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Crédito: Letícia Negresiolo

O Teatro Cásper Líbero sediou na terça-feira (30), durante a 22ª Semana de Jornalismo, a discussão sobre a criminalização da cobertura jornalística, a qual teve seu ápice nos protestos de junho do ano passado. A mesa contou com a participação do repórter fotográfico Daniel Teixeira, a fotojornalista Marlene Bergamo e a repórter Laura Capriglione.

Para dar início à palestra, foi transmitido ao público um vídeo, realizado pelo site de jornalismo independente Ponte, sobre os fotógrafos Alex Silveira e Sérgio Silva, alvos das balas de borrachas durante os movimentos sociais de junho. A produção tinha como objetivo relatar as principais consequências da perda da visão de ambos os fotógrafos, causadas pela repressão policial, e o encaminhamento da indenização por parte do Estado.

Após a exposição dessa nova realidade vivida pelos protagonistas do vídeo, Marlene Bergamo encaminhou a discussão expondo a repressão da polícia militar como sendo contra qualquer movimento social e não em oposição ao jornalista e sua vontade de fazer notícia. Atrelada a esta ideia, a repórter especial da Folha de S.Paulo, Laura Capriglione, disse entender a situação do jornalista atual como semelhante àquela dos indivíduos de toda e qualquer manifestação. “Os jornalistas tornaram-se vítimas daquilo que acontece o tempo todo com os presentes nos movimentos sociais”, afirmou.

Contextualizado o tema, os convidados deram precedência ao debate relatando suas experiências nos protestos de junho. Para Daniel Teixeira, a polícia estava claramente despreparada. “A manifestação da PM era pura e simplesmente de ódio. Não era possível sentir a presença do Estado em meio à repressão”, comentou o repórter fotográfico do jornal O Estado de S. Paulo.

O uso do colete azul também foi muito discutido pelos convidados. Segundo pronunciamento oficial do Estado, a imprensa deveria vestir o colete azul com o propósito de distinguir-se dos manifestantes. Contudo, os três convidados se posicionaram contra o uso da proteção, pois “não devemos ser tratados de forma diferenciada. A utilização do colete nega o direito de segurança dos outros ali presentes. Somos tão cidadãos quanto eles”, completou Bergamo.

Essa cidadania, que hoje não se limita mais aos grandes veículos de comunicação, vem se demonstrando cada vez mais influente na utilização das mídias sociais. Capriglione defendeu a ideia de que os crimes cometidos nas manifestações possuem muito mais visibilidade e alcance devido ao crescimento constante de veículos de jornalismo alternativo, como é o exemplo do site de segurança pública e direitos humanos Ponte.

E é por isso que a criminalização da cobertura jornalística é tão pautada atualmente. A repórter da Folha de S.Paulo deu ênfase à importância dos arquivos produzidos em situações de perigo, pois “os melhores e mais significativos registros das jornadas de junho são vindas dos ‘meninos’ que estavam lá”. Afinal, como recordado pelos convidados, a maior parte dos jornalistas feridos não possuía qualquer vínculo empregatício com os canais de comunicação. São os chamados freelancers.

Desde as ações policias até a influência das mídias sociais, a cobertura jornalística ainda passa por processos de enfrentamento dos jornalistas com o Estado, e este se mostra cada vez menos flexível para discutir o assunto. Como consequência desses fatores, se estabelece um novo cenário para o exercício do comunicador. “Vivemos um momento de crescente expansão dos veículos alternativos que podem ser aliados do combate à criminalização da cobertura jornalística atual”, finaliza Capriglione.