“Arrogantes, preguiçosos, desinteressados, mimados, apáticos e narcisistas, que não se incomodam em ainda morar com seus pais; sem dúvida, uma lista de adjetivos dignos de fazer qualquer mãe desejar cavar um buraco na terra para se esconder de vergonha, certo? Afinal, que futuro estaria reservado para filhos como estes, que vivem com os narizes enfiados em seus smartphones bisbilhotando a vida dos outros e sonhando em enriquecer sem fazer esforço? Resposta: recriar a sociedade em que vivemos.
O controverso tema é a matéria de capa da edição desta semana da revista Time, intitulada “The Me, Me, Me Generation” ou, em bom português, “A Geração do Eu, Eu e Eu”. A sugestiva expressão foi cunhada por Joel Stein, autor do artigo, como uma maneira, digamos, mais figurativa de referir-se à geração que nos Estados Unidos vem sendo chamada de Millennials, e que abrange todos os que nasceram entre 1980 e 2000.
A fim de evitar que pedras fossem atiradas por quem considera haver exagero no perfil traçado para descrever a primeira geração de jovens adultos do século XXI, Stein certificou-se de respaldar suas alegações na precisão dos números: segundo estudos recentemente publicados, hoje mais pessoas entre 18 e 29 anos vivem com seus pais do que com esposos. Já a incidência de distúrbios de personalidade relacionados ao narcisismo é, atualmente, cerca de três vezes mais alta em pessoas entre quem tem de 20 a 30 anos do que a que fora registrada na mesma faixa etária durante a década de 70.
Como se estes já não fossem dados potencialmente incendiários, Stein, de 41 anos, resolveu galgar um degrau a mais na direção de tornar-se um verdadeiro Judas para quem cresceu assistindo Tartarugas Ninja, Cavaleiros do Zodíaco e Pokémon na TV. No site da revista, além de uma versão digital do artigo, é possível assistir a um vídeo (de tom pra lá de jocoso) que registra a tentativa do jornalista de passar um dia inteiro vivendo como um legítimo representante da Geração Y.
Seu primeiro desafio foi dormir com o smartphone na cabeceira da cama e checá-lo logo após abrir os olhos. Mas não parou por aí. A ‘competição’ ainda envolvia enviar 30 mensagens de sms ao longo de 24 horas (um destes, ao menos, de teor sexual), manter um papo rolando o dia todo através de uma janela de chat, utilizar 2 dispositivos eletrônicos simultaneamente, publicar no Instagram várias fotos do próprio rosto, responder 5 vezes à pergunta ‘no que está pensando?’ do Facebook e, por último, não utilizar em nenhum momento um telefone fixo.
Em defesa própria, alguns Millennials vieram a público nas redes sociais para lembrar que a caricatural descrição de suas rotinas passou ao largo de outras reconhecidas características da geração que integram, tais como o otimismo em relação ao futuro, a maior consciência ambiental, a capacidade de engajar-se em causas sociais e o fato de, além de dinheiro apenas, almejarem crescimento profissional aliado ao bem estar.
Frente a estes argumentos, é difícil discordar de quem enxerga oportunismo na matéria, ou mesmo uma predisposição a classificar comportamentos pejorativos associáveis à juventude como exclusivos da Geração Y. Historicamente, as gerações mais jovens sempre foram tidas como menos competentes e mais alienadas, portanto o retrato feito por Stein, em termos práticos, pouco tem de novidade. Se a sina de toda geração é redimir os erros da anterior, ao menos nosso futuro nunca esteve nas mãos de pessoas mais instruídas ou com maior domínio da tecnologia. E tudo bem se, entre uma e outra conquista, eles pararem para postar um autorretrato no Instagram, né?”