“Com a comunhão entre conhecimento, alma e emoção”, assim Giselle Freire Borges Coelho definiu o longo caminho percorrido até a finalização de sua pesquisa de Mestrado, Jornalismo, interpretação e compreensão: caminhos para inclusão de crianças com deficiências nas narrativas midiáticas. Defendida em 25 de março, a dissertação recebeu nota máxima e distinção de louvor. Compuseram a banca, além de sua orientadora, Ana Luiza Coiro, os professores José Eugênio Menezes, da Cásper Líbero, e Mateus Yuri Ribeiro Passos, da Universidade Metodista de São Paulo.
A dissertação de Giselle é a materialização das inquietações surgidas com o nascimento de seu filho, que tem Síndrome de Apert, caracterizada principalmente por deformações específicas nos ossos do crânio e face. A busca por respostas para suas dúvidas e a constatação da escassez com que os assuntos relacionados às pessoas com deficiência eram abordados na mídia em geral, trouxeram a pesquisadora à Cásper Líbero, após 20 anos longe da vida acadêmica. “Fui recebida pelo coordenador da Pós-Graduação, Dimas Künsch, e comecei a frequentar a disciplina ‘Comportamento, Subjetividade e Cultura da Mídia’, ministrada por ele. Foi então que me reencontrei com a prática do ouvir, do diálogo e, principalmente, da compreensão, não só nos estudos de comunicação, mas na vida”. Mais tarde também introduziu a perspectiva dos Estudos Culturais em seu trabalho, estudou questões como identidade, desigualdades e estereótipos e identificou a deficiência como marcadora de diferenças, que nos predispõe a preconceitos e vulnerabilidades.
O estudo trata da produção de conteúdo jornalístico sobre pessoas com deficiências nas revistas Pais&Filhos e Crescer, líderes de circulação na categoria infantil direcionadas aos pais. Em razão do número reduzido de matérias sobre o tema encontrado na pesquisa exploratória em 18 edições das revistas estudadas (de julho de 2016 a dezembro de 2017), passaram a compor ainda o corpus reportagens dos principais jornais e revistas do Brasil, entre fevereiro de 2016 e novembro de 2018, que mais traduzissem os princípios dialógicos e compreensivos que buscados para efetivamente inserir as crianças com deficiências no debate social.
Neste percurso, segundo Giselle, ficou clara uma dificuldade dos jornalistas de se relacionarem e proporem narrativas que envolvam as visões de mundo de pessoas com deficiência. “Reproduzem, assim, toda a sociedade que, por falta de um verdadeiro encontro com essas pessoas, as invisibiliza e exclui. Por falta de informação, cada vez nos distanciamos mais destes corpos estigmatizados”.
Os objetivos do trabalho foram, em primeiro lugar, o resgate do humano no universo do Jornalismo e, em segundo, oferecer estímulos para a transformação de nossos ambientes e da sociedade com o auxílio da produção de novos conhecimentos e do cultivo do afeto, por meio da mediação social de jornalistas.
Foi preciso muita dedicação, muitas horas de estudo e leitura e uma ativa participação em congressos e seminários – não só como ouvinte, mas principalmente com a apresentação de artigos para discussão. Inicialmente, como aluna especial, Giselle cursou mais dois semestres de disciplinas após ser aprovada no processo seletivo e decidiu prorrogar a conclusão do mestrado por mais um semestre para se dedicar apenas à elaboração final da dissertação.
Giselle combinou, portanto, conhecimento, alma e emoção e, por meio do método da compreensão, que norteou seu estudo, buscou apontar que narrativas jornalísticas interpretativas e compreensivas são um caminho para influenciar a sociedade em busca de uma realidade mais justa e igualitária, com o princípio do respeito a qualquer tipo de diferença.