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A Casperiana Laís Franklin, do coletivo AfriCásper; as ex-alunas Elioenai Paes e Amanda Martins; o ator e vocalista da banda Alfaya, Jairo Pereira; e, como mediadora do debate, a Profa. Bianca Santana | Crédito: Yuri Andreoli

“Para além do óbvio: artes e artistas negros” foi o tema escolhido para encerrar a Semana de Debates Raça, Resistência e Identidades na noite de quarta-feira (19). E, para fomentar a última discussão do bem sucedido evento, o currículo dos convidados da mesa era extenso. Tal fato ficou claro logo de início: a apresentação dos integrantes, por si só, já suscitou grandes reflexões nos espectadores.

Jairo Pereira poderia ser descrito como poeta e músico, em uma tentativa ínfima de resumir todas as suas atividades – já foi ganhador de concurso nacional de beleza negra, modelo, ator e é vocalista da banda Alfaya. Crescido em Suzano, era o único menino negro na única escola privada da cidade. Desnecessário dizer que sofria preconceito por sua cor, o que logo cedo o inspirou a escrever letras de rap.

O engajamento foi muito além e mudou de aspecto com o tempo. Jairo aprendeu a canalizar sua raiva para alcançar um número ainda maior de pessoas. Foi com esse gancho que o artista exibiu o vídeo “Seu cabelo”, parte do projeto “Alpiste de gente”, em que lê um poema sobre a beleza das madeixas das moças negras. A gravação teve 150 mil visualizações e, para ele, representa o “poder da poesia”. “Através da arte, é possível catalisar grandes mudanças”, conclui Jairo.

O microfone passa para as mãos de Elioenai Paes e Amanda Martins, ex-alunas da Faculdade Cásper Líbero. As casperianas voltaram à casa para mostrar o curta-metragem “Tons na música”, que produziram ainda durante a graduação. O vídeo foi um dos vencedores do concurso Curtas Universitários de 2014, promovido pelo Canal Futura, e traz os relatos de artistas negras no campo da música erudita.

A produção provoca os espectadores a pensar sobre o quanto o gênero pode ser de difícil acesso às populações mais pobres e os estigmas que associam os negros apenas a ritmos mais populares. Além de exporem seus pareceres sobre as fronteiras que a cor da pele impõe nessa área, Elioenai e Amanda incentivaram os estudantes a pensarem fora da caixa e aproveitarem as oportunidades que o campus oferece para explorar os assuntos mais inusitados.

A próxima integrante da mesa, sim, ainda é casperiana. Além de fazer parte do coletivo negro AfriCásper, Laís Franklin é bailarina da Escola de Dança de São Paulo. Trazendo consigo a experiência com o balé, a aluna conta que as dançarinas negras têm dificuldades em se adaptar aos padrões de corpo europeus e dificilmente são escolhidas para papéis principais em clássicos como “Cisne Negro”.

Mesmo assim, Laís ressalta a importância de iniciativas como a de sua escola para a inserção de negros nestas atividades culturais. Além de cursos livres abertos ao público, a instituição ministra o gratuito “Programa de Formação em Dança”, que dura nove anos e pretende desenvolver a vocação artística de jovens até que eles alcancem “o refinamento necessário para sua autonomia profissional”.

Escolhida para mediar a mesa, Bianca Santana não ficou para trás na hora de acrescentar experiências pessoais ao debate. Antiga aluna da Cásper Líbero, hoje leciona as disciplinas “Novas Tecnologias da Comunicação” e “Jornalismo Básico II” no curso de Jornalismo da Cásper e concilia a rotina entre os cuidados com os três filhos e suas contribuições ao Brasil Post, entre outros trabalhos no mundo jornalístico. Foi nos poucos intervalos dessa intensa rotina que nasceu o livro “Quando me descobri negra e outros relatos”, ainda em processo de publicação.

A professora falou sobre a obra e, em breves relatos, expôs a maneira com que alguns acontecimentos de sua vida pessoal fazem parte do contexto social de boa parte da população negra. Sua fala se estendeu a reflexões sobre o próprio processo de escrita e a dificuldade que Bianca teve em exteriorizar sentimentos que mantinha bem guardados dentro de si.

Após a merecida salva de palmas, foi a vez de o público dar voz às suas perguntas e inquietações. O Teatro Cásper Líbero se encheu, então, de considerações sobre as várias manifestações de preconceito racial no Brasil e a maneira com que os negros buscam se “adaptar” ao meio para chamarem menos atenção, alisando os cabelos ou se vestindo de maneira mais discreta, por exemplo. “Ninguém quer ser chamado de exótico”, argumenta Jairo.

Também entrou em questão qual a melhor maneira de construir um bom discurso ideológico sem apelar para o ódio. A citação da vez ficou novamente por conta do poeta: “Não lute com ódio… Você vai perder do seu oponente”. Em resposta a essa máxima, os próximos pareceres foram sobre as possíveis formas de incluir os negros na produção artística, seja facilitando o acesso das crianças carentes a cultura ou evidenciando o trabalho dos artistas negros que já existem.

A melhor conclusão para a noite – e para toda a Semana de Debates – surgiu, na verdade, nas considerações finais da professora Sônia Castino, citando Bertold Brecht: “nada deve parecer impossível de mudar”.