A jornalista Helle Alves terá vida contada em documentário
Crédito: Thaís Helena Reis

O documentário “Eu Vi” (Yo Vi), co-dirigido por um Casperiano, está concorrendo a uma premiação no Daroca&Prisión Film Fest. Acesse o site do Festival e deixe o seu voto: http://www.festivalcinedaroca.com/cortos/eu-vi-yo-vi/

Helle Alves é uma referência na imprensa paulista, conhecida na profissão por ter feito a cobertura da morte de Che Guevara, num furo internacional. Muito do que será contado aqui é retirado do relato de sua biógrafa Regina Helena de Paiva Ramos, no belo livro Mulheres jornalistas, a grande invasão, editado pela Cásper Líbero em parceria com a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo.

Passamos a palavra para Regina Helena:

José Hamilton Ribeiro, no seu Jornalistas – de 1937 a 1997, conta que o Diário de São Paulo pretendia mandar para a Bolívia uma de duas repórteres: Neusa Pinheiro ou Helle Alves. Resolveram no sorteio e Helle venceu.

A missão era cobrir em Camiri o julgamento de Régis Debray, um evento internacional com mais de duzentos jornalistas de todo o mundo – filósofo, jornalista e escritor francês engajado, Debray foi preso na Bolívia participando de movimentos revolucionários. Tudo começou quando, por medidas de economia, Helle e o fotógrafo Antônio Moura foram orientados a descer em Santa Cruz de la Sierra e não em La Paz. Essa parada em Santa Cruz acabou fazendo a diferença entre eles e os duzentos jornalistas que tinham ido para La Paz e Camiri. No meio do caminho, explodiu a bomba da prisão e morte de Guevara, e Helle estava ali ao lado, em Valle Grande, pois “intuíra” que Ernesto seria preso.

Em seu relato a José Hamilton, Helle conta que logo “pintou” o helicóptero do Exército. Trazia na parte de dentro o corpo de soldados bolivianos mortos em ação e na, parte de fora, amarrado na pata do helicóptero, como um fardo, o corpo quase nu de Ernesto Che Guevara: “Aquilo foi de arrepiar”. As imagens da reportagem de Helle, produzidas pelo fotógrafo Antônio Moura, circularam pelo mundo.

Nascida em 7 de dezembro de 1926, Helle entrou para o jornalismo em 1943, ficou alguns anos, saiu da profissão e só retornou em 1959. Filha de um engenheiro carioca que morreu tuberculoso muito cedo, ela nasceu em Minas Gerais, onde o pai fora tentar a cura. Irmã de Vida Alves, atriz de televisão famosa por ter dado o primeiro beijo na telinha, Helle e os irmãos tiveram uma educação primorosa dada pelo pai, que chegou a fazer uma cartilha especial para ela aprender a ler. Após a morte do pai a família mudou-se para São Paulo.

Seu primeiro emprego foi em 1946, num jornal chamado Rádio Lar, que cobria os acontecimentos do rádio paulista. Depois foi funcionária da Assembleia Legislativa. Casou em 1949, teve dois filhos, separou-se e foi morar com a mãe, que a ajudou a criá-los.

A volta para o jornalismo aconteceu em 1959, quando entrou para os Diários Associados. Mesmo trabalhando nos Diários, continuava, à noite, na Assembleia Legislativa e ainda fazia a produção de um programa de debates que Vida Alves apresentava na televisão, Vida convida. Produzia também um programa de literatura na Rádio Piratininga, que durava cinco minutos diários. “Cheguei a ter dois empregos e três bicos”, conta Helle, sempre seguindo o relato de Regina Helena.

A história de Helle Alves e de seu furo internacional sobre a morte de Che Guevara se transformou num documentário dirigido por Fabio Eitelberg, Patrick Torres e Pedro Biava. A última gravação dessa produção aconteceu no dia 30 de outubro, no Estúdio de Televisão 2 da Faculdade Cásper Líbero. Helle Alves, hoje com 87 anos e 75 anos de carreira, foi personagem do documentário.

Ynae Moura, filha de Antônio, autorizou que o diretor do documentário, o casperiano Fábio Eitelberg, utilizasse os negativos originais das fotos do corpo de Che. Segundo Helle, o guerrilheiro “parecia Cristo, ele estava com os olhos abertos e dava a impressão de ainda estar vivo”. Os dois parceiros, juntamente com Walter Gianello, do jornal O Estado de S. Paulo, foram alguns dos poucos membros da imprensa internacional a cobrirem o evento. Helle seguiu sua intuição e deixou de lado a cobertura do julgamento do jornalista francês Régis Debray.

Atualmente residindo em Santos, Helle se dedica aos idosos. E sempre recebe estudantes que a procuram para fazer trabalhos de TCC. Ela garante ter se tornado jornalista por compulsão: “Comecei a trabalhar aos 15 anos no jornalismo, desde então não parei”. E ainda brinca que em sua época o “tio Google” não existia e que o jornalismo se fazia na rua.

Durante a gravação no estúdio da faculdade, as fotografias de Antônio Moura foram projetadas em um fundo branco, às costas de dona Helle e lhe trouxeram boas recordações: “Independentemente do documentário, obrigada, Fábio, por me fazer viver esse momento”.

Fábio Eitelberg já soma alguns prêmios e muitos documentários em sua carreira. Ganhou o Prêmio Bravo 2010 na categora Arte pelo filme Noel Rosa da Silva, homenagem ao poeta da Vila Isabel, e seu curta-metragem Luiz Poeta é uma obra-prima. O ex-aluno prometeu lançar seu documentário sobre Helle Alves no teatro da Cásper Líbero, quando o trabalho for finalizado.