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Palestrantes falaram sobre a cobertura da periferia na mídia
Crédito: Rafael Homor

 

Na manhã desta quarta feira, 2 de outubro, os alunos de Jornalismo da Faculdade Cásper Libero puderam participar e assistir à mesa Jornalismo  e Periferia, organizada pelo Centro Acadêmico Vladmir Herzog. 

A mesa contou com a presença do repórter Bruno Paes Manso, do jornal O Estado de S. Paulo; dos jornalistas Thiago Ansel, do Observatório de Favelas, e Thiago Borges, do Periferia em Movimento, além de Vagner de Alencar, do Blog do Mural, da Folha de S. Paulo. Além deles, participaram o professor Renato Rovai, como mediador, e, representando o CAVH, a aluna Giulia Afiune, do 4º ano de Jornalismo, cujo tema do TCC trata das periferias de São Paulo.  

O primeiro a falar logo após a instalação da mesa foi o repórter Bruno Paes Manso. Ele discorreu sobre a sua experiência com a periferia, realizando reportagens, e sobre o fato de o jornalista ser, muitas vezes, um “intruso” naquele meio. “Fico pasmo com o quanto as pessoas não conhecem os extremos, ignora a periferia. Só conheço porque sou repórter”, declarou.

Além disso, Bruno diz que os movimentos sociais e as próprias periferias vêm mudando desde os anos 1990. Ele considera os movimentos sociais muito importantes para a dinâmica desse processo, e os comparou a um psicanalista, pois, assim como um paciente senta e fala sobre seus medos e segredos para o analista, a fim de superar alguns traumas, a relação entre o movimento social e a periferia funciona da mesma maneira: “Eles identificam as sombras e os silêncios dos moradores desses locais, o que preferem esconder; e acabam por mostrar o dia-a-dia desta vida, num trabalho de reconhecimento como caminho para mudar e resolver os problemas”. 

Fezendo o uso da palavra, a estudante de Jornalismo Giulia Afiune contou um pouco sobre o tema do seu Trabalho de Conclusão de Curso, “Os Extremos de São Paulo”. No projeto, estão sendo produzidas reportagens multimídias sobre os quatro extremos da capital paulista: Brasilândia (Noroeste), Cidade Tiradentes (Leste), Marsilac (Sul) e Raposo Tavares (Zona Oeste).

Em sua pesquisa prévia sobre esses lugares, Giulia percebeu que não havia nenhuma cobertura sistemática da mídia em relação aos moradores desses extremos nem seus problemas eram discutidos pelos meios de comunicação. Tudo o que achava em sua pesquisa eram “curiosidades” sobre os bairros ou coberturas rasas e estereotipadas. Ilustrando sua fala, ela mostrou um trecho inédito de uma das reportagens do seu trabalho – uma matéria sobre um sarau realizado na Brasilândia. A iniciativa que começou por meio do trabalho de jovens do bairro, reúne os moradores e permite que, através da música e da poesia, eles possam falar sobre suas realidades, seus problemas, suas aspirações. 

Thiago Ansel, jornalista pelo Observatório de Favelas, e doutorando pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), trouxe para a mesa a realidade conhecida por ele do Rio de Janeiro, recheada com diversos dados estatísticos relacionados com a violência e a periferia. Segundo Ansel, o objetivo do Observatório é lançar um olhar sobre toda a cidade, e não apenas sobre suas áreas extremas, o que gera uma inversão de perspectivas.  

 A luta da organização de que ele participa no Rio de Janeiro, o Observatório de Favelas, é no sentido de que os bairros afastados do centro, literal e simbolicamente, se representem, criando uma identidade própria e legitimando aqueles espaços. 

Na etapa seguinte, Vagner de Alencar, jornalista do Blog Mural e morador de Paraisópolis, falou sobre o trabalho que é realizado pelos “correspondentes da periferia” dentro do espaço criado pela Folha de S. Paulo. Segundo ele, o papel desses correspondentes é trazer a visão de dentro desses espaços e transformar o território em que vivem, por meio de denúncias dos problemas sociais e de ausência de infraestrutura e de serviços. Através do trabalho no Blog, Vagner escreveu o livro Cidade de Paraíso, em que conta as histórias dos moradores da favela, usando como fio condutor seus becos e vielas.

Fechando as considerações dos convidados, Thiago Borges, morador do Grajaú e integrante do “Periferia em Movimento”, começou sua fala justificando o motivo de ter se atrasado para o debate: “Demorei três horas para conseguir chegar aqui” – uma referência ao conhecido problema do transporte urbano da capital paulista. Formado em jornalismo, Thiago montou o coletivo em 2009 junto com outras pessoas, e puseram mão na massa.

Ele contou um pouco da realidade vivida pelos moradores das periferias de São Paulo, onde vivem mais de 8 milhões de pessoas. Comentou sobre a cobertura da mídia em casos como os de ocupação ou protestos – que, nos grandes veículos da imprensa, só viram notícia quando atrapalham o trânsito. Para ele, falar em periferia é falar de dentro, respeitando toda a complexidade desses espaços. 

Quando as perguntas foram abertas para os estudantes, surgiram questões diversas – que iam dos Racionais MC`s e do Esquenta, da Rede Globo, até a melhor linguagem para se comunicar com as periferias e de como a grande mídia era vista pelos moradores desses extremos. Bruno comentou sobre como o citado grupo de Rap foi um divisor de águas e finalizou falando que, para ele, a função do jornalista é “desesteriotipar”. 

Nas respostas, foi ressaltada a complexidade das periferias – que não são iguais entre si e trazem, cada uma, de diferentes formas, suas características e histórias. Além da extrema importância do surgimento de narrativas que contem sobre o dia-a-dia dos extremos das cidades e mostrem um olhar da periferia para a periferia e, mais do que isso, da periferia para toda a cidade. 

Para encerrar, o professor Rovai leu o poema do poeta Sérgio Vaz intitulado Primavera Periférica: “(…) A beleza de nossas palavras que ora trilham nossas veredas, brotam de uma vida repleta de espinhos, mas que ninguém duvide deste perfume chamado poesia, porque é a essência da nossa revolução”.  Com uma salva de palmas e muitos agradecimentos, o debate foi encerrado.