Certamente que há muito para falar sobre a Cásper Líbero. Seja sobre seu pioneirismo em educação em jornalismo, a qualidade do curso, os bons profissionais que lá ensinam. Naturalmente, a faculdade é excelente e o desempenho dos seus formandos é excepcional. Lembrar dos quatro anos que passei na Faculdade, no entanto, me traz mais lembranças pessoais do que profissionais, pois foi lá que encontrei meus melhores amigos – amigos até hoje, é bom dizer.
Se naquela época me contassem que esses colegas seriam amigos para a vida inteira, iria duvidar, pois logo no começo do curso minha mãe me disse que, da sua faculdade de Direito, só uma amiga ficara. Nisso a minha herança foi completamente diferente da dela.
A começar pelo vestibular, já que meu amigo de infância, Célio Irribaren, entrou junto comigo – ele cursou Relações Públicas no mesmo período em que eu estudei Jornalismo, entre 1999 e 2002. E agora é Market Manager em uma multinacional (chique, né?). Além dele, o grande cartunista Marco Pavão, outro amigo de escola, já estudava Publicidade e Propaganda na Cásper e me recebeu de braços abertos. Esta convivência com eles – e com seus novos amigos – foi fundamental para eu ser o que sou hoje, formada em Comunicação Social, e por um acaso habilitada em Jornalismo.
Aquela era uma era pré-Facebook e todo o tipo de rede social que campeia por aí e é mais virtual do que real. Dividi a sala com gente que jamais imaginei que estaria comigo em momentos tão importantes da minha vida. Naquele JOC noturno, Renate Krieger era uma boa companheira de sala. Anos depois, eu morando em Nova York e ela, em Paris, fizemos uma dupla para escrever matérias sobre as duas cidades para revistas do Brasil. O primeiro freela dela foi junto comigo. Lembro até hoje de uma reportagem sobre a escolha das cidades sedes das Olímpiadas para a revista Superinteressante. Agora ela é mãe e editora na Deutsche Welle Brasil, na Alemanha e, por essa narrativa, já dá para perceber que Renate é minha melhor amiga.
Sem ela e a Ana Poletto, colega de sala no JOC e no JOA, nenhuma das boas lembranças que tenho de minha estadia em Paris seria possível. Juntas, formamos um trio maravilhoso: íamos todas as quartas-feiras ao Louvre, fazíamos piqueniques aos pés da Torre Eiffel… E uma das memórias mais doces da minha vida foi a do dia em que lavamos louça no apartamento da Polly, como chamo a Ana Poletto, que é a responsável pela comunicação da Universidade de Rennes, na França.
O que seria apenas uma convivência acadêmica tornou-se amizade, destas que não apenas sobrevivem como vivem muito bem mesmo com o tempo e a distância. Estudei em muitos lugares e destaco apenas a New York University, a Pontífica Universidade Católica de São Paulo e a Escola de Governo, mas é incrível observar que as pessoas mais especiais da minha vida vieram da Cásper.
São amizades que ultrapassam os limites profissionais, mas que foram fundamentais para minha vida na reportagem. Ninguém consegue saber tudo, sobre tudo e meus amigos foram os que mais me apoiaram com conhecimento específico quando precisei. Jamais vou esquecer-me do dia em que fiz a minha primeira matéria de economia para a Agência Brasil, onde trabalhei por quase dois anos. Eu, que vinha da cobertura de celebridades e música, estava um pouco perdida. Mas, mesmo estando em fechamento, do outro lado do MSN (um programa obsoleto de conversas instantâneas que nem existe mais) estava a Raquel Salgado, outra casperiana que conheci nos corredores. Ela, na ocasião, era correspondente do jornal Valor Econômico em Salvador. Foi quem me ajudou mais que qualquer outro editor antes de sair para as pautas! Talvez seja por esta gratidão que celebrei com muita alegria o seu casamento com um homem maravilhoso, que aconteceu no mesmo período em que ela ganhou bolsa para estudar na Universidade de Northwestern, em Chicago, onde mora atualmente.
Falar dos meus amigos e da Cásper é impossível sem mencionar o Gustavo Scatena. Parece clichê dizer que o melhor amigo de uma repórter é um fotógrafo, mas é isso que acontece com a gente – passada mais de uma década. Além de ser o preferido e o autor de todas as minhas imagens – incluindo a deste artigo! – ele é destes amigos que arrumam o primeiro emprego para seu irmão caçula como fez com o meu, hoje fotógrafo como ele na Agência Africa.
A Cásper não é um lugar apenas para estudar. Nem para encontrar uma profissão. Sim, serve para tudo isso, mas é o melhor lugar que conheço para fazer amigos. E, sem amigos, esta vida fica um pouco difícil, não é?
Este texto, inclusive, surgiu por causa de uma ordem de um amigo (é que pedido de amigo é ordem, sabe?). O Carlos Costa foi meu professor, editor e mentor, mas nunca deixou de ser meu amigo – agora é Coordenador de Jornalismo da Cásper, mas amigo nunca deixou de ser. Amigo para dar conselhos profissionais, para dizer qual o melhor cognac a escolher para as minhas receitas – e ainda se colocar à disposição para me acompanhar à importadora para comprar o mais adequado.
Na Bíblia, diz que existem amigos mais chegados que irmãos. Se usar este princípio, posso dizer que a Cásper Líbero é aquele lugar no meu coração que se parece com a cozinha de casa, onde estão todos estes meus irmãos, unidos, sempre.
Ivy Farias, 33 anos, é jornalista, militante dos Direitos Humanos e dos Animais, aluna da Escola de Governo e estudante de Direito na PUC-SP.