“Jornalismo não se ensina. Jornalismo se faz com quatro verbos: ver, ler, ouvir e contar.” Essa foi a receita que o jornalista Clóvis Rossi passou para os estudantes da Cásper Líbero durante a palestra “Correspondente internacional – atuação e carreira”, que aconteceu no dia 19 de junho.
O jornalista foi enviado especial durante muito tempo e teve a oportunidade de conhecer os cinco continentes realizando coberturas. Além disso, participou de momentos históricos, como a queda do Muro de Berlim, em 1989, e o Golpe Militar no Chile, em 1973. “Correspondente é a melhor função que se pode exercer no jornalismo. Você pode olhar o bosque inteiro, e não apenas as árvores.” Ele aponta que quando os repórteres atuam no Brasil, acabam focando em apenas uma editoria, mas quando se trabalho no exterior é preciso entender um pouco de tudo, de política, economia e cultura.
E qual a diferença entre o trabalho de um correspondente e o de um enviado especial? “O correspondente já está no país há mais tempo, e consegue acrescentar algo mais à matéria, além de ter mais facilidade de construir fontes, pois fica permanentemente no local. Já o enviado especial chega ao país de repente e fica pouco tempo, e tem menos tempo de se aprofundar”. Clóvis Rossi afirma que para ser um correspondente internacional é preciso se preparar muito e uma das maneiras é ler diariamente a mídia internacional. “O essencial é se informar muito antes de ir para um país – até mesmo para evitar cair em alguma armadilha.”
Ultimamente as empresas de comunicação têm obtido informações do exterior através das agências de notícias, como a mais famosa delas, a Reuters. Mas qual a grande vantagem de ter um correspondente do veículo em determinado país? “O jornalista vai dar um olhar brasileiro para a matéria, diferente das matérias das agências que são uniformes e distribuídas para todos os lugares do mundo”. Recentes demissões coletivas em veículos de comunicação como os jornais Folha de S.Paulo, Estado de S. Paulo e Valor Econômico, o Grupo Abril, as TVs Record e RedeTV! e portais online como o Terra, preocupam profissionais já formados e ainda mais os estudante de que logo entrarão no mercado. Assim, qual será o futuro do correspondente internacional? “Uma coisa interessante de se notar é que as últimas demissões da Folha e do Estadão não cortaram correspondentes”, aponta Rossi. Pelo fato de a televisão depender muito da imagem e de ser importante para a emissora que apareça o logo no país em que o repórter esteja, o jornalista acredita que ainda há um futuro promissor para correspondentes na televisão, mais do que no impresso.
Apesar de ter trabalhado na Argentina durante a ditadura militar e ter coberto guerras como a das Malvinas, em 1982, e a do Golfo, em 1991, Clóvis Rossi diz que a cobertura mais difícil que realizou foi aqui mesmo, no Brasil, durante a morte de Tancredo Neves. “Eu não gosto de trabalhar com coisas que eu não posso ver, pois deixo de exercitar um dos verbos. Assim, foi uma cobertura muito difícil, pois não se tinha certeza de nada o que acontecia e eu precisava voltar com as informações para o jornal ser fechado”.
Para trabalhar como repórter fora do país, é importante ter o domínio da língua local. “Saber falar inglês e espanhol é fundamental. Mas é um grande diferencial saber falar a língua do país em que se está trabalhando.” Ele conta que durante uma matéria que fez no Japão precisou que uma tradutora lhe dissesse o que entrevistado falava. E a experiência não foi muito boa: “A tradutora não falava tudo o que o entrevistado dizia e, por conta disso, não apontava as aspas que eu queria focar”.
Por conta da fluência na língua espanhola, o jornalista conta que vários veículos de países latino-americanos, principalmente algumas rádios da Argentina, têm o procurado para comentar a respeito das manifestações que têm ocorrido no Brasil. E o que os nossos vizinhos acham que está acontecendo por aqui? “Eles estão perplexos, pois a coisa que mais estava presente é a de que o Brasil tinha uma história de sucesso nos últimos anos. Assim, porque está tendo tantas manifestações?” Ele afirma que eles ainda não entendem como que no país do futebol haja protestos contra a Copa do Mundo: “Não é contra a Copa que protestamos, e sim contra os gastos na Copa”. De acordo com Clóvis Rossi, a imagem do Brasil está mudando lá fora nos últimos anos. “Eles não entendem o que está acontecendo agora por aqui. Mas nem nós estamos conseguindo entender direito. Só o tempo vai nos dizer.”