostos, Zizek e Peterson respeitaram um ao outro e chegaram a concordar entre si. É, portanto, possível debater civilizadamente nos dias de hoje. Essa é a maior de todas as lições.
Analistas de diferentes espectros políticos tentaram defender por que o esloveno ou o canadense teria ganho o debate. O maior vencedor, no entanto, foi o público, pois ficou nítida para quem assistiu a importância de sair da bolha – especialmente a das redes sociais – e dialogar com não convertidos.
Mas o “debate do século” também teve um ponto baixo, além das já citadas reações da plateia. Zizek não fala por toda a esquerda. E, dentro dessa corrente de pensamento, há quem não tenha se sentido representado. Os debatedores acusaram a chamada esquerda pós-moderna de boicotá-los da academia e desaprovaram a sua postura em relação a Donald Trump. Definitivamente, faltou alguém para rebater as críticas e apresentar uma outra visão de mundo.