Em 2017, Voyeur revelou ao público do streaming a tessitura de O voyeur (2016), livro do jornalista Gay Talese. Logo no início, o filme adverte que a credibilidade do repórter pode naufragar com as inconsistências apontadas na história de seu livro: a do americano Gerald Foos, que passou décadas espionando hóspedes por aberturas instaladas nos tetos do Manor House Motel.
Os diretores do documentário, Myles Kane e Josh Koury, optam pela divisão em três atmosferas. Centralizam a câmera e apresentam o pensamento do voyeur com a ajuda de um artifício estético e didático: colocam Foos encenando o passado e operando uma maquete do lugar que, na década de 1960, e longe dos holofotes da era digital, se transformou no seu laboratório para violar a intimidade alheia.
Com o correr da trama, a amizade estabelecida entre o jornalista e sua fonte ganha destaque, assim como as tensões que cercam o lançamento do livro. Apenas no terceiro momento, marcado por teor dramático e trilha melancólica, é que o público poderia ter mais espaço para refletir e opinar. Nesse eixo, porém, Voyeur não rivaliza com as críticas direcionadas à obra de Talese, abandona qualquer densidade interpretativa e investe em personagens-atores, aproximando-se do modelo de reality show que estamos acostumados a acompanhar – gênero que, na polarizada pós-modernidade, titubeia em relação ao real e sua celebrada simulação.