A noite da quinta-feira foi cenário para uma das mesas que trouxe boas novidades à Semana de Jornalismo: a conversa sobre a tendência cada vez mais presente das revistas customizadas no mercado editorial. Para além dos publieditorias, hoje as grandes marcas e empresas não buscam apenas vender um produto – elas têm o que dizer ao seu público e querem conseguir uma relação de fidelidade com ele. O debate, mediado pelo professor Carlos Costa, foi recheado de bons momentos.
O jornalista Artur Louback, da editora e agência New Content, compartilhou sua experiência como editor de criação do núcleo de projetos da TAM, empresa aéra. A plataforma “TAM nas nuvens” conta com uma TV de bordo, canal no Youtube, revista impressa e digital. Para ele, “chegamos a um momento em que a publicidade não deveria ser vista como ‘inimiga’, mas propulsora de bons projetos”. É nesse sentido que a revista customizada se encaixa: na intersecção entre o jornalismo de qualidade e a divulgação das marcas. Artur comenta sobre a falta de discussão no espaço acadêmico a respeito do tema das publicações customizadas. Segundo ele, há falta de profissionais que se formem pensando nesse mercado – o que, em tempos de crises, surge como uma boa alternativa para quem se lançar a essa experiência.
Josi Campos, designer gráfica, esteve à frente de publicações customizadas da Editora Abril. Como editora-chefe dos suplementos, manteve o olhar sempre preocupado para o design da informação, de modo que o conteúdo fosse transmitido de forma plausível e clara. Roberta Faria, fundadora da revista Sorria, publicação de sua Editora Mol, faz questão de deixar bem claro que sua publicação não é exatamente considerada como “customizada”, mas como uma “revista social”. Algumas de suas publicações são oferecidas para freqüentadores de lojas como a rede de farmácias Droga Raia, como opção de compra. Boa parte do preço da revista é enviada para ONGs e entidades beneficentes. Durante a conversa, Roberta incentivou o empreendorismo e o do it yourself em nossa profissão. “Se você não está satisfeito com a rotina de seu trabalho numa grande editora, como foi o meu caso, essa é a hora de pensar novas formas de atuar no campo jornalístico”, ela diz. Nos últimos anos, a empresa de Roberta Faria contribuiu com cerca de R$ 17 milhões para entidades como a GRAACC (Instituto de Oncologia Pediátrica – IOP/GRAACC/UNIFESP) e o Instituto Ayrton Senna.
“Sorria é uma revista social da Editora MOL, vendida na Droga Raia. Os R$ 3,50 que você paga por ela se convertem em doações ao GRAACC e ao Instituto Ayrton Senna, e ajudam a combater o câncer infantil e a melhorar a educação no Brasil”.
O jornalista e empreendedor Fernando Paiva foi outro convidado da mesa. Depois de experiências bem vividas em grandes empresas jornalísticas, como a Editora Abril e a Folha de S.Paulo, Paiva decidiu investir em seu próprio negócio. Assim nasceu a Custom Editora, que já deixa claro em seu nome para que veio ao mercado. Responsável pelas revistas MIT e S View, a primeira da empresa Mitsubishi Motors e a segunda da Samsung, ele também dá espaço para revistas de luxo, como a exclusiva The President. Apenas presidentes e CEOs de grandes empresas estão no mailing da publicação.
O debate sobre as publicações customizadas traz um novo olhar para o fazer jornalístico. Basta dar uma folheada nas revistas distribuídas pelos quatro convidados para entender. Engana-se quem ainda pensa que o conteúdo, a apuração, a reportagem dessas revistas ficam totalmente subordinados aos interesses dessas empresas. Pelo contrário, as experiências desses quatro profissionais marcam o sentido oposto. Há autonomia nas pautas e as grandes marcas buscam essas editoras como forma de trazer um diferencial para a sua identidade. Não basta apenas anunciar que o produto é “bom” ou é “o mais barato”. Mais ainda, é preciso criar uma relação de identificação com o consumidor, trazer novidade, diferenciar-se para conquistar o espaço e a preferência. Fortalecer a imagem institucional e oferecer informações, produtos e serviços a um público que tem suas especificidades bem estudadas previamente. Enfim, usar dos mais variados recursos midiáticos à disposição para promover conteúdo de alta qualidade.