Você já pensou num canal de TV em rede aberta operando apenas do meio-dia às 10 da noite e com toda a programação ao vivo, incluindo os comerciais?
Pois foi justamente nessa TV, a Record, que o diretor Nilton Travesso começou sua trajetória de 50 anos de produção audiovisual, que inclui programas de sucesso em todos os gêneros, como o musical, com os festivais da Record dos anos 60, o infantil, como o Balão Mágico (Globo), variedades, como o TV Mulher (Globo), e, é claro, a dramaturgia, com novelas como o Pantanal (Manchete) e Éramos Seis (SBT).
O ex-operador de câmera que virou ator, até descobrir que sua vocação era mesmo nos bastidores, criando, produzindo e dirigindo, hoje trabalha em três frentes: o rádio, dirigindo o programa Morning Show, da Jovem Pan de São Paulo; a TV, com o Saia Justa, do canal GNT; e formando novas gerações de atores na Oficina Nilton Travesso, com cursos profissionalizantes durante a semana ou intensivos aos sábados.
Abrindo a 8ª Semana do Audiovisual do Curso de RTV e Internet, da Cásper Líbero, na manhã desta segunda-feira, 11 de agosto, Nilton contou a alunos e professores da faculdade inúmeros causos que viveu ao longo dessa jornada na televisão.
Há 50 anos, essa novíssima mídia, que estava conquistando os brasileiros, precisava de profissionais do entretenimento, e Nilton Travesso, trabalhando na TV Record, então propriedade de Paulo Machado de Carvalho, começou a atrai-los dos outros meios de produção cultural. Junto com as vedetes do rádio, vieram também os grandes nomes do teatro, como Cacilda Becker, Walmor Chagas e o grande nome da história teatral brasileira, o diretor polonês Zbigniew Marian Ziembinski, o Zimba, que ajudou a revolucionar a arte da encenação, primeiro nos palcos e, em seguida, na telinha.
Dessa época em que não havia tecnologia para gravar previamente os programas, Nilton lembra-se dos concertos, balés e do teleteatro que tinha Cacilda Becker à frente, afinal, quem melhor para interpretar ao vivo do que esses atores acostumados ao ritmo do “ao vivo” do teatro?
Nilton dirigiu, sempre ao vivo, apresentações de grandes nomes como Charles Aznavour, Louis Armstrong e Marlene Dietrich. E de brasileiros como Inezita Barroso e Maysa. Olhe outro causo interessante aí: como Maysa não conseguia decorar as letras, e como a tecnologia do teleprompter ainda não havia sido inventada, o chão do auditório, no Teatro Brigadeiro, era forrado com dálias, onde estavam escritas, frase por frase, tudo o que ela devia cantar.
Daí para frente, a tecnologia virou aliada de Nilton Travesso. Surgiu o VT. O videotape, e o programa Chico Anísio Show foi o primeiro a ser gravado e editado antes de ir para o ar.
Seguiram-se tantos outros programas de sucesso dirigidos por Nilton, como a Família Trapo, com Golias, que tinha como redatores, Jô Soares e Carlos Alberto da Nóbrega; o Programa Hebe Camargo, que, Nilton afirma, com orgulho, ter chegado aos 74 pontos de audiência, algo digno, hoje em dia, apenas do capítulo final da novela das 21h na Globo; o Fino da Bossa, com Elis Regina e Jair Rodrigues; e os inesquecíveis festivais de música da Record.
Em meio à grave crise financeira que atingiu essa emissora, Nilton parte, em 1974, para a TV Globo, no Rio, participando do Fantástico, na época já em sua versão colorida. E sugere à emissora carioca que crie um núcleo próprio de produção em São Paulo.
Ideia aprovada, e com Nilton à frente, surgem sucessos de audiência como o infantil Balão Mágico; o programa de variedades TV Mulher; o Som Brasil, apresentando a música caipira de raiz, com Rolando Boldrin; além da telenovela Sinhá Moça.
Nilton seguiu na teledramaturgia, dirigindo sucessos em outras emissoras de televisão, como na extinta Manchete, com Pantanal, Ana Raio e Zé Trovão e Kananga do Japão; e no SBT, com Éramos Seis, As Pupilas do Senhor Reitor, Sangue do Meu Sangue, entre outras.
Ao final da palestra, no bate-papo que se seguiu com os alunos, Nilton Travesso confessou a inquietação com a programação atual das emissoras de TV.
Para ele, a criatividade do passado dá lugar a programas que buscam a sobrevida explorando a violência. “As temáticas sensacionalistas e policialescas tomaram conta do dia-a-dia das emissoras, em programas em que os apresentadores passam 3 ou 4 horas falando de um mesmo tema.”
Parabéns à Comissão Casperito por ter brindado os alunos da nossa faculdade com um nome tão importante para a produção audiovisual brasileira.