Um protesto organizado por índios de diversas regiões imprimiu o tom que deve se repetir ao longo desta segunda e última semana da Conferência do Clima, a mais aguardada por observadores, jornalistas e instituições do terceiro setor presentes em Bonn, Alemanha.
A manifestação, organizada na noite da segunda-feira, 13, dois dias antes da chegada de chefes de Estado, coincidiu com um evento, também dentro da COP23, sobre a participação dos combustíveis fósseis e da energia nuclear em matrizes energéticas mais limpas. Os integrantes da Rede Ambiental Indígena (IEN, na sigla em inglês), organização não-governamental que atua na defesa e proteção de terras indígenas sul-americanas, denunciaram a violação dos direitos humanos dos povos tradicionais e reivindicaram respeito ao meio ambiente.
“Nós estamos nos reunindo como povos, juntando norte e sul, leste e oeste em uma só voz. Estamos construindo uma aliança com as pessoas do mundo”, afirmou Tom B. K. Goldtooth, diretor executivo da IEN, que também criticou a realização de painéis sobre temas contraditórios à proposta da conferência.
A concentração dos povos indígenas foi marcada pela indignação dos que ouviam suas reivindicações, na maioria jovens e ativistas atuantes na causa. Além da denúncia contra as petrolíferas, foi questionada a falta de compromisso do governo dos Estados Unidos com a questão climática.
Com trajes típicos e ao som de músicas e gritos de protesto, os manifestantes acusaram as gigantes do petróleo de impactarem o meio ambiente e a saúde pública. “A Chevron [petrolífera estadunidense] está tirando o petróleo e destruindo comunidades inteiras, que aos poucos já estão desaparecendo. As pessoas estão morrendo e nossas crianças estão doentes”, afirmou Nina Gualinga, líder da comunidade Kichwa de Sarayaku, localizada na Amazônia equatoriana.
Segundo Nina Gualinga, os problemas causados pelas indústrias que exploram o petróleo nas terras indígenas vão além dos danos ambientais, ressaltando os impactos à cultura tradicional e a violação dos direitos humanos. “O número de casos de abusos sexuais contra mulheres nessas áreas em que as refinarias operam é considerável, mas muita gente desconhece essa realidade”.
O avanço da exploração de combustíveis fósseis no Norte do Brasil é motivo de preocupação das organizações não-governamentais, como o Greenpeace, que têm alertado sobre os impactos dessa atividade no bioma amazônico.