Por Luís Gaspar e Giselle Freire
Dominique Wolton, um dos mais importantes pensadores do campo da comunicação na contemporaneidade, esteve ontem na Faculdade Cásper Líbero para a Conferência “Como salvar a comunicação”. O evento marcou as comemorações da Pós-Graduação da Faculdade Cásper Líbero por ocasião do aniversário de 70 anos da Instituição.
Logo no início da conferência, Wolton enfatizou que é preciso revalorizar a comunicação enquanto relação entre as pessoas para que, assim, possamos salvá-la. “A descoberta da alteridade poderá salvar a comunicação, pois procurando nós mesmos, achamos o outro. Comunicação é amor, é saber respeitar o outro, mesmo se ele não tiver razão”, disse o doutor em sociologia pelo Instituto de Ciências Políticas de Paris.
Wolton chamou atenção para nosso encantamento com o que ele denominou comunicação técnica – aquela dos computadores e celulares. E ressaltou que outro meio de salvarmos a comunicação será destecnicizar a informação. “Estamos compensando a comunicação humana pela técnica. Tem que desligar o computador e se relacionar pessoalmente. Estamos incapacitados de termos uma relação humana. O mais fácil é a técnica e o mais difícil são os homens”, apontou Wolton, antes de continuar a defender a ideia de que “as técnicas apenas atrasam a comunicação humana, em algum momento até mesmo os líderes mundiais se reúnem fisicamente para tratar do que realmente importa”.
Ele destacou ainda que interatividade não é comunicação. Para o Diretor de Pesquisa do CNRS (Centre Nacional de la Recherche Scientifique), o interativo é rápido e a comunicação lenta. Então, só conseguiremos nos comunicar quando pudermos restabelecer a lentidão. “Quanto mais rápido, mais incomunicação. Preferimos a velocidade da técnica e não a relação das comunicações pessoais. É preciso revalorizar a identidade da ação e da experiência humana, é preciso tempo para realizar as coisas. A gente devorou este tempo”, completou o sociólogo.
Segundo Wolton, o triunfo da comunicação é a coabitação. “Coabitar é respeitar o outro, e democracia é isso. O que temos que fazer para nos comunicarmos é nos tolerarmos”.
Para o membro da comissão francesa da Unesco, nunca tivemos tanta informação e tão pouca comunicação, e informar não é comunicar. “O homem é louco de informações”. Já nas redes sociais estamos nos expressando, mas expressão também não é comunicação. “As redes são uma espécie de cacofonia e solidão interativa, as pessoas falam de suas vidas, mas não estão interessadas pela vida dos outros. Descobrimos a alteridade, mas não sabemos como lidar com ela. Onde estão a paz, a compreensão e a tolerância? “, questionou Wolton.
A vinda de Dominique Wolton ao Brasil teve o apoio do Consulado Geral da França em São Paulo e do Instituto Francês. Antes do início da conferência, receberam certificado de menção honrosa pelos 70 anos da Faculdade seu diretor, Carlos Costa, e os diretores da Compós, que realiza a 26ª edição de seu Encontro Nacional na Faculdade Cásper Líbero: Edson Dalmonte, presidente; Cristiane Freitas Gutfreind, vice-presidente; e Rogério Ferraraz, secretário-geral.
Nesta terça-feira, 6 de junho, às 19h, Dominique Wolton se junta ao jornalista e sociólogo brasileiro Muniz Sodré para a conferência de abertura oficial da Compós 2017, que será realizada para os inscritos no evento no Teatro Cásper Líbero, com o tema “Comunicação, mídia e política na França e no Brasil”.
Assista à entrevista feita pela jornalista Tatiana Ferraz, em que Dominique Wolton fala sobre suas expectativas para Conferência de Abertura da Compós 2017.