A dois dias do encerramento da 23ª Conferência das Partes (COP) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês), cerca de 30 chefes de Estado chegaram nesta quarta-feira, 15, para participar da reunião de alto nível da cúpula climática. Além do primeiro-ministro de Fiji, Frank Bainimarama, o presidente da França, Emmanuel Macron, e a chanceler alemã, Angela Merkel, marcaram presença na sessão.
Já na saída da estação mais próxima à Bula Zone, onde ficam as plenárias, manifestantes com braços em riste protestaram contra o presidente francês, do partido liberal Em Marcha!. No subsolo do prédio principal, passagem obrigatória para quem precisa chegar às outras zonas, um grande “tapete vermelho”, em forma de cartaz, trazia um recado a Merkel: “mantenha [durante seu governo] os pés no chão”.
A ansiedade para encontrar caminhos que possam tirar do papel as ambições do Acordo de Paris e o receio em relação à falta de comprometimento com o fundo previsto para mitigar os impactos das mudanças climáticas, ameaçado pelo anúncio da saída dos Estados Unidos do acordo, nortearam as pautas de discussão na plenária Nova York – palco do encontro dos chefes de Estado na COP23.
Alguns dias antes de um dos momentos da conferência mais esperados por manifestantes, políticos e setores da sociedade civil organizada, António Guterres, que participa da sua primeira cúpula climática como secretário-geral da ONU, manifestou preocupação e falou da urgência na arrecadação anual de 100 bilhões de dólares, como previsto no acordo. Guterres e a comunidade internacional estão apreensivos, especialmente diante de estudos, como o publicado pela Bloomberg New Energy Finance, sobre o atraso na arrecadação para o fundo de apoio aos países pobres e menos desenvolvidos. De acordo com a publicação, dos 111 bilhões investidos em tecnologia e inovação na área de energia limpa, neste ano, apenas 10 bilhões foram doados por países desenvolvidos.
Para se ter uma ideia da importância do fundo para o cumprimento das promessas impressas no Acordo de Paris, basta observar as regiões que mais demandam apoio financeiro. Dos 47 Estados que compõem a lista dos países menos desenvolvidos (PMD) e, portanto, mais vulneráveis aos impactos do clima, 33 estão no continente africano, 9 na Ásia, 4 na Oceania e um na América.
É mais complicado do que parece
As finanças não são a única preocupação do secretário-geral. Em discurso no Conselho de Segurança das Nações Unidas, no segundo semestre deste ano, em Nova York, Guterres pediu urgência no auxílio aos países da região da Sahel, área desértica de transição entre o Saara e a Savana sul-sudanesa.
Os mais de três milhões de km² de extensão da região são conhecidos não pela sua beleza, mas pela presença de facções e organizações paramilitares que vão do terrorismo a grupos étnico-religiosos marginalizados, como os curdos ou os cristãos sudaneses. “A situação no Sahel desafia todos nós […] o tempo está contra nós”, ressaltou em plenária no fim de outubro.
As mudanças climáticas também criam disputas territoriais em regiões de temperaturas e climas extremos, como o próprio deserto. Guterres alertou, em seu discurso na COP23, que “dinheiro inteligente é necessário para engajar todos os países na meta de reduzir emissões e promover o desenvolvimento sustentável. Peço aos países ricos que tomem a iniciativa […] eu farei tudo que estiver ao meu alcance para facilitar os projetos”, concluiu antes de deixar sessão de alto nível.