Ao longo da semana de debates sobre os 50 anos do golpe de 1964, a Cásper Líbero abriu as portas de seu teatro para uma programação de reflexões sobre o tema. Na sexta feira, dia 4 de abril, foi a vez de discutir a Resistência LGBT e Feminista na Ditadura. Organizado pelas Frentes Feminista Casperiana Lisandra e LGBT+ Casperiana, o debate contou com a presença de três palestrantes que abordaram o tema relatando suas próprias experiências.
O documentário “Que bom te ver viva”, exibido antes da discussão, levantou importantes questões sobre os abusos sofridos por prisioneiras políticas durante o período de repressão. O filme mostra o depoimento de oito mulheres sobreviventes às torturas físicas e psicológicas das prisões e os traumas resultantes dessa experiência.
Daniela Paga, feminista e participante da Comissão da Verdade da UNICAMP, contou que os grupos de militância eram, em maioria, composto por mulheres de classe média intelectualizada. Essa participação em movimentos políticos quebrava as expectativas sociais da época, uma vez que a política era considerada restrita aos homens. Questões envolvendo o corpo e a sexualidade feminina não eram vistas como pautas importantes diante do coletivo revolucionário. Também ressaltou a diferença da violência praticada contra o homem e a mulher nas prisões, torturas em que ocorria alta dose de abusos sexuais e terror psicológico envolvendo a maternidade.
Em seguida, Inês Castilho, jornalista e cineasta, compartilhou sua experiência na imprensa alternativa, como a revista Nós Mulheres e o jornal Mulherio, o qual marcou o início dos primeiros centros de pesquisas feministas. Entretanto, tanto a questão dos gêneros quanto a da orientação sexual, segundo Inês, não eram pautas da época. Afirmou também que “Não dá para falar em igualdade de gêneros enquanto houver desigualdade social”.
Ativista do movimento LGBT e Feminista, também na ditadura, Marisa Fernandes explicou a importância de Kassandra Rios à visibilidade do tema. A escritora atingiu um milhão de vendas com sua literatura, que envolvia a temática LGBT, e foi duramente censurada. Mesmo assim, a venda dos seus livros continuou, embora não se saiba onde os recursos foram parar.
Marisa contou sobre sua experiência no 2º Encontro da Mulher Paulista, na PUC, marcada por agressões verbais e até mesmo físicas por não serem aceitas as questões propostas pelas ativistas Lésbicas Feministas envolvendo o corpo e a sexualidade feminina. Outra repressão destacada por ela foi a Operação Limpeza do Estado Brasileiro, em 1979, que teve como finalidade a prisão de todos aqueles que não tinham carteira de trabalho assinada. Entretanto, a operação seguiu de maneira desmedida, prendendo e matando centenas de pobres, prostitutas e homossexuais. Recordando sobre o evento do Primeiro de Maio, descreveu as cidades fechadas e a comoção de mulheres que carregavam cartazes e como, cada um deles, continha um sonho.
Alertou sobre a, ainda, falta de leis de âmbito federal que defendam o direito dessas minorias e a vulnerabilidade ainda sofrida atualmente por esses grupos. “Não dá para baixar a guarda”, concluiu.