Era como se houvesse mais de duas pessoas debatendo na live pelo Instagram de Esquinas, na de terça-feira (9), entre Michelle Prazeres e Pedro Nogueira — ao menos no campo das ideias. A conversa sobre “Constatações de uma vida profissional digitalizada no ‘novo normal’” foi entre os dois docentes da Faculdade Cásper Líbero, mas também contou com uma série de outros autores invocados a participar do encontro promovido pelo Centro Interdisciplinar de Pesquisa.
Os primeiros “convidados-extras” foram o filósofo Pierre Lévy, precursor do conceito de cibercultura, e o pesquisador Henry Jenkins, com seus estudos sobre a cultura da convergência. Pedro citou Lévy para explicar que hoje o virtual é algo que tem a potência do real e que se pode simulá-lo em qualquer ambiente e situação, como na vida real. Pensar nas reuniões por videoconferência e nas salas de aula online é verificar o hibridismo que existe entre aquilo que chamamos comumente de “real” e virtual”, que na cibercultura são profundamente mesclados. E agora que muitas das nossas relações, estudos e trabalho estão mediadas por uma única tela e concentradas todas em um mesmo meio, a cultura da convergência de Jenkins atinge o seu ápice.
Por conta da pandemia tivemos convergir em uma “porrada”, analisou Pedro. Se antes havia discussões sobre se o home office e o ensino remoto seriam opções para o futuro, do dia para a noite eles viraram nossas únicas opções. De supetão, tivemos de nos levantar e vimos que tem muita coisa boa também. “Eu acho o Microsoft Teams uma ferramenta maravilhosa para o ensino, porque consigo saber em que ponto eu parei da aula anterior, gravar os encontros e deixá-los registrados e subir as tarefas por lá mesmo”, exemplificou.
Na segunda parte do bate-papo, sobre a sociedade em que vivemos, Pedro referenciou primeiro o sociólogo Stuart Hall, para dizer que nós não temos uma identidade única. Há, sim, diferentes grupos que enxergam e reagem ao mundo de formas muitos distintas e fazem desta pós-modernidade uma constante mutação. Portanto, não se pode pensar que haverá uma transformação na Humanidade como um todo depois da pandemia. Estamos correndo atrás de algo que não temos, insatisfeitos, inquietos e cansados. A bola da vez é o distanciamento social, mas no futuro a tendência, para Pedro, é a de que a mentalidade das pessoas volte a ser a mesma. E continuaremos a viver em uma “sociedade do cansaço”, como definiu o filósofo Byung-Chul Han, citado pelo professor.
Por isso pensar em um novo normal é uma “completa besteira”, para Pedro. Funciona como um conceito pop para a Globo, por exemplo, mas que não faz sentido se pensarmos em perspectiva. “As filas e aglomerações nas reaberturas que estão acontecendo pelo mundo, isso é o novo ‘normal’? Eu poderia chamá-lo de qualquer coisa, então, como ‘tricolor’, em homenagem ao meu time do coração”, provocou.
Na parte final da conversa, Pedro refletiu sobre a mudança em curso como muito mais uma questão de mediação da comunicação do que uma nova sociedade que se revela. E, no centro do debate, estão os algoritmos: são eles que definem a interação autor-rede, para o antropólogo Bruno Latour, e nos privam de algumas informações para nos mostrar outras. Se nas ruas somos nós quem escolhemos o que olhar e o que não olhar, os algoritmos fazem isso nas redes. Pedro alerta, não há como burlá-los: “Existe uma lógica e ela não é para o usuário, ela é comercial, é capitalista”.
Em suma, a internet continuará ditando as nossas interações neste momento e no depois, como já havia sendo antes da pandemia. E onde a comunicação entra nessa história? Para o professor, ela é fundamental. Não será por outro meio que se aprenderá a viver neste tal “novo normal”, “tricolor” ou o nome que você preferir.
As conversas sobre o futuro da comunicação pós-pandemia continuam neste segundo ciclo de lives sobre “O futuro da comunicação pós-pandemia” no Instagram da Revista Esquinas. A iniciativa é uma parceria do CIP com o Núcleo Editorial da Cásper Líbero para a produção de lives com professores da Faculdade sobre temas relevantes relacionados às suas áreas de atuação, buscando compreender o cenário da comunicação diante dos desafios apresentados pela pandemia do novo coronavírus. O próximo convidado será Eduardo Nunomura, que falará sobre a “Algoritmização da vida”. O encontro está marcado para segunda-feira, 15 de junho, às 18h.