Passar a carteirinha na catraca, pegar o elevador, assistir às aulas, comer alguma coisa na lanchonete, passar de novo a carteirinha na catraca e ir embora. Consegui aguentar essa rotina por apenas alguns meses na Cásper. Quando senti que o piloto automático estava ligado, e a solidão em meio aos muitos estudantes da faculdade tomou conta de mim, parei para pensar no significado de estar na graduação. Foi aí que a pequena-grande semente do Centro Acadêmico Vladimir Herzog (CAVH) foi plantada em mim e deu origem a uma árvore muito bonita.
Comecei a conversar com um pessoal que também estava cheio de energias para montar algo que estivesse muito além dos grupos de trabalho das disciplinas da grade curricular. Muitos deles fizeram parte do CAVH na gestão Comunica, em 2012, que com certeza foi a força propulsora e a “madrinha” de nossa gestão, a Interação. “O Centro Acadêmico é de todos os alunos da Cásper”, disse-me a Giulia Afiune, logo que nos conhecemos, no ano passado. Pensar nesse todo foi um desafio imenso, mas longe de ser insuperável quando há outras pessoas perto de você.
No final do ano passado, decidimos formar uma chapa plural. Éramos 23 pessoas com as mais diversas visões de mundo, posicionamentos políticos, sensos de humor e gostos musicais. E se isso representou uma dificuldade, também foi de longe o que mais contribuiu para tudo o que conquistamos neste ano. Começamos 2013 com o Integra Cásper, a semana de recepção aos casperianos recém-chegados, e que trouxe, para o Teatro, o debate e o riso, integrando quem ainda se perdia para achar a sala de aula a quem já começava a se preocupar com o TCC.
Poucos dias depois, nos organizamos para pensar em como contribuir para a semana “Mulher e Mídia”, que aconteceu em homenagem ao 8 de março, Dia Internacional da Mulher. A filósofa Márcia Tiburi e feministas de diversos coletivos fizeram com que os debates estivessem lotados, algo que nos animou pra caramba. Foi um corre-corre danado, mas com um resultado que cresce até hoje: foi nessa semana que nasceu a Lisandra, a Frente Feminista Casperiana. Atualmente, os componentes da Lisandra reúnem-se todas as quintas-feiras para debater a igualdade de direitos entre mulheres e homens. A sala do CAVH ficou pequena para o grande número de estudantes que comparecem às reuniões.
Havíamos montado um cronograma com todos os projetos que gostaríamos de levar em frente. Mas alguns acontecimentos nos mostraram que nem sempre é possível traçar um caminho linear para tudo o que pensamos. No mês de abril deste ano, as cores da Cásper Líbero misturaram-se em um cinza triste após a morte do estudante de RTV Victor Hugo Deppman. Esse cinza logo se dividiu no branco e preto que frequentemente aparece nos debates sobre a questão da maioridade penal e que chama a atenção de muitos veículos de comunicação.
Estavam todos de olho nos alunos da Cásper e na mobilização que a morte de Deppman gerou. Por algumas semanas, os maiores jornais do país estampavam o nome de nossa faculdade em suas primeiras páginas. Enquanto representantes dos alunos, pensamos em uma forma de trazer o debate – não somente o da maioridade penal, mas, também, da união entre Comunicação e Direitos Humanos – para o primeiro andar do prédio da Gazeta. O tema foi “A Mídia e o Crime: a cobertura jornalística em situações de violência”, debatido por jornalistas da TV Globo, da TV Cultura, além de professores universitários e juristas.
O tema dos Direitos Humanos não saía da nossa cabeça de jeito nenhum, por isso fizemos questão de trazê-lo para outros debates, como a mesa que organizamos, em outubro, na Semana de Jornalismo. O diálogo centrou-se na questão “Jornalismo e Periferia”. Sotaques cariocas, vozes das periferias paulistanas e de estudantes fizeram com que o a conversa fosse muito plural.
Como o CA não recebe nenhuma verba da faculdade, tivemos de nos virar nos 30 para conseguir algum dinheiro para os nossos projetos deste ano. Vendemos ovos de Páscoa, fizemos rifas de bebidas e doamos um pouco da nossa própria grana para guardar para um evento especial: o Rock’nCásper, festival de bandas que aconteceu no final de outubro e que fez alunos e ex-alunos aproveitarem uma tarde inteira de sábado, ao som de música boa. A gente gosta tanto desses encontros musicais, que queremos que o festival aconteça todo ano, independentemente da gestão que estiver na sala do 6º andar.
Falando em planos para os próximos anos, nem dá para acreditar que já chegou o mês de novembro e, com ele, os últimos dias da gestão Interação. Finais de ano sempre causam uma mistura de sentimentos. Com certeza, o “mix” de 2013 foi o maior de todos, porque finalizar uma gestão fica no meio do caminho entre aquele friozinho no coração, depois das despedidas, e o calor, no mesmo coração, de quando nos sentimos orgulhosos de uma conquista.
Tenho certeza de que essa nova vida que o CAVH construiu a partir de 2012, com o pessoal da Comunica, e em 2013, com a Interação, tem potencial para amadurecer ainda mais nos próximos anos. Para isso acontecer, é preciso manter o diálogo e a troca de ideias dentro e fora da Cásper, para que seja possível entender que a graduação pode ser uma semente de todos e para todos os casperianos.