Por Lucas Valença, estagiário do Núcleo de Mídias Digitais.
A relação entre fãs e ídolos vai muito além do simples consumo de conteúdo. Hoje, os fãs desempenham um papel essencial na dinâmica da indústria cultural, influenciando diretamente as decisões criativas e o sucesso de obras e artistas. Seja através de campanhas nas redes sociais ou do fanservice, a influência dos fãs cresceu a ponto de moldar diretamente as estratégias de produção na indústria.
Alguns dos maiores fandoms do mundo, como os de Harry Potter, Star Wars e BTS, mostram como as comunidades de fãs são fundamentais para manter viva a relevância de obras e artistas, mesmo anos após seus lançamentos. Além de consumir produtos oficiais, os fãs criam conteúdos derivados, como fanfics e fanarts, alimentando a comunidade com novas narrativas e perspectivas da obra. Essa participação ativa muitas vezes prolonga a fama de uma franquia, fazendo com que os produtos culturais permaneçam relevantes por mais tempo.
Pedro Curi, doutor em Comunicação pelo PPGCOM-UFF e especialista em cultura dos fãs, destaca que esse envolvimento dos fãs é essencial para manter uma conexão duradoura com as franquias:
“Nos intervalos entre lançamentos, os fãs se apropriam do universo da obra, criando suas próprias narrativas para manter o mundo que amam vivo e vibrante. Essa produção de conteúdo paralelo permite que o fã se conecte ainda mais à obra, mantendo-a sempre em evidência e cativando novos públicos.”
Isso é evidente entre os fãs de Harry Potter, que mantêm sua comunidade ativa através de eventos e criações digitais, conforme analisado pelo SciELO.
Além do impacto criativo, os fãs exercem uma influência comercial inegável sobre a indústria cultural. Fandoms organizam mutirões de compra e impulsionam a venda de produtos, se tornando parte essencial do sucesso financeiro de artistas e obras. Um caso de grande destaque é o do grupo de K-pop BTS, cujos fãs, conhecidos como ARMY, coordenam campanhas globais para impulsionar as vendas de álbuns, visualizar vídeos no YouTube e votar em prêmios internacionais.
Essa mobilização demonstra o poder econômico dos fãs. Eles não apenas consomem os produtos, mas também atuam como uma espécie de “agentes de marketing”, promovendo o conteúdo e subindo a receita da obra. Um estudo divulgado pelo Hyundai Research Institute, apontou o impacto econômico do BTS estimado em mais de US$ 5 bilhões para a economia local. Isso reflete como o engajamento dos fãs pode extrapolar os limites da cultura pop e gerar valor econômico em escala global.
Pedro também observa que a falta desse engajamento gera uma “desconexão” quando a narrativa oficial se torna muito intensa e não dá espaço para a criatividade:
“Quando os estúdios lançam conteúdos continuamente, como no caso da Marvel, o espaço para que os fãs criem suas próprias teorias e histórias se perde. Isso acaba impactando o fandom, que deixa de interagir com a mesma intensidade e perde a chance de sentir que participa do universo da obra.”
À medida que o papel dos fãs na indústria cultural cresce, produtores e artistas, por sua vez, precisam cada vez mais se adaptar às demandas desse público. Assim, manter um diálogo aberto com as comunidades de fãs e, além disso, juntar suas expectativas nas decisões criativas são estratégias importantes para garantir o sucesso contínuo. Em muitos casos, o fanservice — a inclusão de elementos direcionados especificamente aos fãs — é um recurso amplamente utilizado. Isso não só agrada o público fiel, mas também mantém sua lealdade e engajamento.
Luis Mauro Sá Martino, jornalista, professor da Cásper Líbero e Doutor em Ciências Sociais pela PUC-SP, destaca que a experiência de ser fã é, em grande parte, um processo de criação de identidade pessoal e comunitária.
“Ser fã, de maneira bem resumida, pode envolver um processo de identificação (‘nossa, essa pessoa tem muita coisa em comum comigo’) e de projeção (‘gostaria de ser assim como ela em alguns aspectos’). E participar de um fandom pode significar também se sentir parte de uma comunidade, ponto importante na criação de nossa identidade.”
Esse sentimento de pertencimento contribui para a lealdade dos fãs e molda o sucesso das obras a longo prazo, especialmente quando o engajamento é constante.
Por exemplo, na franquia Star Wars, as produções mais recentes incluíram referências diretas à trilogia original, trazendo de volta personagens icônicos e cenas nostálgicas. Com isso, os produtores conseguiram atrair não apenas novos públicos, mas também manter o interesse dos fãs de longa data. No entanto, a indústria enfrenta o desafio de, ao mesmo tempo, equilibrar essas demandas e preservar a criatividade das produções.
Conforme a tecnologia continua avançando e as redes sociais se tornam ainda mais presentes no nosso cotidiano, é cada vez mais provável que os fãs assumam um papel mais ativo. Assim, eles contribuirão não apenas no consumo de conteúdos, mas também na sua produção.
Os fãs não apenas consomem, mas também moldam o futuro da indústria cultural, influenciando diretamente decisões criativas e comerciais. Profissionais da comunicação, preparados para entender essas dinâmicas, são cada vez mais essenciais para o mercado. Na Cásper, você aprende a atuar de forma inovadora no cenário da cultura digital e da comunicação. Inscreva-se no vestibular e faça parte dessa transformação!