No debate de terça-feira à noite (23/8) durante a 10ª Semana do Audiovisual, a Cásper Líbero recebeu Luiz Villaça, diretor na Bossa Nova Filmes e autor de produções cinematográficas como “O Contador de Histórias” (2009), “ De Onde Eu Te Vejo” (2014) e de obras televisivas de grande repercussão, como o quadro “Retrato Falado”, que foi ao ar no programa Fantástico entre 2000 e 2005.
Villaça não foi escolhido por acaso, já que o tema do encontro, “ficção x realidade”, estava muito presente na criação de “Retrato Falado”, no qual os atores, liderados por Denise Fraga, interpretavam relatos verídicos acrescentando uma dose de humor, enquanto as próprias pessoas que vivenciaram os relatos narravam as histórias.
“A partir do momento em que o roteiro é realizado, nós começamos a fazer parte daquela história e influir nela”, diz o diretor. “Nós contamos tanto uma história que passamos a duvidar se aquilo de fato é realidade.” Com o tempo, segundo ele, as histórias foram ficando mais profundas, beirando quase o drama, e ainda assim o programa continuava porque, segundo Villaça, ele “pegou” (no sentido de ter captado a simpatia do público).
Em alguns momentos, a fronteira entre a ficção e o real passou a ser ainda mais fluida, como neste episódio narrado por Villaça: “Uma vez inventamos dois personagens que não existiram: uma cozinheira e um roupeiro da seleção brasileira. Em 2002, queríamos contar a história das quatro conquistas anteriores e criamos esses dois personagens. Criamos um romance entre os dois e misturamos com os jogos da Copa e eles davam depoimentos. O sucesso foi tão grande que fomos fazendo durante a Copa e alguns jornalistas esportivos até caíram na ‘pegadinha’ e começaram a perguntar como a gente conseguia cobrir aquilo.”
Questionado sobre o quanto da própria realidade ele coloca nos seus projetos, o diretor afirmou: “Somos todos contadores de história, já que vemos as histórias acontecendo na nossa frente. Isso te inspira na próxima cena, como nós aqui”. Nesse sentido, ele enfatizou a importância da montagem para o resultado final da obra audiovisual: “Montar é como escrever: você decide onde vai a vírgula, o ponto final, se vai pular linha, etc.”
Para ele, a tecnologia democratizou a produção audiovisual já que “todo mundo hoje em dia tem um celular”. “Eu nunca tinha me tocado que a gente poderia fazer o que assiste”, diz sobre quando percebeu que poderia realizar filmes e que adorava edição.
O diretor também deu algumas dicas que considera importantes para os interessados em seguir na carreira: “Soberano é contar a história da melhor forma possível”, afirma, complementando que é necessário ter um certo desapego diante de cenas boas que acabam não cabendo no filme.
Por fim, Villaça resumiu o que talvez seja a fórmula do seu sucesso pessoal: “Se você fizer algo que se comunica com as pessoas, a credibilidade acaba vindo por tabela. Se a gente não tiver uma boa história, não adianta nada.”