No contexto de produtividade e criação de conteúdos em excesso, o surgimento de ideias inovadoras é fundamental tanto no âmbito pessoal, quanto no profissional. Nesse sentido, a criatividade permite formas de expressão individuais atreladas à resolução de problemas, ao pensamento crítico e à sugestão de novos projetos. O segredo de um processo criativo proveitoso está em atividades simples do cotidiano, como ler, meditar ou dormir, práticas relacionadas a um estado de relaxamento pouco valorizado em nossa sociedade: o ócio.

Diante do cenário de aceleração do tempo, fenômeno impulsionado pela tecnologia e as redes sociais, a noção de rendimento do trabalho transformou-se com a produtividade tóxica. Assim, a disseminação de discursos sobre a necessidade de produção constante impactou diretamente a criatividade, afastando as pessoas de ideias autorais.

O novo episódio do Central 900, apresentado pela jornalista casperiana Marina Orfali, traz a criatividade e como esta se comporta na era da inovação. Para complementar a conversa, o episódio conta com a participação de Michelle Prazeres, professora da Cásper Líbero e fundadora do Instituto Desacerela, Jeska Grecco e Samir Duarte, publicitários e criadores de conteúdo.

A lógica do rendimento: a visão da criatividade na cultura da produtividade tóxica

O avanço tecnológico trouxe mudanças na realização de tarefas, ao agilizar e automatizar processos produtivos. Rapidamente, a aceleração social do tempo transformou a percepção humana sobre a cronologia, normalizando a constância da alta performance e, consequentemente, a produtividade tóxica.

Este conceito refere-se à fixação por manter-se produtivo a todo momento, mesmo quando não há atividades a serem desempenhadas. Dessa maneira, observou-se a popularização de discursos sobre a valorização de indivíduos multitarefas e que superlotam as suas agendas, transmitindo a falsa ideia de produtividade.

No entanto, diferentemente deste pensamento, a pressão por um alto rendimento é responsável pelo esgotamento físico e mental de pessoas. De acordo com a Universidade de Stanford, realizar inúmeras tarefas ao mesmo tempo pode ser 40% menos produtivo do que realizá-las separadamente. Para Michelle Prazeres, o discurso da produtividade também afeta a criatividade, ao desnaturalizar o processo criativo e inseri-lo na lógica do “empreendedorismo da criatividade”.

“Na cultura da produtividade tóxica, as pessoas precisam ter o desempenho de máquina até para serem criativas (…). A produtividade tóxica é a aniquiladora da criatividade”, afirma a professora sobre como a sociedade lida com a criatividade no contexto de aceleração social do tempo.

Ultrapassando o âmbito profissional, a produtividade tóxica também exige o destaque e a alta performance no dia a dia das pessoas. Inseridas no cotidiano social, as redes sociais são afetadas pela produtividade tóxica ao incentivar que indivíduos produzam conteúdos em excesso, com a falsa promessa de se diferenciarem uns dos outros e conquistarem sucesso na internet. Logo, as mídias digitais têm contribuído, em parte, para a intensificação desse fenômeno.

Entre a criação e a reprodução: como as redes sociais impactam a criatividade?

Quais ideias deveriam ser mais valorizadas na produção de conteúdos: autorais ou reproduzidas? A criatividade pode ser uma aliada na produção de conteúdos para as redes sociais, ao encorajar os usuários a explorar novos formatos midiáticos, sugerir novas ideias e criar identidades individuais nestes ambientes. Contudo, as plataformas contradizem a lógica criativa, ao estimular a repetição de padrões nas postagens.

Encontrando-se entre os principais meios de comunicação modernos, as mídias digitais influenciam os usuários podendo, ou não, ditar o comportamento destes. Nesse sentido, as plataformas estimulam o público a produzir conteúdos novos para ganhar notoriedade, quando na prática o algoritmo não reconhece esse sistema. Assim, com o objetivo de gerar engajamento nas redes sociais, o algoritmo incentiva a reprodução de padrões, como as trends, diminuindo a criatividade dos usuários.

“Você precisa ser produtivo e criativo em um ambiente que não quer novidades sempre, porque o que funciona são as fórmulas. (…) é replicar o conteúdo de outra pessoa e chamar de trend”, comenta Jeska acerca da produção de conteúdos criativos nas redes sociais.

Samir Duarte defende que a criatividade é um processo técnico que reúne as referências e visões de mundo de cada indivíduo, assim como o tempo necessário para a conclusão do processo. Para ele, a quantidade de informações nas redes sociais e a aceleração do tempo nestes ambientes não permitem que os usuários explorem o seu lado criativo:

“Não estamos pensando por nós mesmos, apenas consumindo o que nos é oferecido em nosso feed”, ressalta o publicitário.

Nesse sentido, o excesso de conteúdos nos ambientes digitais estimula a infoxicação. De acordo com um estudo publicado no periódico Marketing Theory, a quantidade de informações presentes nas redes sociais é responsável por “retirar” o sentimento provocador da criatividade, a inquietação, diminuindo o surgimento de novas ideias.

Apesar de a criatividade enfrentar barreiras no universo digital, a tecnologia também é uma aliada para oferecer insights, contribuindo para o desenvolvimento de novos projetos.

É possível ser criativo e utilizar a inteligência artificial ao mesmo tempo?

Além das redes sociais, tecnologias como a inteligência artificial afetam diretamente a criatividade humana. Ainda que existam discussões sobre os prós e contras do uso da IA, estas ferramentas podem contribuir para otimizar o processo criativo.

Alguns estudiosos, como a professora Michelle Prazeres, questionam a produção de conteúdos criados essencialmente pela inteligência artificial, visto que a sua origem está atrelada à elaboração de prompts pouco desenvolvidos. Para ela, além de os prompts não estimularem a criatividade a fundo, a IA produz materiais com informações encontradas em bancos de dados, ou seja, repetidas.

“O conjunto de referências é relativamente fechado, então você vai produzindo conteúdos baseados na repetição”, explica a professora da Cásper.

Apesar de a tecnologia apresentar ressalvas quanto à sua influência na criatividade, a inteligência artificial também pode contribuir para dinamizar a produção de conteúdos. Desse modo, a IA colabora para oferecer insights e superar bloqueios criativos, assim como agilizar a realização de tarefas.

De acordo com Jeska, as ferramentas de inteligência artificial podem auxiliar no processo criativo, desde que estejam sob a supervisão humana.

“Acredito que possa ser uma ferramenta bacana para nos ajudar com a criatividade. (…) devemos encontrar maneiras de tornar a IA um facilitador do nosso trabalho”, conclui a publicitária e criadora de conteúdo.

Com o objetivo de discutir a criatividade, o Central 900 mostra a influência da produtividade tóxica e da tecnologia no processo criativo! Confira mais sobre essa conversa, assistindo ao episódio na íntegra:

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