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Crédito: Ingrid Matuoka

Crédito: Ingrid Matuoka

“Eu não sei se os repórteres que são bem sucedidos nas histórias que contam são os mais talentosos e brilhantes, mas tenho certeza de que são os mais persistentes, porque quando você bate à porta de uma grande história, você provavelmente vai ouvir um não muitas vezes”.

Aos 26 anos, o jornalista Guilherme Belarmino, acredita que a persistência é essencial para começar a carreira em uma redação. Casperiano formado em 2009, ele já trabalhou com grandes nomes da área, como Luís Nassif e Valmir Salaro. Desde o começo de 2014, integra a equipe do Profissão: Repórter, programa da TV Globo conduzido por Caco Barcellos.

Percebendo que poderia aliar sua aptidão em escrever sobre desigualdade, saúde, educação e segurança à vontade de transformar a sociedade, Guilherme decidiu cursar jornalismo. “Acho que é o que move a todos os estudantes de jornalismo, acreditar ter algo para contribuir, o que, na prática, descobre ser bem mais difícil”.

Em 2006, foi aceito na Faculdade Cásper Líbero e na Universidade do Estado de São Paulo, decidindo pela primeira por querer começar a trabalhar o quanto antes. “Na Cásper tive professores que de várias maneiras falaram sobre o que é jornalismo e qual é a importância do que a gente faz. O Celso Unzelte, por exemplo, me explicou muito sobre o repórter na rua e as primeiras dificuldades até conseguir seu espaço”.

Falando sobre esses obstáculos, Guilherme acredita que as faculdades de jornalismo têm muito a melhorar neste aspecto, porque deveriam preparar melhor os alunos para os problemas existentes em uma redação. Ainda assim, acredita que a graduação é uma ferramenta importante para fornecer a base necessária ao jornalista profissional. “Não fui o aluno mais esforçado, mas refleti muito sobre o que a gente faz. Os professores sugerem livros e toda uma bibliografia, mas, se você não tentar refletir, isso não vai te ajudar em quase nada”.

Passo a passo

Logo nas primeiras semanas de graduação, Guilherme começou a estagiar no site Agência Dinheiro Vivo, de Luís Nassif, em que falava sobre os problemas das áreas sociais e cobria políticas públicas, mostrando o porquê de elas não funcionarem. Depois, trabalhou no IG e na IT Mídia.

Na reta final da graduação, em 2009, Guilherme começou a estagiar no canal GloboNews na área de produção e na chefia de reportagem e posteriormente passou três meses na TV TEM Jundiaí, afiliada da Rede Globo. Após esse período, recebeu convite para voltar à Rede Globo como produtor do programa dominical Fantástico, onde passou mais de três anos.

Atualmente, no Profissão: Repórter, experimenta ser produtor, repórter e editor. Segundo o Casperiano, não há distinção clara entre os cargos na equipe. Muitas vezes ele mesmo produz e grava sua reportagem e depois edita a matéria. “É um lugar onde se tenta fazer um jornalismo diferente sob vários aspectos e tem sido muito produtivo para minha carreira fazer o processo inteiro. Não só pela autonomia, mas porque posso perceber as dificuldades de cada área e ampliar minha visão sobre o que é o fazer jornalístico”.

Além de atuar em diferentes frentes, Guilherme também tem a oportunidade de trabalhar com Caco Barcellos. “Ele tem uma visão diferente e peculiar em relação às outras pessoas, sempre assume a responsabilidade de contar o lado mais fraco da história. É muito sensível e consegue que os entrevistados contem suas histórias, assim como o Valmir Salaro, com quem trabalhei no Fantástico”.

Observar os dilemas da área jornalística em seus momentos mais tênues é, para Guilherme, a grande questão do jornalismo. “Quando você vai entrevistar alguém que cometeu um crime gravíssimo, é que percebe a importância do respeito, de não usar a reportagem para humilhar essa pessoa”.

Dificuldades e acertos

“Se tem uma coisa que quem está entrando agora no jornalismo tem que saber é que vai passar por muitos momentos difíceis. Quando as coisas dão certo, o jornalismo deve ser uma das profissões mais gratificantes do mundo. Só que o define se você será um bom repórter ou editor, é o comportamento nos momentos mais críticos”.

Um dos maiores obstáculos que enfrentou até agora foi ao lado de Valmir Salaro, cobrindo o caso de Kevin Espada, jovem de 14 anos, torcedor do time boliviano San José, que morreu após ser atingido por um sinalizador durante o jogo entre o time pelo qual torcia e o Corinthians, pela Copa Libertadores da América de 2013.

A partir de imagens que começaram a circular pela Internet, na qual uma pessoa específica teria sido autora do disparo, a dupla começou as apurações para descobrir quem era o suspeito e tentar entrar em contato com ele para uma entrevista, o que só conseguiram vinte horas antes do programa ir ao ar, no domingo. Como o suspeito era adolescente, poderia ser mais uma história de um adolescente assumindo a culpa por um adulto. No entanto, os jornalistas já tinham indícios de que não era esse o caso e decidiram entrevistá-lo para descobrir se havia realmente disparado o sinalizador.

A matéria foi ao ar no Fantástico e teve grande repercussão, levantando uma série de questões relacionadas aos colegas de profissão e ao público. “Naquele momento, ninguém acreditou o rapaz havia era autor do crime. Eu e o Valmir estávamos sozinhos nesse caso. Dar uma matéria que você considera relevante e tempo o público e outros profissionais não acreditarem, te faz refletir sobre qual é o limite para se obter uma informação e qual é o primeiro compromisso que se tem como jornalista?”.

Para Guilherme, havia o compromisso com Salaro, com a Rede Globo e, principalmente, com o público. No entanto, neste caso, ele notou algo diferente: “ficou claro que nosso compromisso não é com o público e sim com o fato, com o que realmente aconteceu”.

E o acerto vem para Guilherme quando sente que contribuiu para melhorar uma situação. Como exemplo ele cita reportagem, também exibida no Fantástico, sobre um caso em que a polícia alegava resistência seguida de morte quando, na verdade, havia sido uma execução: “estávamos produzindo uma matéria sobre os bastidores da “guerra” entre PM e PCC em 2012 no estado de São Paulo quando recebemos um vídeo que mostrava que os policiais tinham modificado a cena de um homicídio e não havia mais informações. Eu e outros produtores do Fantástico tivemos 24h para descobrir quem era a vítima, o suspeito e quais eram as circunstâncias”. O resultado: a versão oficial dos policiais foi refutada e eles, presos, ainda que mais tarde tenham conseguido liberdade.

Guilherme também produziu uma reportagem para o Profissão: Repórter sobre pessoas que estavam sendo removidas de suas casas por causa de obras para a realização dos jogos do Mundial de Futebol. A ideia surgiu em 2011, mas ele só conseguiu realizar a reportagem quatro anos depois, retratando a comunidade Loteamento São Francisco, que fica no município de Camaragibe, Pernambuco, e sofria o processo. “Pude contar, de modo humano e marcante, o que é uma pessoa ter que sair de sua casa em função de um evento de grande porte. Fui contra o que se informava no momento [a felicidade para parte do país, por sediar um Mundial]. Senti muito êxito ao mostrar o que não aparecia na grande imprensa e interferiu na vida de várias pessoas.”, afirma.

E é esse contentamento que move Guilherme: “acho que quem quer ser repórter tem que trabalhar com a satisfação pessoal de contar as histórias de uma maneira correta. Essa tem que ser a principal motivação, o resto é consequência”.

Ele também diz que desconfiar de tudo é importante para ser um repórter. “A gente ouve muito na faculdade que não existe verdade absoluta. Quando chegamos às redações, percebemos que não se tem o costume de lidar com a mentira. O repórter lida com mentiras e omissões o tempo todo, então cabe a ele se policiar para evitar erros.”.