A palavra “brainstorm” tem uma tradução universal um tanto complicada: tempestade no cérebro ou cerebral. O título da conversa mantida com dois renomados profissionais na área de propaganda enriqueceu a Semana do Audiovisual 2014, organizada pelos alunos de RTVI da Cásper: “Do Brainstorm às telas – Produção Audiovisual na Publicidade”. E Fabiano Beraldo, RTV (diretor de arte) da agência Ogilvy, e Fred Ouro Preto, diretor de comerciais da produtora Conspiração, demonstraram como isso acontece na vida real.
A conversa na manhã desta terça-feira, 12 de agosto, girou sobre o primeiro passo – sempre o mais importante – depois que um cliente solicita um “filme”. Ambos ressaltaram a importância de um trabalho conjugado, em que cada etapa tenha o acompanhamento de todas as áreas, do departamento de marketing da empresa até a primeira exibição seletiva.
Provocação: “E se o Cliente não gostar?” Afinal, nesse momento ele é o primeiro consumidor e, certamente, quem tem mais sensibilidade sobre o chamado “mercado”.
Fabiano Beraldo, formado pela ESPM e com mais de vinte anos de carreira, lembrou que “Hoje em dia, não há mais espaço para se jogar um filme fora, como acontecia até meados dos anos 1990”. Tudo é custo. Tudo é verba. Fred Ouro Preto, formado em cinema pela Anhembi Morumbi, mais jovem, completou: “É necessário que tudo seja checado a partir da leitura do roteiro. Se as cores estão de acordo, se os takes foram produzidos conforme o combinado” (lanço as palavras de memória). Checagem e mais checagem, com a assinatura de todos os participantes das reuniões.
O diretor da Conspiração (empresa carioca que expandiu seus domínios para São Paulo), Fred Ouro Preto, lembrou que até mesmo para fazer um videoclipe é necessário ter essa aprovação. Não se trata apenas de uma obra de arte, no caso de um vídeo musical, mas de um produto de venda de uma música.
Fabiano Beraldo apresentou dois cases, dois making ofs, junto com os comerciais finais lançados na internet. Curiosamente, os dois filmes tiveram uma “rejeição” por parte do cliente, apesar do enorme sucesso que fizeram. Motivo: são de duas empresas tradicionais e que têm um cuidado (até excessivo) para não sensibilizar o chamado “público”.
Interessante notar que o “politicamente correto” e as “legislações” entraram com tudo nesse campo e precisam ser notadas e anotadas.
Já Fred Ouro Preto mixou seus clipes com alguns dos comerciais que comandou. E comentou sobre a questão de autoria, já que todo o processo é cercado de “referências”, ou seja, de conteúdos e estéticas que, de certa forma, já foram exploradas nesse imenso universo do audiovisual.
Se eu pudesse resumir a conversa, diria que é necessário ter muita conversa, muita troca de informação, muita sinceridade em tudo o que se faz. Não há espaço para o improviso ou para arroubos juvenis. Grandes estruturas estão em jogo. E muito dinheiro também. A profissionalização efetiva nesse mercado é um jogo de “toma lá-dá cá”. “Eu” faço para vender. E a embalagem faz parte dessa estratégia.
Nesse debate que durou uma hora e meia, posso dizer que foram tratados temas relevantes para as disciplinas de Publicidade e Propaganda e para Rádio, TV e Internet – e que merecem ser analisados e assistidos com calma e anotações.
Ninho Moraes é cineasta e documentarista, produtor e professor do Curso de Rádio, TV e Internet da Faculdade Cásper Líbero