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Crédito: acervo pessoal

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No dia 16 de abril, o Canal Futura exibiu o documentário Tons na música, que tem como tema o preconceito e a dificuldade que mulheres negras enfrentam no cenário da música erudita paulistana.

Um dos 20 vencedores do concurso Curtas Universitários, promovido pelo Canal Futura, o curta-metragem é uma produção dos casperianos Amanda Martins, Elioenai Paes e Talles Braga, do 4º ano de jornalismo, e teve orientação do documentarista Ninho Moraes e participação da pesquisadora Juliana Serzedello, ambos professores da Cásper Líbero.

Elioenai estudou música por doze anos, conheceu e acompanhou a história das jovens retratadas no documentário. “Minha escola era de música popular e erudita. Na popular tinham muitos negros, na erudita, não. Isso chamou minha atenção”. Assim, o grupo escolheu o tema e as fontes para trabalhar.

Amanda contou que elaborar um pré-roteiro foi o mais difícil: “não somos da área de audiovisual e o concurso pedia muitas coisas relacionadas a documentários que a gente não conhecia”. A ideia inicial do grupo, por exemplo, era fazer entrevistas em um fundo neutro, o que foi reprovado por Luis Nachbin, curador do pré-roteiro e do corte final dos vídeos. Ele esperava algo mais ousado e apontou o que poderia ser melhorado, sugerindo que o grupo tentasse enquadramentos diferentes.

Com ajuda de Ninho Moraes, o roteiro começou, então, a tomar forma. “Em uma ficção, você tem as falas, está tudo ali. Mas em um documentário, você tem que prever o que vai acontecer, tem que imaginar, mesmo sabendo que na hora vai ser diferente. O Ninho falava para a gente tentar descrever as cenas, partir de algo que se quer e acha que vai dar certo”, explicou Talles.

O concurso também ofereceu um workshop no Projac, o centro de produções da Rede Globo, para um integrante de cada grupo. Elioenai foi ao Rio de Janeiro, sede do centro de produções, para aprender mais sobre equipamentos e sobre tentar sair da cena, deixando o entrevistado à vontade. “Participar do workshop ajudou a tirar a ideia de quadradinho, pois foram exibidos os projetos desenvolvidos e também os documentários anteriores”. Assim, o grupo conseguiu desenvolver melhores ideias para filmagem, construindo enquadramentos mais interessantes do que haviam pensado até então.

Bastidores

A rotina de gravações começou assim que o grupo uniu as contribuições de Nachbin e do workshop ao interesse de Talles por documentários e tutoriais de produção. “Começávamos a gravar com uma ideia em mente, mas nem sempre era possível realizá-la. E nós não tínhamos uma produção, éramos apenas os três. Emprestamos equipamentos da faculdade, os meus e fomos”, conta Talles. “Gravávamos duas vezes por dia na Sala São Paulo [sede da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo], o tempo todo lidando com imprevistos e adaptações.”.

“A Sala São Paulo fica no meio da cracolândia [área crítica no centro da cidade de São Paulo onde há consumo e tráfico de drogas ilícitas, principalmente crack], e nós ficávamos com todos os equipamentos na mão, às vezes debaixo de chuva”, acrescentou Elioenai. Ela também contou que durante as gravações, ensaios aconteciam no local. “Havia muito barulho de coisas caindo, pessoas arrumando e arrastando cadeiras e instrumentos. Mesmo assim, conseguimos trechos bons”.

Pesquisadora da questão racial no Brasil, a professora Juliana procura enfatizar o tema em suas aulas de história do Brasil e reforça a importância da abordagem envolvendo mulheres negras e música: “Creio que o documentário tem muitas qualidades. Entre elas, a mais importante me parece ser a visibilidade dada às musicistas eruditas negras, num país onde a visibilidade da mulher negra tantas vezes se dá em situações muito menos valorizadas”, afirma. “As mulheres negras têm salários, escolaridade e todos os indicadores sociais abaixo da média dos demais cidadãos [no Brasil], então um filme que aborda a qualidade do trabalho de mulheres negras na música erudita é mais do que bem-vindo: é necessário”, completa a docente.

Reforço extra

Negravat, uma das entrevistadas para o documentário, é ativista e tem muitas referências africanas. “Ela fez várias críticas e sugestões, dando mais consistência ao documentário”, afirmou Elioenai. A estudante também falou sobre a surpresa o retorno positivo que receberam do curador Nachbin. “Ele nos mandou um e-mail gigante e elogioso, ficamos surpresos que tenha gostado tanto, já que no começo ele reprovou nosso pré-roteiro”.
Amanda ressaltou ainda a ajuda da equipe das ilhas de edição da faculdade: “Nós não tínhamos muita noção de como editar, aprendemos fazendo, com auxílio da equipe. Gravamos áudio separado do vídeo, algo que nunca fizemos antes, além de captarmos imagens com zoom e editarmos a trilha também.”.