Na noite do penúltimo e na manhã do último dia desta 21ª Semana do Jornalismo da Cásper Líbero, a mesa, comandada pelo professor de Telejornalismo, Silvio Henrique Barbosa, discutiu a trajetória da TV Manchete. A conversa foi precedida pelo documentário Aconteceu, virou manchete!, resgatando os principais momentos históricos da emissora, narrados pelos próprios personagens que dela participaram.
Neste ano, a TV Manchete completaria 30 anos e o documentário é o primeiro registro audiovisual sobre a trajetória de uma das melhores redes de televisão do Brasil. A obra, dirigida por Fernando Borges, traz imagens do arquivo da Manchete, vinhetas, entrevistas com ex-funcionários da emissora e um pot-pourri de reportagens produzidas e emitidas ao longo de sua existência.
Depois de os alunos terem assistido ao documentário, Barbosa apresentou os quatro convidados e passou o microfone para o primeiro deles: Carlos Bighetti. Casperiano com passagem na TV Gazeta, Bighetti, que trabalhou na Globo Mogi, na RedeTV! e hoje está na TV Cultura, disse que sua passagem pela emissora foi uma aventura muito gostosa. Florestan Fernandes concordou com ele. O jornalista, que trabalhou nos jornais O Globo, Folha de S. Paulo (na Ilustrada), além da TV Gazeta, disse dever muito à Manchete. “Lá nós tínhamos liberdade para trabalhar, para criar, [liberdade essa] que eu não tinha em nenhuma outra emissora”, lembra.
Elmo Francfort, responsável pelo Museu da TV e autor do livro Rede Manchete: Aconteceu, Virou História, viveu os bastidores daquela emissora de TV e confirmou o que os dois jornalistas disseram ter experimentado lá. “O objetivo da Manchete era fazer uma televisão diferente e de qualidade, por isso ela dava essa liberdade para seus funcionários”. Elmo, que trabalha no Centro de Memória da Cásper Líbero, reforçou a ideia de que a emissora tinha vontade de fazer algo diferente na televisão brasileira, com qualidade, e lembrou que só copiava a Globo no sentido da busca pela qualidade. Qualidade de imagem, de som e de iluminação. O resto era disputa.
Ao longo do documentário exibido, os funcionários que passaram pela emissora disseram que a Rede não pagava bons salários. “Pelo contrário, pagava salários razoáveis, sofríveis”, lembra o âncora do Jornal da Manchete, Luiz Santoro. Em seu depoimento, o jornalista relata que o ambiente de trabalho era muito bom, com ótimos colegas, uma vista maravilhosa. “É uma pena que não continuou, hoje seria uma forte concorrente da Globo”, concluiu.
O problema da Manchete foi a má administração da diretoria. “Chegou uma época em que eu via que estavam roubando a emissora. A produção metia a mão, os produtores chegavam de Mercedes”, contou Florestan.
Perguntado por um aluno da plateia sobre o fim da MTV, que deixou a televisão aberta e passou para um canal a cabo, Florestan disser ser triste, mas explicou que se trata de um processo pelo qual muitas emissoras irão passar. “Ela era inovadora e diferente das demais, assim como a Manchete”, comparou. Ele ainda relacionou o fim da emissora, que era famosa por seus clipes musicais à popularidade e ao novo costume de assistir a vídeos pela internet, principalmente pelo Youtube. “A televisão está se transformando, a Manchete também passou por esse processo.” Para ele, o mercado de comunicação, de um modo geral, está repensando tudo, sua estrutura e seu formato. “Temos que ver o que o público quer e quando ele quer, é a única solução”, completa.
Em um tempo em que adolescentes de 16 a 18 anos têm como seu principal meio de comunicação a internet, a televisão vem, cada vez mais, apresentando queda na audiência, tendo, assim, que se aprimorar para cativar seu público. A internet ser o principal meio de comunicação para a população dessa faixa etária é contraditório, de acordo com Florestan, pois esses jovens absorvem, com a internet, o que quiserem, diferentes informações e de uma maneira muita rápida, mas sem se aprofundar em nenhum assunto.
Florestan disse que a Globo está sendo engolida pela internet. “Antes a Globo elegia e tirava presidente, atualmente a emissora perde três pontos do Ibope a cada ano”. Ele considera que a televisão não tem acompanhado o imediatismo das redes, e finalizou sua participação e o debate dizendo que nos próximos dez anos muita coisa vai mudar para o meio televisivo.