Na segunda noite de palestras da 21ª Semana de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero, quatro mesas organizadas pela Frente Feminista Casperiana Lisandra em parceria com o Centro de Eventos e o Centro Acadêmico Vladmir Herzog abordaram temas relacionados ao feminismo e seu contexto dentro das publicações jornalísticas. Entre elas, as revistas masculinas foram tema de um desses debates, mediado pelo professor Carlos Costa, coordenador do Curso de Jornalismo da Cásper, e que em sua trajetória dirigiu revistas como Playboy, o guia do bacana, e Quatro Rodas.
O foco da discussão se centrou no atual formato das publicações masculinas e como elas, em certa medida, contribuem para a perpetuação de estereótipos machistas na sociedade. Os convidados à mesa foram Ricardo Lombardi, diretor de redação da revista VIP; Maurício Barros, diretor de redação de PLACAR; Ivan Padilha, redator-chefe da GQ, da Globo Conde Nast; e Fel Mendes, redator-chefe da revista Sexy.
Entre os temas abordados estiveram a dificuldade de se fazer jornalismo para um público que se relaciona com as revistas de forma mais cética e descompromissada que as leitoras das publicações femininas; e a incompatibilidade de, atualmente, escrever matérias de conteúdo marcadamente sexista, como ressaltou o jornalista Ricardo Lombardi: “Não dá pra fazer uma revista masculina machista em 2013, desconectada do mundo. Temos um cenário em que a mulher se coloca numa posição bastante interessante e o homem tem de acompanhar isso”.
Não cabe mais fazer uma revista para um homem ogro, por que ele não existe mais, substituído por um parceiro mais sensível e atento. Justamente por se dirigir a um homem mais antenado, o papel da revista é antecipar tendências, apresentar sugestões de moda menos clássica, em que o homem se sinta integrando uma contemporaneidade de acessórios, roupas, modos de vestir, de atuar e de se apresentar.
Também foi levantada a questão do tratamento de imagens e a representação da mulher como objeto de prazer masculino. Temas que estão mais ligados ao que essas publicações produziam nos anos 1980 e 1990 – uma realidade que não existe mais, garante Lombardi.
Apesar das mudanças pelas quais a sociedade passa e, consequentemente, os homens, Ricardo Lombardi acredita que o DNA das revistas masculinas continua o mesmo, o que muda é a maneira com a qual cada publicação dialoga com esse homem contemporâneo, que cuida da casa, dos filhos, trabalha e procura um momento no qual “ele se relaciona consigo mesmo e não com o mundo”. Fel Mendes também avaliou essa questão: ”A gente já sabe com quem a gente fala. Existe uma realimentação desse estereótipo? Talvez exista, mas a sacada é tentar fugir disso. Existe também um senso crítico, o leitor não assimila tudo assim”.
Todos os convidados concordaram que a liberdade de criação dentro das revistas de público majoritariamente masculino é maior, pois o homem não tem a mesma vontade de buscar nas matérias que lê “um guia” ou um conjunto de receitas, como muitas das revistas para mulheres. “Para ele é uma leitura e só. Claro que vamos ter os temas de sempre – carros, whisky, cachaça, barba, relógios e fitness – o que muda é o viés”.
Relacionando essa dinâmica entre mercado e prática jornalística, Maurício Barros afirmou ser a função do jornalista atentar a essas questões do homem e da mulher na sociedade, aprofundando-as e pautando de modo a contribuir, oferecendo informação capaz de auxiliar na formação de opinião. Ivan Padilla, da GQ, seguindo na mesma linha de raciocínio, completou acrescentando que cada revista tem um pouco de função tutorial, ensinando modos de vida e de estilo, juntamente com as notícias e as fotos que publica.