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A historiadora Dulci Lima, a professora e antropóloga Laura Moutinho, a militante feminista e colunista da revista Carta Capital Djamila Ribeiro, e a estudante de jornalismo dCásper Líbero e integrante do coletivo ÁfriCásper, Giulia Ebohon | Crédito: Yuri Andreoli

Na noite do dia 18 de agosto o teatro Cásper Líbero recebeu a mesa de debates “Raça e Gênero: a mulher negra em cena”. Com mediação da professora Caroline Cota Mello, o encontro contou com a presença da historiadora Dulci Lima da Universidade Presbiteriana Mackenzie; a militante feminista Djamila Ribeiro; a professora e antropóloga da Universidade de São Paulo Laura Moutinho e da estudante do 4º ano de jornalismo da Faculdade Cásper Líbero e integrante do coletivo Áfricásper, Giulia Ebohon. O evento contou também com depoimento e performance da escritora Claudia Canto.

O destaque da noite foi, sem dúvida, a filósofa, colunista da Carta Capital e militante feminista Djamila Ribeiro que, sem rodeios, deu início à sua fala com um questionamento: “Alguém aqui tem alguma dúvida que o Brasil é um país racista?” Com relatos pessoais e um humor afiado, Djamila falou sobre o mito da democracia racial no Brasil, a dificuldade da sociedade ter empatia e ainda como o feminismo negro e a militância foram parte fundamental de sua vida desde muito cedo.

O pai de Djamila, militante do movimento negro, fazia questão de que seus quatro filhos ocupassem ambientes privilegiados, como o teatro, e olhassem em volta para ver quantos negros havia ali. A atitude combativa que aparentemente herdou do pai não foi o bastante, contudo, para que ela deixasse de sentir as consequências do racismo que sofria na escola. Amplamente aplaudida, ela finalizou dando o alerta: a sociedade brasileira é muito imatura para o debate e, além de exercitar a escuta, falta ainda a consciência de que se ausentar do debate apenas contribuí para manter desigualdades sociais.

Em seguida, Dulci Lima, mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, instigou a curiosidade com sua fala sobre uma das figuras de maior representatividade na memória do movimento negro: Luíza Mahín, ex-escrava e mãe do abolicionista Luiz Gama. Segundo seus estudos como mestranda, a história do movimento negro e, sobretudo, dos coletivos de mulheres negras no Brasil, anda lado a lado com a imortalização da personagem no imaginário coletivo brasileiro. Com o fim da ditadura militar no final dos 1970, o movimento negro recuperou figuras históricas com o objetivo de ganhar visibilidade no novo cenário político brasileiro. É nesse momento que se exalta a imagem de Zumbi dos Palmares e cria-se o Dia da Consciência Negra em 20 de novembro. As mulheres negras, entretanto, partiram para a criação de um coletivo independente e, a fim fortalecer uma identidade positiva para a mulher negra e recuperaram para este fim a figura heroica e mítica de Luíza Mahín.

Assim como Dulci, a antropóloga Dra. Laura Moutinho também abordou seus estudos acadêmicos e trouxe para reflexão a questão da miscigenação brasileira. Para ela, marcadores sociais como raça, sexualidade, gênero e identidade nacional não marcam apenas diferenças, como também desigualdades. Desigualdades estas que, como assinalou, são heranças históricas oriundas da época de escravidão.

Por fim, a estudante do 4º ano de jornalismo da Faculdade Cásper Líbero Giulia Ebohon, aproveitou o momento para trazer à tona o recente caso da chacina que deixou dezoito mortos em Osasco e Barueri, na Grande São Paulo. Para a integrante do coletivo Áfricásper, a naturalização de opressões contribuiu para a invisibilidade de debates importantes, como a discriminação racial e o machismo – desconstruir esse cenário passa pelo caminho de se estar sempre atento para um olhar crítico às questões sociais.