Nos dias 21 e 22 de junho, pesquisadores da Faculdade Cásper Líbero e de instituições de ensino parceiras se reuniram para debater as obras do filósofo sul-coreano Byung-Chul Han e suas perspectivas para os estudos das teorias da comunicação. Os encontros foram transmitidos ao vivo pelo canal da Cásper no YouTube.
Com o nome “Diálogos Emergentes na Comunicação”, o evento foi organizado pelo Prof. Dr. Carlos Eduardo, pela Profa. Dra. Carolina Terra e pela Profa. Dra. Michelle Prazeres, todos docentes da graduação e da pós-graduação da Cásper Líbero.

Primeira noite de diálogos

No primeiro dia, com mediação do Prof. Dr. Luís Mauro Sá Martino, o trio de organizadores se reuniu com o Prof. Dr. Rodrigo Daniel Sanches, atualmente realizando a sua pesquisa de pós-doutorado na Cásper.
A tônica foi a de aproximar a leitura das obras de Han dos objetos de pesquisa de cada docente. Na abertura, o Prof. Dr. Luís Mauro ressaltou que a obra de Byung Chul-Han é “polêmica” e “provocadora” e complementou: “hoje é o dia de afiar o pensamento crítico, da gente pensar o contemporâneo, pensar o social e, sobretudo, pensar a comunicação mediada pelo contemporâneo e mediada pelo social”.
O Prof. Dr. Carlos Eduardo elucidou a contribuição do pensamento de Heidegger na obra de Han. Fez uma breve análise sobre a tecnologia como estruturante do contexto observado pelo filósofo sul-coreano. Explicitou o quanto, em nossa sociedade, a tecnologia é utilizada para “desvelar a natureza como fonte de energia”. O resultado não é o “paraíso na Terra, mas um caminho de devastação do planeta e de seus indivíduos”.
Na sequência, a Profa. Dra. Carolina Terra apresentou uma curadoria das obras de Han que podem contribuir para os estudos da Comunicação Organizacional. Discorreu sobre a privatização da comunicação, o digital como compulsório, o diálogo de “No Enxame” com a cultura do cancelamento, a transparência a que todos (organizações e indivíduos) estão submetidos, o imediatismo e a cultura do curtir.
A Profa. Dra. Michelle Prazeres trouxe para a discussão temas abordados por Han e que são caros para um de seus principais objetos de pesquisa, a aceleração social do tempo. Para isso, apresentou as intersecções com as obras: Sociedade do Cansaço, Sociedade da Transparência, A Agonia de Eros e Favor fechar os olhos.
Por fim, o Prof. Dr. Rodrigo Daniel Sanches aproveitou os temas abordados para relacioná-los a seu objeto de pesquisa no pós-doutorado da Cásper. Sanches utilizou a leitura de Han para analisar os efeitos da estética do liso na imagem corporal feminina e encerrou a sua apresentação com um questionamento para todos presentes: você prefere a lisura virtual ou a rugosidade da realidade?
Com o fim das apresentações, a audiência pode fazer questionamentos para os debatedores e considerações finais foram tecidas pelos pesquisadores e pelo mediador. O Prof. Luís Mauro, ao encerrar a primeira noite de debates, elogiou os pesquisadores presentes. “Admiro muito esse exercício, que vocês fizeram, de sintetizar com profundidade”, concluiu Martino.

Segunda noite do evento

O segundo dia de diálogos foi mediado pela Profa. Dra. Marli dos Santos, coordenadora do programa de mestrado da Cásper Líbero. O Prof. Dr. Carlos Eduardo e o Prof. Dr. Liráucio Girardi Junior, docentes do programa, foram acompanhados pela Profa. Dra. Daniela Osvald, professora da USP e pesquisadora membro do grupo de pesquisa COM+ da Escola de Comunicações e Artes, da mesma instituição.
Abrindo a discussão, a Profa. Dra. Elizabeth Saad, professora titular sênior da ECA-USP e coordenadora do grupo de pesquisa COM+, enviou um vídeo de sua apresentação para iniciar a segunda noite de diálogos. Saad discorreu sobre a obra de Han e a comunicação em uma sociedade “feliz” e “positiva”. Por fim, a pesquisadora deixou dois questionamentos para os debatedores da noite: qual o papel do comunicador, um mediador nato, em uma sociedade que estimula performance, desempenho e monetização? Qual o papel da comunicação e dos estudos do campo para retirar as aspas do “feliz” e “positiva”?
Na sequência, a Profa. Dra. Daniela Osvald, que já integrou o corpo docente da Faculdade Cásper Líbero, dissertou sobre o Jornalismo e descronicidade a partir da leitura de Han. Ressaltou que a aceleração do tempo coloca o fazer jornalístico em um contexto de destemporalização, citando Giddens e Sidarta Ribeiro para construir sua análise. Por fim, apresentou brevemente o artigo “Uma perspectiva histórica da temporalidade no jornalismo e formatos contemporâneos: não-lugares e descronicidade”, do qual é coautora junto com o pesquisador Gabriel Rizzo Hoewell.
O Prof. Dr. Liráucio Girardi Junior reforçou que a obra de Han o incomoda em certos aspectos, “mas diante de um mundo marcado pela positividade, ela (a obra de Han) é marcada pela negatividade”. Em sua exposição, o pesquisador ainda enumerou os sintomas da sociedade neoliberal criticada pelo filósofo sul-coreano, são eles: a pressão pelo desempenho, a otimização de todos os aspectos da vida, transparência total, desinteriorização/exteriorização da nossa vida, o excesso de positividade e o controle dos indivíduos em um mundo pós-marxista.
Por fim, encerrando o ciclo de apresentações, o Prof. Dr. Carlos Eduardo trouxe para o evento uma discussão sobre a obsolescência das sociedades disciplinares. Em diálogo com Saad, Osvald e Girardi, o pesquisador discorreu sobre a crise da modernidade e o dinamismo da cultura digital que, de uma certa forma, “forja um ambiente em que a disciplina e a obediência se tornam obsoletas e desnecessárias”. A sociedade do desempenho, observada por Han, seria, neste sentido, um aperfeiçoamento da sociedade da disciplina.
Como na primeira noite de diálogos, após a apresentação dos palestrantes, a audiência pode trazer questionamentos para o debate, que foram respondidos por todos os pesquisadores presentes. No encerramento, a mediadora Profa. Dra. Marli dos Santos agradeceu a todos os professores e pesquisadores que participaram das duas noites de diálogo. A coordenadora do programa de mestrado ainda reforçou a importância de trazer para a baila obras e pensadores que nos auxiliem a “pensar o campo como resistência, promovendo a reflexão, mas ao mesmo tempo pensar em caminhos e brechas” para uma prática da comunicação que seja de enfrentamento diante da sociedade do desempenho. Por fim, ciente do caráter crítico – para alguns até pessimista – de Han em suas obras, encerrou com esperança: “eu acredito nas brechas, eu sei que elas existem, e eu acho que a gente, como comunicador, precisa pensar nisso”.
Os dois dias de apresentações e debates estão disponíveis no YouTube da Faculdade Cásper Líbero e podem ser assistidos pelos links: primeira noite https://youtu.be/YRq7nDV1uCg, segunda noite https://youtu.be/t_P7j772Jbc.