Tudo que é sólido desmancha no ar. Assim pode ser resumido o longa Varda por Agnès, última obra da cineasta belga Agnès Varda. Da batata em forma de coração que apodrece com o passar do tempo à imagem fixada num contêiner rapidamente levada pela maré alta, tudo é finito. O último projeto da diretora é norteado por esse tom de efemeridade. Se a morte certeira só se confirmaria depois, nada melhor do que (re)visitar sua obra em vida. Em seus trabalhos, a linha tênue entre documentário e ficção tornou-se marca registrada. Em sua vida, o olhar daquela que sempre preferiu a história dos outros à sua própria surge, agora, como um contraponto. É Agnes quem protagoniza o filme de sua vida. Nele cabe espaço para falar do filho, do ex-marido, do trabalho, do gato morto – que ganha um funeral porque toda vida merece um fim. A temporariedade das coisas é celebrada em Varda por Agnes, como se a própria cineasta soubesse o que lhe aconteceria. Como se a poesia surgisse do que é menos duradouro. De uma tempestade de areia.
Se duas horas são pouco para falar de uma mulher de 90 anos, o ritmo de sua obra, por momentos arrastada, dão a dimensão de uma trajetória gigante. Não é fácil ser mulher no cinema. É preciso querer sempre mais. E, para aqueles que não conhecem Varda, fica a sensação de algo perdido ali. A falta de saber mais de sua carreira ou a vontade de querer ver seus outros filmes, talvez. Em Varda por Agnes tudo é passageiro. Menos o trabalho da artista.