A diretora belga Agnès Varda conferiu ao seu trabalho atrás das câmeras três características, representadas por três palavras: inspiração, criação, compartilhamento. Em Varda por Agnès, ela não só explica esses três conceitos, mas também mostra como os utilizou durante toda sua trajetória cinematográfica, que é revisitada, sem ordem cronológica, durante o filme. O longa é conduzido por uma palestra recente de Agnès, que fala a uma plateia lotada em um teatro. Nessa conversa, a diretora relembra histórias de bastidores de sua carreira e mostra como conduziu a produção de sua obra, seja no cinema –com, por exemplo, Cleo das 5 às 7, Os renegados e As praias de Agnès –, seja nas artes visuais, com a exposição de batatas com formato de coração.
Num tom de ironia fina, Agnès não faz questão de esconder que, à medida que a sua palestra avança, começam a surgir algumas cadeiras vagas na plateia. Isso não parece abalar a diretora, que também não demonstra perturbação frente à proximidade do fim. Ela sabia que esse seria seu último trabalho e deixa claro que pretende fazer dele o seu filme-testamento. E uma aula na qual tem o desejo de pegar sua câmera e capturar algo que lhe chame a atenção, por mais banal que seja.