“Vendi carro, vendi casa e deixei o emprego para realizar meu sonho.” Com essa frase, Fabiana Ribeiro, dona do Café com Gato de Sorocaba-SP, deixou clara a dificuldade de montar seu negócio. Apaixonada por gatos desde criança, formou-se tecnóloga e passou por várias empresas antes de realizar seu sonho e tornar-se empresária, motivo de orgulho para ela.
Fabiana criou o primeiro Café com Gato do Brasil e pretende expandir sua ideia. Inicialmente planejado para ser igual aos “Caticafés” japoneses, ela adaptou o projeto à realidade brasileira e, hoje, faz o maior sucesso entre “gateiros” (apaixonados por gatos) e pessoas de toda a cidade.
Ela reservou um tempo do seu domingo de manhã para conversar sobre o café. Entre papéis e computador, sempre atenta a quem entrava e à cozinha, Fabiana contou um pouco de como surgiu seu amor pelos gatos e, é claro, como montou o Café com Gato.
Laura Uliana: Como surgiu seu amor pelos gatos?
Fabiana Ribeiro: Desde pequena, eu, meu irmão e minha irmã sempre gostamos de gatos, só que nós não podíamos ter, primeiro porque meu avô morava com a gente e ele não suportava gatos. Depois que esse avô faleceu, a gente sempre tentava pegar algum gatinho, mas meu pai não deixava, acabava levando embora. Quando eu tinha uns 18 anos, a gente conseguiu pegar o primeiro gato sem meu pai dar um fim, o Frederico. Ele viveu 6 anos e acabou falecendo de problema renal. Uma veterinária comentou comigo que ele tinha morrido em função da ração que eu dava pra ele. E eu achava que cuidava bem do gato! Então, daquele ponto em diante, eu comecei a pesquisar e prometi que com o próximo gato que tivesse ia ser diferente.
Laura Uliana: E foi?
Fabiana Ribeiro: Foi bem diferente (risos)! Eu vim morar em Sorocaba em 2006. Em 2007, apareceu uma gatinha na padaria dos meus pais, em Campinas. Eu vi que ela estava muito gordinha; essa gata estava prenhe. Se ela desse cria no meu pai, por ser uma padaria, não ia ser legal. Se ela continuasse lá, eu a levaria pra casa. Passou uma semana, ela continuava na padaria, aí eu adotei a Safira, que hoje já está comigo há mais de sete anos. Eu tinha prometido que ia ser diferente e realmente foi. Logo que eu trouxe ela pra casa, levei no veterinário, comecei a dar ração boa, os filhotes nasceram, ficaram comigo. Nasceram cinco filhotes: três eu doei e dois ficaram comigo, que são o Mingau e o Frederico.
Laura Uliana: Eles estão vivos até hoje?
Fabiana Ribeiro: Todos! A Safira, o Mingau, o Fred. Eu fiquei completamente apaixonada, né? E sempre pesquisando, lendo, aprendendo mais sobre os gatos. Um dia eu vi em uma revista que uma atriz, Camila Morgado, tinha um gato chamado Pessoa, e eu adorei o nome. Então eu adotei mais um gatinho, que hoje é a minha Pessoa e, em 2007, logo que eu adotei a Safira, em novembro, um amigo meu, em dezembro, me deu um persa-himalaio. Só que, como eu estava com filhotes novos em casa, o persa acabou ficando na casa da minha mãe, que era para não ter confusão. A Luna (persa) acabou fazendo amizade com a cachorrinha da minha mãe e minha mãe nunca mais deixou eu trazer o gato embora. No ano retrasado, apareceu mais um gatinho na casa da minha mãe, o Antônio, branco e amarelo, a coisa mais maravilhosa. Esse também eu brinco que mora com a avó. E, no ano passado, eu cismei que queria um gato preto. Aí eu adotei o Básico.
Ano passado, muito chateada com algumas coisas que aconteceram na empresa onde eu trabalhava, eu pensei “puxa, eu gosto tanto de gato, eu precisava arrumar alguma coisa pra fazer que envolvesse gatos”. E eu lembrei de umas reportagens que já tinha visto sobre o “caticafés”, que começaram no Japão e que agora estão em outros países, também. Aquele lugar onde você vai para tomar café e pode interagir com os gatos. Eu pensei em abrir um desses.
Inicialmente, eu tinha pensado em uma estrutura completa: tudo o que os gatos e os donos precisassem. A cafeteria, a loja, hotel, banho e tosa, veterinário; eu tinha pensado em um lugar completo somente para atendimento de gatos e gateiros.
Eu fui me informar na vigilância sanitária, foi o primeiro órgão que eu fui procurar. Lá, eu fui instruída de que não poderia fazer dessa forma; onde você tem alimentos você não pode ter animais.
Eu poderia, sim, ter a cafeteria junto com a loja. Mas eu não poderia ter os gatos soltos, como tem lá no exterior. Então, veio a ideia de fazer assim: um aquário. Muitos restaurantes por aí têm aquário, então eu também tenho um aquário (risos). A diferença é que meu aquário não tem água e tem um monte de gatos.
Laura Uliana: Você teve muitos problemas com a vigilância sanitária?
Fabiana Ribeiro: Aqui em Sorocaba, você monta o comércio, entra com o pedido na Vigilância Sanitária e aguarda a visita deles. Então é assim que vai acontecer comigo. Eu já entrei com pedido na vigilância, estou trabalhando e, um dia, um fiscal virá nos visitar. Aí que vamos descobrir qual vai ser a reação deles.
Mas tivemos o suporte de uma empresa de nutricionistas e a arquiteta que trabalhou conosco já tinha trabalhado, também, com outros restaurantes. A gente já tentou fazer tudo certo, tudo conforme a vigilância exige, para evitar problemas. Os gatos são totalmente isolados, a parte de higienizarão deles é toda isolada. Não tem contato nenhum. O pessoal fica frustrado, porque todo mundo quer pegar nos gatos. Eu entendo que, pra gente, é um sacrifício ver os gatos e não poder pegar, mas é exigência, não posso querer burlar.
Laura Uliana: Como você escolheu a raça dos gatos?
Fabiana Ribeiro: Alguns eu já tinha visto em feiras e exposições e eu já era completamente apaixonada, por exemplo, o Bengal e a Sphynx. Eu fiz uma pesquisa: entre as raças, quais delas se dão bem com outros gatos? Foi difícil, tinha mais de 200 raças e, para mim, eu queria todas. Cheguei em uma lista de 12 gatos, mas a gente acabou achando melhor deixar somente seis, pelo espaço, pra que ficasse mais confortável para eles.
Laura Uliana: Qual a raça favorita de quem vem aqui?
Fabiana Ribeiro: Quem faz mais sucesso é a Sphynx, a Milk. Porque é uma raça que pouca gente conhece pessoalmente. Muita gente chega, passa pela porta e quer ver a “gata pelada”. Por ser a mais exótica, é a que faz mais sucesso. Mas ela divide opiniões: ou o pessoal vem e ama ou o pessoal vem e ela causa bastante estranheza, porque é muito diferente. O pessoal fica meio “ah, é feio, ah, é estranho”, mas ela é muito simpática. Meu marido também não queria; a princípio, ele achou que ia assustar os clientes. Hoje, até ele é apaixonado por ela.
Laura Uliana: Ela exige algum cuidado especial, diferente dos outros?
Fabiana Ribeiro: Por não ter pelos, eu até achei que ela seria mais sensível. No começo, se eu sentia frio, colocava roupinha nela. Depois, descobri que ela não é assim, que não sente tanto frio, porque começou a dar alergia. O cuidado que tem de ter é com o sol, tem de passar protetor solar nela, principalmente nas áreas mais fininhas, e eu deixo sempre um cobertorzinho disponível. Se ela sente frio, ela procura o cobertor, porque não gosta de por roupa. Só à noite que, mesmo ela me mordendo, eu coloco a roupinha nela.
Laura Uliana: Qual a sua relação com os gatos daqui?
Fabiana Ribeiro: A gente abriu aqui há um mês, nós inauguramos dia 8 de maio, e eu comecei a buscar os gatos em fevereiro. Pra cá, eu achei legal que fossem gatos de raça pra divulgar, pro pessoal conhecer mais sobre gato. Quando você fala em gato, o pessoal só fala de persa e siamês. Como comecei a buscá-los em fevereiro, eles ficaram um tempo em casa. Não tem jeito, é filho! Ficaram lá em casa, tive alguns problemas de saúde com eles, aí tem de correr pra hospital e, pra mim, não tem como, são todas as minhas crianças. Sou uma mãe bem preocupada (risos).
Laura Uliana: Eles estranharam quando vieram para o Café?
Fabiana Ribeiro: Não, não. Alguns amigos que já sabiam do projeto sabiam que os gatos estavam em casa. Então eu recebi bastante visita em casa, de gente que queria conhecer os gatos. Eu acho que eles já foram acostumando um pouco. Eles já estavam todos juntos, só o Expresso (S.R.D.) chegou depois que a gente tinha inaugurado aqui o café, então ele sofreu um pouquinho com a adaptação. A Chocolate (Maine Coon), que é mais territorialista, ainda está estranhando um pouquinho.
Laura Uliana: Qual deles é o seu favorito?
Fabiana Ribeiro: Eu não consigo responder, porque cada um tem uma característica. O Expresso vem pedir carinho; o Chantilly (persa), só de olhar para ele já começa a ronronar; o Capuccino (Bengal) gosta de brincar; a Chocolate gosta de morder. Como cada um tem uma personalidade, eu não consigo escolher um pra falar que é meu favorito.