Esse foi o primeiro parágrafo da carta de aceitação da Columbia University para o brasileiro Eduardo Abduch Catelani, 18. O mesmo parágrafo se repetiu em outras quatorze cartas online – com a diferença de nome e o brasão da universidade, como a renomada University St. Andrews, no Reino Unido, até os quakers da University of Pennsylvania.
Apesar da felicidade que ultrapassa palavras e gritos, o caminho até o “Yes” das faculdades foi longo e muito burocrático, desde notas perfeitas no Ensino Médio a cursos extras. Hoje, realizado pela conquista, ele conta sua preparação para os applications, de onde nasceu seu interesse por estudar fora e quais seus planos futuros, quando embarcar para Nova York em agosto e se tornar oficialmente um Columbia Lion.
Entrar em uma faculdade no exterior já é algo fenomenal, mas você entrou em quatorze! Quais foram elas?
Bom, vamos lá, são muitos nomes (risos). Nos Estados Unidos, vou começar pela Costa Oeste: UCLA (Universidade da California em Los Angeles), UC Berkeley (Universidade da California em Berkeley). Agora na Costa Leste tem: Duke University, NYU (Universidade de Nova York), Universidade da Pensilvânia, Brown University, Columbia University e UChicago (Universidade de Chicago). Yale me deixou na lista de espera e eu fui rejected por Princeton, Cornell e incrivelmente por Vanderbilt, que era minha safety.
No Reino Unido, eu entrei em todas as faculdades que apliquei, que foram Bath, Warwick, Durham, LSE (London School of Economics), St. Andrews e a Kings College de Londres. Mas, na Inglaterra, ser aceito é meio provisório, porque eles te fazem a oferta de vaga no começo do ano, mas você precisa garantir uma certa média até a conclusão das aulas, que é em maio, para realmente entrar.
Como surgiu seu interesse por estudar no exterior?
Eu acho que nasci com essa vontade de estudar fora, mas sempre quis algo de longa duração e a universidade de quatro anos me parecia perfeita. Também cresci assistindo filmes e séries, onde o cenário era o campus das faculdades famosas, como Harvard e Yale, então essa ideia ficou na minha cabeça desde cedo. Conforme eu cresci, pesquisei mais e vi a quantidade de oportunidades vinculadas a essas universidades. Por exemplo, o professor de Economia em UChicago ganhou o Prêmio Nobel do ano passado. Para mim, é a chance de estudar com os profissionais que revolucionaram áreas da tecnologia, ciência, literatura, politica. Além disso, os alunos são os mais diversos e os mais talentosos, o que garante uma gama de personalidades e interesses variados. Os campus são bem planejados e você literalmente “vive” a faculdade, porque mora nos dormitórios. É uma experiência muito diferente! Durante o Ensino Médio, eu estudei nas férias de julho em Columbia University e em Yale, o que apenas afirmou esse meu desejo.
De que maneira você se preparou para entrar nessas universidades?
Estudei até a sétima série (hoje, oitavo ano) num colégio tradicional brasileiro e sentia que ali eu não teria assistência e nunca alcançaria meus objetivos. Por isso, eu me transferi para o St. Paul, a Escola Britânica de São Paulo, onde eles recebem milhares de alunos internacionais, tem no currículo o IB (Internacional Baccalaureate, um diploma internacional) e estão acostumados com o sistema de aplicação estrangeiro, seja o americano ou o britânico. Ali, eu participei de todas as atividades extracurriculares possíveis como Clube de Debate, Teatro, Basquete, Rugby, Jornal da Escola. Fui “School Captain” (o equivalente a representante discente), participei da Model UN (ONU Jovem) em Amsterdam e em Salvador, fiz um curso de verão de Ciência Politica em Yale e de Economia em Columbia, participei de um programa de sobrevivência chamado Duke of Edinburg. E sempre mantive as minhas notas altas. Como eu sabia que as faculdades buscavam alunos interessados e participativos, tentei me infiltrar em várias atividades extras e me destacar em áreas de liderança.
Durante o seu processo de preparação para as faculdades, você notou diferenças entre o sistema de entrada brasileiro e de outros países?
Bem, eu não tentei entrar em nenhuma universidade brasileira, mas tenho muitos conhecidos que entraram e eu notei uma diferença drástica. No Brasil é mais simples, você faz uma prova, o vestibular, e se conseguir uma nota boa, você entra. Às vezes é difícil, porque o curso é concorrido e tem algumas matérias chaves, mas é uma questão de conhecimento, ou você sabe o conteúdo ou não entra. Nos Estados Unidos, tem uma prova de inglês e matemática, o SAT, e a nota que você tira é importante, mas pode ou não definir se você entra. As universidades americanas querem conhecer você: saber seus interesses, em quais áreas você se destacou, se você ganhou algum prêmio, se tem um blog, um livro publicado, entre outras informações. Para tanto, tem uma série de fatores como: cartas de recomendação dos seus professores, uma redação sobre um tema especifico, boletins escolares, lista de atividades extracurriculares, suplementos, outras redações, perguntas a serem respondidas, uma entrevista presencial, mais de 100 no Toefl para estudantes internacionais. O que eles querem é conhecer o aluno como um todo e não apenas se ele sabe aplicar o Teorema de Pitágoras numa questão de matemática.
Você concorda com as aplicações internacionais ou acha o sistema brasileiro de prova melhor?
Os dois têm suas vantagens e desvantagens, particularmente eu prefiro o americano porque creio que ele ajude a “criar bons alunos” desde cedo, enquanto o brasileiro não incentiva tanto. O aluno que deseja estudar não só nos Estados Unidos, mas também na Inglaterra, precisa se esforçar para tirar boas notas, participar de atividades extracurriculares, fazer trabalhos voluntários. Assim, ele se integra à vida escolar. Já o aluno brasileiro, ele não precisa de tanto esforço, ele não vê uma motivação permanente para participar da vida escolar, basta passar numa prova de conhecimento. Não estou desmerecendo o vestibular brasileiro, só acho que as faculdades aceitam alunos apenas pela condição “eu sei tal coisa” e não pela condição “eu fiz, eu sou” que é muito mais válida.
Como você soube das decisões? Teve uma data específica? Foi por carta, e-mail, algum amigo ligou?
Eu soube a decisão das faculdades inglesas em dezembro de 2013 e janeiro de 2014 e dos Estados Unidos, quase todas saíram dia 27 de março, menos UCLA, UChicago e Duke. Por incrível que pareça, no dia 27, eu não estava muito nervoso, eu tinha uma prova na escola, aí minha cabeça ficou ocupada com isso. Mas, quando o relógio tocou às seis horas, o horário que as faculdades publicavam as decisões, toda a minha tranquilidade foi por água abaixo. Uma amiga estava em casa e nós abrimos o site de todas as faculdades numa janela da internet. Quando você aplica, eles (as universidades) criam uma conta no site para você conferir seu resultado. Eu entrei primeiro em Cornell, estava esperançoso, porque era a mais provável de entrar das Ivy League, mas fui rejeitado. Logo depois, eu entrei no site de Columbia, afinal mais uma rejeição não me mataria, mas apareceu um enorme “Congratulation”. Foi surreal. Com essa aceitação inesperada, eu achei forças para abrir as outras.
E as cartas de rejeição e aceitação, elas são todas padronizadas ou cada faculdade tem uma especificidade?
As cartas de aceitação costumam ser bem parecidas. Tem sempre um Congratulations e várias parabenizações sobre como você se destacou, como você e seus pais devem se sentir orgulhosos. A carta de UPenn era a mais divertida, tinha música e vários confetes de festa.
As cartas de rejeição (risos) costumam ser as mais diferentes. Algumas faculdades escrevem um enorme texto educado para não deixar a pessoa tão decepcionada, se bem que até os textos mais simpáticos não ajudam muito. A pior carta que eu vi até hoje foi de Princeton. Além de lidar com a decepção de não entrar, você tem que ler uma carta malcriada que praticamente te humilha. Algo na linha do “a Universidade de Princeton exige padrões muito altos de seus alunos, e, infelizmente nem todos os candidatos são elegíveis”.
Você tinha altas expectativas sobre as universidades? Havia alguma que você tinha certeza que entraria, outras que tinha dúvida?
Nossa, sim! Quando nós aplicamos, fazemos uma estimativa se temos chance de entrar em alguma faculdade, se somos o “perfil” de aluno, desde as notas até as atividades extras. Para isso, a gente compara o perfil dos alunos aceitos em anos anteriores, a média em provas que as faculdades pedem e vários outros fatores. Então, nós separamos em três partes: as tops, geralmente as faculdades mais concorridas como Yale, Harvard e muito difíceis de entrar. As reach, que são universidades renomadas, mas que temos muita chance, e as safetys, que são quase certeza que seremos aceitos.
No meu caso, as tops eram as Ivy Leagues: Princeton, Yale, Brown, Columbia, Cornell e UPenn. As reach eram UChicago, Berkeley, Duke e UCLA. A minha única safety era Vanderbilt. Eu tinha uma leve esperança de entrar em pelo menos uma das tops, principalmente Yale, minha primeiríssima opção, mas eu achava que não entrava em Columbia de jeito nenhum e tinha certeza absoluta que entrava em Vanderbilt.
No final deu o contrário, Yale me deixou na lista de espera, Vanderbilt me recusou e Columbia me aceitou.
Entre as faculdades nos Estados Unidos e no Reino Unido, qual você preferiu?
A minha primeira opção sempre foram os Estados Unidos, talvez pelo fato de me identificar mais com a cultura, já ter viajado muito para algumas cidades de lá, estudado por algumas semanas nas férias. A Inglaterra surgiu como segunda opção, porque o processo de entrada em universidades britânicas é um pouco diferente. Na Inglaterra, por mais que eles se importem se você foi líder estudantil, escreveu para o jornal da escola, fez trabalho voluntário, o que vale mesmo são as suas notas. E eu tinha notas que me garantiriam uma vaga, então achei melhor aplicar como um Plano B. Até porque se algumas faculdades nos EUA não me aceitassem, eu ficaria feliz de estudar na St. Andrews ou em Londres, na London School of Economics.
Depois de ver que quatorze faculdades te aceitaram, foi difícil escolher?
Eliminei as faculdades britânicas quando fui aceito em ótimas universidades americanas. A partir daí, fui eliminando por afinidade, localização geográfica e reconhecimento. Apesar de serem maravilhosas, excluí as faculdades da California, UCLA e Berkeley, por causa dos terremotos, já que a minha mãe ficaria preocupada. Sobraram no final três: UPenn, Brown e Columbia. Viajei para Nova York e participei da semana para calouros em Columbia. No começo eu simpatizava com a universidade por ter estudado ali nas férias e por ser tão renomada, mas conforme eu conheci as pessoas e assisti uma aula de Literatura sobre Crime e Castigo do Dostoievski, acabei me apaixonando. De qualquer forma, eu visitei UPenn, mais por desencargo de consciência, e não me identifiquei com as pessoas, a cidade, a faculdade. Nem visitei Brown, minha mãe e eu tínhamos as passagens de trem marcadas, contudo pedimos reembolso e aproveitamos mais de Nova York. Hoje, eu me comprometi com Columbia e estou cem por cento feliz com a minha decisão. Além de ser uma Ivy League, os professores são incríveis – alguns ganharam diversos prêmios -, o campus é lindo e, claro, fica em Nova York! Eu não poderia querer algo melhor.
E agora, quais os próximos passos para estudar em Columbia?
A parte mais chata de tudo, os documentos da imigração! Tenho vários papéis para enviar, como histórico escolar, ficha de vacinação, atestado bancário. Quando a Secretaria de Alunos Internacionais de Columbia tiver todos esses papeis, eles me enviam o I-20, um documento para comprovar a entrada na universidade e aí eu posso dar entrada no visto de estudante. Tem que aplicar para o dormitório da faculdade, ler os manuais de como organizar e escolher as aulas, fazer as malas… Às vezes parece pouca coisa, já que eu me formei e estou de férias, mas quando eu listo tudo, é muita coisa!
Quando começam as aulas?
Eu me mudo dia 20 de agosto para os dormitórios de Columbia e até dia 1 de setembro tem orientação, mas o dia exato que começam as aulas eu não sei.
Quais matérias você pretende estudar? Tem um curso definido?
A princípio, eu quero fazer Political Science (Ciências Politicas), mas nós podemos mudar de curso nos primeiros anos. É como se o primeiro e o segundo ano fossem meio “testes”, podemos fazer várias matérias diferentes e ver o que mais gostamos. Sobre as matérias, nós temos uma liberdade enorme para escolher, só que também temos um “Core”, uma série de áreas do estudo que precisamos cumprir. Então, eu poderei estudar Literatura Russa, mas sou obrigado a ter alguma aula de matemática. É como cumprir carga horária.
Você pretende trabalhar nos EUA ou retornar para o Brasil?
Honestamente, eu não sei. Quando se estuda em faculdades americanas, principalmente numa cidade como Nova York, a oferta de empregos e estágios é enorme, então é muito possível que eu comece a trabalhar por lá. Acho que tudo depende do tempo, primeiro eu quero chegar em Columbia, me adaptar e só no terceiro ano pensar de fato o que eu vou trabalhar.
Nesse momento, quais são as esperanças para agosto? Já está começando a sentir saudade de algo no Brasil?
Estou muito ansioso, especialmente agora que eu entrei de férias e me formei no colégio, o que é animador e também saudoso. Eu fico idealizando minha experiência em Columbia, um estágio na ONU, férias em algum lugar legal, mas também fico triste por me separar de pessoas tão queridas: meus amigos do St. Paul, meus amigos de infância, minha família. É uma montanha russa.
Definitivamente não sentirei saudades do trânsito infernal de São Paulo, dos assaltos! Vou sentir falta da comida e do jeito caloroso dos brasileiros, os americanos são mais frios e contidos.