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Palestra abordou a entrada no mercado de trabalho.
Crédito: Rafael Homor

 

O estudante de jornalismo constantemente se depara com a mensagem de que o jornalismo entrou em crise, está sendo rapidamente modificado (ou substituído) pela inserção das novas mídias virtuais. A participação dos consumidores enquanto críticos desencadeia um novo efeito no que antes se tratava apenas de uma escolha de leitura: o leitor agora participa e molda a comunicação, ele escolhe não apenas o que quer ler, mas como quer que o meio de comunicação escolhido se porte perante o público.

Se a mídia não reconhece a voz do leitor, o leitor decide que se tornará a própria mídia, tendo ou não capacidade para isso. Diante dessa situação, como devem se portar os novos jornalistas? O que devem fazer os estudantes das mais conceituadas faculdades de jornalismo da América Latina, como a Faculdade Cásper Líbero, após se formar? Como esses novos jornalistas enxergam suas experiências dos tempos de faculdade?

É isso que buscaram responder os ex-alunos Cinthia Gomes, Gabriel Mitani, Luísa Pécora, Fernando Gallo e Vanessa Ruiz, que participaram da mesa da palestra intitulada “Me formei, e agora?”, mediada pelo Professor Dr. Carlos Costa, coordenador do curso de jornalismo da Cásper. Essa palestra abriu a Semana de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero, que teve em seu ato de instalação uma bela apresentação feita pela Profª Drª Tereza Cristina Vitali. A diretora relembrou o pioneirismo do empresário da comunicação, Cásper Líbero, que inovou na imprensa e deixou como legado a escola que leva seu nome.

CINTHIA GOMES

Cinthia Gomes, jornalista formada pela Cásper em 2007, participou em seu tempo de formação na escola da criação do programa Dandaras, na Gazeta AM, tratando das questões da negritude. Hoje trabalha como repórter da Rádio Estadão, vencedora das etapas regional e estadual do Prêmio Sebrae de Jornalismo 2013 na categoria Rádio, com série especial sobre Economia Criativa.

Para ela, utilizar os recursos oferecidos pela faculdade, como a Rádio Universitária Gazeta AM, foi um diferencial ao entrar no meio profissional. Quando contratada por emissoras de rádio, já estava habituada com os processos técnicos e isso a fez avançar mais rapidamente na carreira. “Gostaria de dizer: Aproveitem a juventude”, disse ela, com o intuito de incentivar os estudantes a fazerem uso do tempo em que estão na faculdade para experimentarem os diversos recursos oferecidos pela estrutura da Fundação Cásper Líbero.

Ao se formar, Cinthia fez o Focas do Estadão, um curso intensivo, e conseguiu vaga na Rádio Eldorado. “Quando entramos no mercado de trabalho, ninguém quer saber se tivemos experiência, a gente tem que chegar fazendo”. Diz também que devemos equilibrar o salário em dinheiro com o “salário satisfação”. Para ela, o amor pela profissão veio quando foi para a rua, com um celular e um gravador, e ao perceber que conseguia dar conta disso, se apaixonou.

Cinthia Gomes considera que a Cásper Líbero participou do processo de formação da sua identidade, com o fato de ela ser negra. “Antes nunca havia feito nada sobre essa parte de minha personalidade, e hoje, sendo jornalista, após a temporada na Cásper, isso passou a fazer parte. Conheci professores na faculdade que hoje são seus amigos.”

VANESSA RUIZ

Vanessa Ruiz, formada pela Cásper em 2006, trabalhou durante quatro anos como repórter para a rádio CBN e Globo; cobriu a Fórmula 1 para a rádio Estadão/ESPN, e trabalhou na revista ESPN. Hoje faz parte da equipe da Bold Conteúdo, militando no jornalismo online. Sua primeira experiência foi como monitora no boletim Imprensa, house organ da Fundação Cásper Líbero. 

“Você tem que fazer um bom trabalho, mostrar quem você é, cultivar boas relações”, comentou Vanessa. Disse também que seu caminho dentro do jornalismo esportivo foi um tanto natural, conseguindo vencer com certa facilidade os preconceitos existentes contra a mulher nessa área, mas afirma que eles existem, que quando uma mulher erra, sofre muitas críticas, mas quando acerta é chamada de genial apenas por, “apesar de ser mulher”, ter acertado. 

Ela levanta a questão da especialização do jornalista em algum tema específico. Se devemos nos especializar? Cabe a cada um decidir sobre sua profissionalização. Mas apesar disso, pensando na atividade de jornalismo em si, se for para cobrir uma guerra, o jornalista vai, se for para cobrir esportes, também, e o tempo que passar em cada área irá o habituando às necessidades.

Outro conselho que Vanessa deu para os que pretendem exercitar o jornalismo online, é de sempre apostar em uma plataforma própria. Pode (e provavelmente deve) fazer uso de ferramentas das redes sociais, mas é preciso ter um site ou blog próprio que resista às mudanças por que periodicamente passam as redes sociais; assim, com o fim de uma delas, como parece ser o caso do Orkut, seu trabalho não acabará juntamente com essa rede.

LUÍSA PÉCORA

Luísa Pécora, formada em 2008, é repórter do portal iG, e desde dezembro do ano passado está na editoria de cultura, cobrindo principalmente cinema. Ela diz ter aproveitado muito da biblioteca da Cásper para assistir a todos os filmes que queria. Organizava seus próprios ciclos, assistindo a todos os filmes do Hitchcock ou do John Ford. Participou de grandes coberturas como o resgate dos mineradores do Chile, como enviada especial a Copiapó, em outubro de 2010. Cobriu a visita do presidente dos EUA, Barack Obama, a Brasília e à Santiago do Chile, em março de 2011; e os dez anos dos ataques de 11 de Setembro. 

Foi monitora do site de Jornalismo da Cásper, e logo cedo entrou de mente aberta para as novas mídias, defende um trabalho original e diferenciado dos artigos noticiosos mais comuns. Lembra do momento em que conversou com a última sobrevivente a sair do World Trade Center, ou sua aproximação, no caso dos mineradores soterrados no Chile, de detalhes que não são levantados pela grande mídia, como contar sobre a pessoa que se dedicou a cozinhar para as equipe da operação de salvamento. Moral da história é essa, de realizar um trabalho original, pessoal, manter em mente o já citado “salário satisfação”, também fazer um bom uso do espaço ilimitado da internet, ressaltou Luísa.

No ano da formatura sentiu como tudo tinha um caráter definitivo, mas que com o tempo a vida se tornou mais dinâmica. Aconselha que os estudantes “Tenham calma, não fiquem parados esperando, saiam em busca das coisas, mas com a mente aberta”. Para Luísa Pécora, a Cásper deixou um legado pessoal e profissional, desde a biblioteca à localização na Av. Paulista.

GABRIEL MITANI

Em sua intervenção, Gabriel Mitani comentou que para ele o legado da Cásper foi estar em contato com grandes profissionais do mercado, contato com o diferente, um “jornalismo plural”. Formado em 2007, foi estagiário das revistas Imprensa, Cult e Galileu, e também da TV Globo-SP. Fez o Curso Abril de Jornalismo e ainda realiza reportagens para diversas revistas da Editora Abril. Trabalhou em todas as áreas da TV Globo: apuração, chefia de reportagem, produção, reportagem e edição, passando pelo SPTV, Profissão Repórter, Globo Rural, Jornal da Globo e Jornal Nacional. Hoje é editor do Bom Dia, São Paulo, e de volta aos bancos escolares conclui o curso de Letras (alemão) da USP. Ganhou Prêmio Abril de melhor reportagem de saúde em 2012, e o Prêmio Globo de Jornalismo pela melhor série de reportagens comunitárias, em 2013.

Conta que desde que entrou na faculdade ficou em dúvida se era o que queria fazer da vida, e essa mesma dúvida o levou a descobrir mais e mais da área: “Quanto mais me afastava do jornalismo, melhor jornalista eu me tornava”. Após os estágios, percebia que queria fazer jornalismo, mas não qualquer tipo de jornalismo. “Vocês estão numa universidade, estão aqui para criar, criem, tentem inovar, pois o jornalismo muda e quem não muda junto acaba ficando para trás.” Para Gabriel, a Cásper era técnica, talvez demais, o que o fez ir buscar uma base na literatura, na Faculdade de Letras.

FERNANDO GALLO

Já o repórter especial Fernando Gallo fala praticamente o oposto. Formado em 2006, trabalhou quatro anos na CBN, saiu dessa emissora quando ocupava o cargo de chefe de reportagem para ir trabalhar como free-lancer temporário na Folha de S.Paulo. Agora atua no jornal O Estado de S. Paulo, cobrindo a área da política. 

Para ele, uma das coisas que levou da Cásper foi justamente uma noção básica das humanidades, além de relacionamentos pessoais, técnicas jornalísticas e o conceito de Mais Valia, que aprendeu nas aulas do prof. Liraucio Girardi Junior. “Virei Marxista e não sabia!”, falou, em tom de brincadeira. Na passagem do rádio para os jornais, chegou a abrir mão de um cargo de chefia para trabalhar na cobertura política, e garante que foi a melhor coisa que fez, pois cobriu as campanhas de Plínio de Arruda Sampaio e do Tiririca.

Fernando avisa que o jornalismo está indo para algum lugar muito distinto do atual, os estudantes devem se preparar para uma brutal crise do modelo de negócios do jornalismo no mundo inteiro. “É preciso pensar em maneiras alternativas, como o jornalismo pode viver e crescer para fora das redações. Assim como disse a Vanessa, não se deve ficar preso aos velhos modelos, pois eles estão ruindo, cabe aos novos jornalistas dar continuidade ao trabalho da comunicação”, finalizou.

Muitas respostas e ainda mais dúvidas foram deixadas pela palestra. Se há uma coisa que se pode concluir é que os estudantes da área de comunicação precisam estar preparados justamente para a incerteza do futuro da mídia, tendo uma mente aberta, investindo tanto nos  modelos tradicionais quando nas modificações estão conseguindo sucesso, quanto nas formas alternativas de jornalismo, nas iniciativas criativas, sem desistir perante os possíveis fracassos, pois jornalismo é isso: estar em uma relação constante entre o mundo e os leitores, sabendo que o mundo sempre inova, e os leitores atuais não costumam preferir a mesmice às boas inovações.