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Crédito: Ricardo Nóbrega

Crédito: Ricardo Nóbrega

No último dia da 22ª Semana de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero, 3 de outubro, Ricardo Gandour, membro do Instituto Palavra Aberta e há oito anos diretor de conteúdo do Grupo Estado, acomodou-se na mesa localizada no centro do palco do Teatro Cásper Líbero ao lado da professora Helena Jacob, mediadora do debate. Ele disponibilizou sua manhã de sexta-feira para conversar sobre jornalismo e liberdade com o público presente. Devido à relevância da palestra, o espaço próximo aos participantes da mesa estava tomado pelas câmeras de vídeo e fotográficas, responsáveis pela transmissão via Hangout.

O convidado iniciou sua fala mencionando sua experiência como jornalista, além de ter explicado que a missão do Instituto Palavra Aberta é zelar pelas liberdades no jornalismo, entre elas a comercial, de expressão e editorial – a frase que resume essa missão é “quanto mais você sabe, melhor você decide”. Além disso, falou sobre sua concepção interessante do que chama de tripé do jornalismo. Para Gandour, a profissão, se bem exercida, tem esta como base teórica. Os pontos fundamentais para a elaboração deste sistema são, segundo ele, a) a atitude jornalística, ou seja, a constante busca pela melhor versão da verdade, aquela famosa posição questionadora do jornalista; b) a existência de um bom método, a preparação antes de sair a campo; e, c) finalizando, a apresentação de uma boa narrativa, seja escrita, imagética, fotográfica ou multimídia. Segundo o jornalista, o consumidor de informação tem melhores possibilidades de escolha, ou seja, liberdade, à medida que mais elementos do tripé são incorporados ao texto.

Após o primeiro contato com o público, a professora Helena Jacob abriu espaço para as perguntas. Entre os diversos temas discutidos, Gandour conversou sobre como conciliar o jornalismo e o interesse dos donos dos jornais; sobre a mídia ninja; a importância da atuação do jornalista; a constante presença digital nos dias de hoje, entre outros assuntos.

Diferentemente de muitos outros que ocuparam as mesas durante a semana, o jornalista mostrou-se otimista quanto à profissão e seu futuro. Segundo ele, o profissional torna-se cada vez mais importante, porque estamos imersos em um período de grande riqueza informacional, principalmente com o advento da internet e, ao mesmo tempo, má educação para o consumo dessas informações. Na percepção de Gandour, o jornalismo claramente encontrará muitas dificuldades, mas a importância do profissional da área só tem a crescer, pois ele é, além de especialista em curadoria informacional, promotor da liberdade. Usando a frase de Carl Bernstein, “o jornalismo está relacionado com a permanente busca pela melhor versão possível da verdade”.

Falando sobre as mídias digitais, o jornalista comentou a mudança do perfil de mercado e sua percepção de uma homogeneização dos conteúdos. As pessoas não diferenciam textos puramente jornalísticos, como as reportagens, de textos opinativos, como os editoriais, além de não saber identificar o que é conteúdo jornalístico e o que é informe publicitário. Isso porque somos mal educados em relação a esta visão crítica. Gandour acredita que vivemos um momento de grande dispersão, até por parte dos próprios jornalistas, que perdem muitos detalhes das coberturas, enquanto permanecem conectados o tempo inteiro, sem o olhar atento ao que acontece a seu redor. “Olhar pela janela já dá cinco pautas”, disse, convicto de que os profissionais deveriam ser mais atentos a fim de criar textos mais recheados de informações.

Tangenciando um assunto polêmico, Ricardo Gandour proferiu a frase “o único patrimônio de uma publicação é a sua credibilidade”. Esta foi a resposta dada quando questionado até que ponto os interesses dos donos dos veículos podem interferir na produção de notícias. Ele complementou afirmando que já publicou uma matéria que ia contra os interesses dos anunciantes do veículo em que trabalha, sem especificar o caso. Pior do que uma informação que fira os interesses alheios é a perda da credibilidade, garantiu, pois, sem ela, nenhum meio de comunicação consegue manter o espaço que batalhou para obter e ocupar no mercado.

Para encerrar a conversa, respondeu à última pergunta, elaborada pela mediadora, dizendo que é contra a obrigatoriedade do diploma de jornalismo. Segundo Gandour, a obrigatoriedade de diploma para uma profissão que exige o exercício de atividades intelectuais é cerceadora.