Agnés Varda revela sua personalidade em seu último filme. O título da obra, Varda par Agnès, indica a autoficção criada em tom de despedida: a pessoa Agnès narrando o trabalho de Varda. É um filme metalinguístico, como uma aula magna de cinema, que mostra trechos de conferências dadas pela cineasta intercalados com cenas de suas obras. Porém, quando se esperam grandes explicações sobre seus filmes, Varda surpreende ao dizer que nada é tão banal que não possa ser filmado. Tudo, mesmo as coisas simples do dia-a-dia, pode ser transformado pela subjetividade do olhar de Agnès.
Sua sensibilidade e os acasos da vida a transformaram numa cineasta única, que também se dedicou às artes plásticas, termo criticado, porque ela “não trabalha com plásticos”, diz, preferindo a expressão “artes visuais”. A trilha sonora e as cores são elementos muito expressivos no filme. Cores vivas são trocadas por tons neutros e pastéis em ocasiões mais melancólicas. Quando a narrativa parece ficar monótona, a música e os cortes entre as cenas ditam um ritmo mais dinâmico.
O desaparecimento de Varda em meio à tempestade de areia é a metáfora para a evanescência da vida. Nada mais banal. E subjetivo.