Simbolicamente, vivemos um fim de mundo com a pandemia do novo coronavírus. Isso não significa que é o extermínio de tudo ou de todas as coisas, mas que a realidade como conhecíamos já não existe mais. Responder ao “E agora?” sob a perspectiva da comunicação foi o tema central da live de segunda-feira (25) com o professor Tiago Mota. Ele foi o sexto convidado da professora Michelle Prazeres, coordenadora do Centro Interdisciplinar de Pesquisas (CIP), no primeiro ciclo de lives da Cásper Líbero sobre o futuro da comunicação no pós-pandemia.
Tiago dedicou a conversa ao filósofo tcheco-brasileiro Vilém Flusser, cujos estudos refletiam sobre o mundo contemporâneo e faziam projeções de cenários futuros, com a comunicação como aspecto primordial. Para Flusser, a comunicação é uma rede sentidos que usamos para interpretar a realidade e, além disso, são as nossas estratégias para viver junto. Dois pontos profundamente abalados nesta época de crise, ou de fim de mundo, como provoca o professor.
A alegoria, muito utilizada em narrativas míticas de sociedades humanas ao longo da história, refere-se a um momento de abolição vertiginosa de uma rede de sentidos que usamos para interpretar a realidade. “É uma mudança de nossa consciência”, resume. E sempre há um recomeço, oportunidades que emergem das crises. Mas ele nos alerta que isso não está necessariamente associado uma conotação positiva. É crise, crise mesmo, brinca Tiago, dolorosa do ponto de vista pessoal, mas também social e econômico. Nesse momento, é a comunicação que ajuda a formar uma nova consciência da realidade.
É como uma história muito mais intensa e dramática de uma festa de fim de ano. Há uma mistura de tristeza e alegria e uma promessa de um amanhã melhor. A gente percebe o quão sofrido é esse momento, e dele surge um impulso de construir um novo mundo a partir do que acabou. Diante dessa situação, Tiago, que leciona Teorias da Comunicação na Faculdade, aponta dois caminhos: “Posso me recrudescer e me tornar um retrógrado ou, por meio de diálogos, tentar criar novas ordenações simbólicas”. Mas nada é tão simples assim. Para o próprio Flusser, o pessimismo é um fator importante, não se pode ser inocente, porque o mundo ainda é muito prescritivo.
Uma saída, para Tiago, é resgatar uma palavra-chave que foi banalizada recentemente, a solidariedade. É preciso perceber que todos somos diferentes e iguais nessa diferença. E assim iniciar processo revolucionário de criar novos processos, capitaneados em muito por comunicadores — não só como influenciadores, mas parte deles.
“Se eu quero um mundo novo, é preciso ter capacidade para imaginá-lo, e quando isso não acontece é o fim da política e o fim da comunicação”, explica Tiago. Depois de quase uma hora de conversa e de transitar por assuntos tão densos, antes da despedida, foi João Vicente, seu filhinho, quem virou o protagonista da live. Com a criança no colo e acenando para a câmera, o professor, sorridente, finaliza: “É ele minha esperança de futuro”.
Até 1º de Junho, sempre às segundas e quartas-feiras, às 18 horas, a Faculdade Cásper Líbero realiza a primeira rodada de conversas ao vivo sobre “O futuro da comunicação pós-pandemia” no Instagram da Revista Esquinas. A iniciativa é uma parceria do CIP com o Núcleo Editorial da Cásper Líbero para a produção de lives com professores da Faculdade sobre temas relevantes relacionados às suas áreas de atuação, buscando compreender o cenário da comunicação diante dos desafios apresentados pela pandemia de covid-19. A próxima convidada será Michelle Prazeres, que falará sobre “Tempo, aceleração e comunicação”. O encontro está marcado para quarta-feira, 27 de maio.