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A produção do jornalismo esportivo foi alvo da palestra.
Crédito: Rafael Homor

 

Como a faculdade aborda o jornalismo esportivo? O que ensinar? Como ensinar? Essas perguntas foram respondidas na manhã do segundo dia da 21ª Semana de Jornalismo da Cásper Líbero. Outras questões também foram abordadas no encontro, como a limitação dos novos aspirantes a jornalistas esportivos, a acomodação crescente nos dias de hoje e o limite entre informação e entretenimento. 

A participação do público fez o debate continuar e temas como a cobertura jornalística, a mulher no mercado de trabalho e os limites das redes sociais também foram discutidos.

Fizeram parte de mesa que debateu o futuro do Jornalismo nos esportes Mauro Cezar Pereira e José Carlos Marques e o professor Celso Unzelte, que participou e mediou os debates.

Mauro Cezar Pereira, comentarista esportivo da ESPN Brasil, milita no jornalismo há trinta anos, com passagens pela reportagem do jornal O Globo, O Dia e Jornal do Brasil. Foi também editor da Placar e editor-chefe da revista Audio Car, atuando ainda na reportagem da Forbes Brasil e do jornal Valor Econômico. Atuou ainda em emissoras de rádio como Tupi e CBN. 

Formado em Letras pela FFLCH-USP e doutor em Ciências da Comunicação pela ECA-USP. José Carlos Marques lidera o Grupo de Estudos em Comunicação Esportiva e Futebol da UNESP e é pesquisador do Núcleo de Estudo do Livro e da Edição e do LUDEN-USP (Núcleo Interdisciplinar de pesquisa sobre futebol e modalidades lúdicas). Em suas investigações, estuda a antropologia, a história e a sociologia do esporte, além de analisar a comunicação esportiva. Em 1992, formou-se árbitro pela Federação Paulista de Futebol.

Professor de jornalismo da Cásper Líbero, Celso Unzelte é comentarista nos programas Cartão Verde e Loucos por Futebol. Celso conduziu o debate, pautando os temas a serem discutidos.

Jornalismo Esportivo e o mundo acadêmico

“O que temos a ensinar sobre jornalismo esportivo?”, foi a questão levantada por Unzelte no início da rodada. Para Mauro Cezar Pereira, o jornalismo esportivo não se aprende somente na faculdade, mas também na prática. “As pessoas querem começar pelo fim. Recebo muitos e-mails de candidatos que querem seguir a carreira. A maioria dos textos apresentados são opiniões e comentários sobre o próprio time de futebol. Faltam reportagens”, disse. Para ele, esse segmento é conquistado aos poucos. É importante focar nas reportagens, nas práticas jornalísticas básicas, que serão fundamentais para a formação do profissional da comunicação.

O comentarista ressaltou que antes de escolher a área esportiva, o pretendente tem de ser jornalista, pois se especializar somente em um assunto restringe drasticamente a atuação do profissional no mercado trabalho. “A pessoa deve aos poucos infiltrar-se no meio esportivo. O mercado de trabalho já é restrito. Tem que sempre estar pronto para tudo”, garantiu.

Para José Carlos Marques, o esporte sempre foi estigmatizado nas faculdades de comunicação. “Há uma rejeição do mundo acadêmico em relação ao esporte. Ele é visto como alienador de massas”, disse. “Isso se deve aos tempos da Revolução Industrial. O futebol era a hora de lazer do proletário. Porém, cheio de regras, como se fosse a extensão do controle exercido pelas fábricas”, comentou.

Segundo o pesquisador de esportes, os profissionais também estigmatizam o jornalista esportivo e considera que esse segmento da profissão está inserido na esfera do “não-trabalho”. “Com a cultura ocorre a mesma coisa, só que ela é maquiada com o ar da intelectualidade, portanto menos estigmatizada”, pontuou.

A solução para esses problemas, segundo José Carlos Marques, seria as faculdades pensarem que há valor em torno do esporte. Tratá-lo a partir de uma análise social é fundamental, uma vez que, para ele: “O esporte não está separado das mazelas da vida cotidiana”.

Os limites das redes sociais

“Nós jornalistas ainda não entendemos os limites das redes sociais?”, foi a pergunta posta aos palestrantes, a partir do caso Flávio Gomes, demitido da ESPN Brasil após discutir de forma agressiva com internautas pelo Twitter.

Mauro Cezar Pereira ressaltou que não são apenas os jornalistas que não entendem os limites das redes sociais. “Falta limite por parte dos próprios internautas também. Recebo e-mails e tweets agressivos, cheios de xingamentos. Não seria o suficiente apenas discordar do que eu digo de forma educada?”, refletiu. José Carlos Marques admite que não é um usuário apaixonado, mas acha que Flávio Gomes não percebeu a dimensão do que escreveu. “Deveria ter refletido antes”, disse, mas discordou da demissão do comentarista da ESPN Brasil. Acabou sua intervenção devolvendo a pergunta para o público: “quais os limites das redes sociais?”

A cobertura de outras modalidades

“Por que a dificuldade de cobrir outros esportes além do futebol?”, foi a pergunta enviada pelos alunos presentes no debate.

“O Brasil é praticamente monoesportista”, falou Mauro Pereira. Para ele, os brasileiros têm uma relação interesseira com o futebol: só gostamos de ver o nosso time ganhando. “O brasileiro não gosta de outros esportes, não há retorno na cobertura de outras modalidades”, comentou. Destacou ainda que “gostos diversos, por outras modalidades esportivas são pequenos nichos, não atingindo as massas; portanto, não rendem audiência”. José Carlos Marques concordou com o comentarista. Para eles, há uma monocultura futebolística, só havendo espaço para outros esportes quando algum atleta é campeão e se torna celebridade.

Mulher e o jornalismo esportivo

Chegando ao final, o debate foi encerrado com a pergunta “Ainda existe preconceito com a presença da jornalista mulher no mercado esportivo?”

José Carlos Marques destacou que cada vez mais mulheres se interessam pelo jornalismo esportivo. Entretanto, somente em longo prazo veremos essa reviravolta nos meios de comunicação. Para ele, o preconceito é um fato e no meio esportivo a prevalência é ainda dos homens e suas masculinidades. Como exemplo, citou o caso do selinho do jogador Emerson Sheik, que foi recebido de forma machista pelos torcedores e também pela imprensa. “As mulheres podem oferecer e trazer uma nova visão para o jornalismo esportivo, comentando e fazendo locução na TV aberta”, concluiu o pesquisador.

Mauro Cezar Pereira ressaltou que “Há um estranhamento do público com gente nova na TV, ainda mais com mulheres”. E concluiu: “Muitas jornalistas têm conhecimento e mesmo assim não são valorizadas. Para as meninas que querem entrar nesse meio, serve o alerta: é difícil sim. Esforcem-se, busquem informações e entendimento, sejam melhores que os ‘barbudos’”.

Para quem compareceu, ao sair do evento houve um consenso de que o debate havia aberto outra perspectiva sobre o jornalismo esportivo. Os palestrantes discutiram pontos chaves para a formação do profissional da comunicação. Em resumo, para se tornar um bom jornalista esportivo é preciso, antes de tudo, ser um ótimo jornalista. Dar a cara à tapa e não fazer apenas aquilo de que gosta é essencial para quem pretende seguir carreira.