Foi atendendo ao pedido de muitos alunos interessados e apaixonados por gastronomia que, na quinta-feira, 2 de outubro, uma mesa foi exclusivamente dedicada ao Jornalismo Gastronômico na concorrida 22ª Semana de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero. Para discutir e esclarecer dúvidas dos discentes, foram reunidos profissionais das mais variadas plataformas: Ricardo Castilho, sócio-editor da revista Prazeres da Mesa; Ailin Aleixo, fundadora do site Gastrolândia; e Alessandra Blanco, que mantém o blog Comidinhas, vinculado à revista Vogue, além da professora Helena Jacob, responsável pela mediação da mesa.
Com leveza e muito humor, os participantes deram suas opiniões sobre o escrever gastronômico, sempre com relatos de suas próprias experiências e observações da área. Aos interessados, dizem eles, é importante gostar de comer, viajar e ler. Para escrever sobre gastronomia, o jornalista precisa não apenas ter um contato direto com os produtos, como também acumular bons referenciais. “É preciso gostar de comer, não tem jeito! Não dá para ser tolerante à lactose, ser celíaco”, confessa Ailin Aleixo, em seu tom firme e divertido. É somente por meio de muita experimentação e aprendizado que se desenvolverá um senso crítico.
Estar aberto para novas experiências sensoriais também é fundamental. Os convidados ressaltaram, ainda, que realizar cursos de culinária é um diferencial no currículo, já que conhecimentos técnicos acrescentam muito na análise de um prato. Alessandra Blanco acrescenta que a gastronomia, assim como a música, é uma forma de jornalismo cercada por glamour. Por este motivo, os convidados apontaram a importância, além do estudo, da humildade, e de que o jornalista evite o deslumbramento com aquele universo das panelas e menus. “Tem que deixar o orgulho de lado, pois é muito fácil achar que cruzou a linha entre a fonte e a amizade ou que pertence àquele mundo”, conta Ricardo Castilho.
O número de reality shows, livros, cadernos de jornal e mesmo fotos de comida nas redes sociais são um indicativo do quanto a gastronomia está hoje em evidência. Ainda assim, os profissionais alertam que esse segmento segue a tendência de um mercado jornalístico difícil. Mais do que nunca, é importante pensar em formas inovadoras de produzir conteúdo. Ressalta Ailin: “O mundo está mudando e o jornalismo está mudando com o mundo […] O desafio é pensar o jornalismo de forma menos quadrada”. A tendência é que existam cada vez mais freelancers no mercado, escrevendo sobre pratos, comidas, restaurantes, produtos culinários.
Apesar de Ricardo Castilho acreditar que esse lado do fazer jornalístico pode estar estagnado em relação ao seu crescimento, Ailin Aleixo lembra pontos ainda pouco abordados pela mídia especializada. Para ela, hoje, mais do que nunca, a comida é uma grande questão para a saúde pública, visto que crescem o número de obesos, diabéticos e pessoas com problemas cardíacos – além do caso de excesso de dietas que abarrotam as páginas de revistas. Dessa forma, seria um importante papel dos jornalistas gastronômicos informarem sobre a procedência de certas refeições, seus valores calóricos, com mais informações concretas sobre os efeitos de uma alimentação não balanceada.
Quando questionados pelos alunos da Faculdade Cásper Líbero, os convidados discutiram o compromisso com a ética em suas publicações. É fundamental diferenciar reportagem de cunho editorial e as de patrocínio, pensar no interesse do leitor sem deixar de respeitar o anunciante. Nada deve ser oculto do público: caso uma matéria agrida algum produto, sugere-se que uma publicidade dele não seja veiculada na mesma edição.
É papel do jornalista dedicado à cobertura gastronômica escrever, ainda, sobre a experiência total do restaurante, e não apenas de sua comida. “Um serviço demorado e deficiente pode estragar todo o prazer de uma visita a um estabelecimento”, afirma Ricardo Castilho. O ambiente, o atendimento, as pessoas que frequentam o local e mesmo o serviço de manobrista podem ser relevantes para determinado público e por isso devem constar de uma resenha crítica.
Por fim, restaurantes caros não precisam ser os únicos alvos do trabalho de avaliação desses profissionais. Além da já citada preocupação com a saúde, é possível abordar, também, temáticas como comidas de rua e a culinária típica, de raiz. Há coisas boas a serem descobertas tanto nos ambientes sofisticados quanto nos mais simples, basta que o jornalista produza conteúdos interessantes, claros, e que atendam às necessidades, sempre, de seu público alvo. Afinal, existe muita coisa boa além das fronteiras dos bairros paulistanos dos Jardins.