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Participantes debateram a relevância da crítica no jornalismo.
Crédito: Vitor Leite

 

Começou nesta segunda-feira, 30 de setembro, a 21ª Semana de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero. São cinco dias de palestras que abordam o mercado atual da profissão com representantes de diversos setores. Jornalismo Esportivo, Feminismo na Mídia e Fotojornalismo são alguns dos temas que teremos esta semana no Teatro Cásper Líbero, no primeiro andar do prédio das escadarias da Paulista 900.

A segunda palestra da Semana debateu sobre a segmentação do jornalismo e teve como convidados a crítica de cultura Beth Néspoli, d’O Estado de S.Paulo, a crítica gastronômica Helena Galante, da Veja São Paulo, e o editor do Publifolha, Alcino Leite Neto. O mediador do debate foi o jornalista, escritor e professor de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero, Sergio Vilas-Boas.

Beth Néspoli, crítica teatral que iniciou carreira de jornalista aos 38 anos, começou a sua fala explicando que não se deve separar reportagem da crítica, para não perder o caráter jornalístico que essa relação possui. Também não é a favor de que só existam revistas segmentadas. Para ela, é preciso um veículo que aborde todos os temas em um só lugar.

A crítica gastronômica Helena Galante, que escreve para a Vejinha, acredita que há espaço tanto para reportagens sobre gastronomia quanto para a crítica. Na verdade, em sua opinião, a realidade de redações cada vez mais enxutas faz com que o mesmo funcionário cumpra as funções de repórter e de crítico de uma área. “Há quem diga que mercados muito segmentados são sinônimos de crise. Não sou pessimista assim”, disse Helena. 

Jornalista formada pela Cásper Líbero, ela acredita que mercados amadurecidos têm espaço para revistas generalistas fortes, de circulação em grande escala, e também para revistas menores, voltadas a atender interesses de grupos específicos. “Admiro profissionais especializados, mas não acredito que jornalistas que não fizeram cursos de especialização sejam menos qualificados”, acrescentou. A crítica gastronômica disse ser necessário pessoas que sejam “pau para toda obra” e concluiu: “quem é bom jornalista, seja especialista ou generalista, sempre será absorvido pelo mercado (eu espero)”.

Alcino Leite Neto, o terceiro convidado desta mesa, foi editor de moda da Folha de S.Paulo, editou o caderno Mais! E atuou como correspondente em Paris. Em sua intervenção, ele afirou acreditar, no que se refere à segmentação, que é necessário o jornalista ter uma especialização naquilo em que ele se destaque. “Quando somos muito generalistas acabamos, às vezes, falando sobre algo de que não gostamos e a matéria acaba não ficando tão boa”, ressaltou.

Quanto ao caráter acadêmico, Alcino criticou o fato de especialistas esquecerem de que os leigos muitas vezes não conhecem a fundo o assunto e acabam escrevendo algo que deixa os leitores com mais dúvidas do que esclarecimento. Nesse ponto, ele discorda do excesso de especialização, por acreditar que os profissionais extremamente segmentados vivem em um tipo de mundo paralelo e acabam sofrendo uma alienação em relação a outros assuntos fora da especificidade de seu segmento profissional. 

Alcino, que trabalhou com moda após a saída da jornalista Erika Palomino da Folha, disse ter mais afinidade com a editoria de cultura e que dificilmente trabalharia com esportes e ciência, apesar de ter feito a cobertura de alguns eventos esportivos, como jogos de futebol e tênis enquanto esteve em Paris, no período em que foi correspondente do jornal na Europa.

Ao responder a uma pergunta formulada pelos alunos da plateia sobre críticos de moda e a sua situação no atual cenário jornalístico, Alcino disse que ainda hoje não existem muitas críticas construtivas sobre moda, até porque “alguns veículos são como apêndices do marketing das grifes”. E foi adiante, dizendo que “no Brasil, assim como no mundo, não existem bons críticos desse assunto”.

Os convidados encerraram o debate, cada um com uma mensagem. Helena alertou que o crítico deve prestar atenção à sua volta e que “seu umbigo não quer dizer nada, vaidade não importa” na profissão. Beth comparou a crítica a um irmão: “Fale com carinho, sem tom agressivo, porque se houver tom agressivo haverá problema”. Alcino lembrou que a crítica mostra que a imprensa tradicional ainda tem alguma força. E deixou, para os estudantes que acompanharam o debate, uma palavra de otimismo. O jornalista afirmou que a profissão nunca esteve tão florescente quanto atualmente e que os recursos de multimídia e os aparatos tecnológicos estimulam muito mais as carreiras. Acrescentou que o jornalismo está bastante forte nas redes sociais, principalmente com convocações de leitura para textos de jornais, de sites e de revistas. “Esse é um momento muito interessante [para o jornalismo]”, concluiu.