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Crédito: Yuri Andreolli

Crédito: Yuri Andreoli

No dia 28 de outubro, a Faculdade Cásper Líbero, em parceria com o Consulado Geral dos Estados Unidos em São Paulo, recebeu John Lewis Jr. diretor global de diversidade da Coca-Cola para uma palestra sobre Diversidade e comunicação em grandes empresas.

Bisneto de escravos, John Lewis conversou com Casperianos do curso de jornalismo sobre a responsabilidade dos comunicadores no mercado de trabalho em que atuam. Encarregado de levar todas as estratégias de diversidade, inclusão e equidade no local de trabalho pelos mais de 200 países onde a Coca-Cola atua, John conduziu o debate por meio da narrativa de sua trajetória de vida e experiências na empresa de 128 anos. Para ele, diversidade é um assunto de interesse profissional e uma paixão pessoal.

“Cheguei ao Brasil no domingo [26 de outubro], claramente um momento decisivo para o Brasil e para o mundo”, referindo-se à divisão do país em duas partes físicas ou ideológicas durante as eleições deste ano. “Como o passado mostra, alguns vão se encontrar no lado certo ou no lado errado da história, e parte disso depende de como os acontecimentos são narrados”.

Em busca da diversidade

Nascido em Houston, estado americano do Texas que prolongou a escravidão por dois anos após o decreto de liberdade do presidente Abraham Lincoln, em 1865, Lewis compara a história de sua família a uma sinfonia: o primeiro movimento foi iniciado por seu bisavô, e consistia na tentativa de se manter vivo. O segundo, de seu avô, era prover sustento à família. Ser uma pessoa simples e decente. Seu pai, o terceiro movimento, cuidou da educação.

Lewis estudou Direito na The George Washington University Law School, na capital dos Estados Unidos e construiu sua carreira, trabalhando em escritórios de advocacia, até que em 2002 foi convidado para fazer parte da Coca-Cola. “A chance de defender a empresa era um sonho inimaginável. Acho que foram as minhas desvantagens que me fizeram correr mais rápido e com mais força, pedir por mais e fazer mais”.

Mesmo com o reconhecimento, ele se sentia incomodado. “Eu me perguntava o motivo de as coisas deram certo para mim, mas para tantos outros advogados que parecem comigo, não. Por que na América, terra das oportunidades, obstáculos invisíveis detiveram minorias e mulheres? Também comecei a questionar o que eu posso fazer sobre isso e por que eu fui colocado onde estou. Quanto mais você dá, mais se espera de você. É o que se deve à sociedade pelos benefícios que recebeu, porque nenhum de nós fez algo para ganhar ou merecer a maior parte das coisas boas que nos aconteceram. Decida onde você se encaixa nessa equação e decida o que vai fazer com o que te foi dado”.

Movido por esses questionamentos, pela confiança que outras pessoas tinham nele, e pelo poder fazer parte da empresa cujo nome é o mais conhecido no mundo depois da palavra “ok”, Lewis começou a transferir os grandes escritórios de advocacia da Coca-Cola para empresas menores ou conduzidas por mulheres. Levantou discussões sobre as questões raciais, de gênero e sociais, que levaram à produção de artigos, às visitas a outras companhias e aos questionamentos dos representantes legais da Coca-Cola. “Eu aprendi que nas grandes empresas de advocacia dos EUA, pessoas como eu são invisíveis, mas naquele momento eu era o cliente dessas empresas. E o que eu precisava fazer era questionar”.

Ele contou que as pessoas ficavam desconfortáveis com perguntas incômodas promovidas por ele, principalmente entre 2006 a 2014. Para ele, começar a romper construtivamente e respeitosamente alguns paradigmas era o esperado devido a todas as coisas boas que lhe tinham acontecido. “Eu sou uma exceção, não uma regra para quem é como eu. Também comecei a perceber as questões com mulheres na minha profissão. Quando vemos coisas que não fazem sentido, temos que nos sentir intelectualmente estimulados e fazer perguntas”.

Um ano atrás, Lewis recebeu outra promoção, para ocupar seu cargo atual. Depois de 24 anos, deixou a carreira de advogado e entrou para a área de diversidade e comunicação global. “Que plataforma para iniciar discussões que começam com perguntas! Passei a cuidar mais do que de advogados, mas também de mulheres, minorias étnicas, gays, lésbicas e deficientes”.

O contexto brasileiro

E o que comunicadores precisam saber sobre uma grande companhia? De acordo com John, que ela opera com base em lucros. “Todos queremos vidas confortáveis e carreiras bem sucedidas”. O que a Coca-Cola faz não é caridade, ele afirma, filantropia e investimentos não são atos de benevolência, mas ações para ganhar credibilidade e fazer o negócio crescer. “Diversidade é negócio. Os negros estão se tornando maioria na América e não dá para ignorar isso. Como podemos vender um produto para todas as pessoas do mundo se nós não parecemos como todas as pessoas do mundo? Temos que adaptar os negócios ao ambiente. O mercado e os benefícios estão ligados a como lidamos com a cultura e pessoas e oportunidades”.

Falando aos futuros jornalistas, John Lewis deixa a mensagem: “O que vocês podem fazer nesse momento de transformações culturais no Brasil? E qual escolha vocês tem de não fazer? Qualquer grande movimento na história foi marcado pelo reconhecimento da dificuldade e a vontade de se envolver na luta que nos leva a um lugar melhor. Estou feliz e grato por poder dividir com vocês essa discussão no país. Pensem além das aulas, do diploma e perguntem-se: o Brasil precisa de um agente de mudança neste momento. Por que não eu?”.