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Cada cadeira trazia o nome de um jovem negro que foi assassinado. | Foto: Beatriz Vecchi

O evento Genocídio da juventude negra brasileira foi idealizado pelo coletivo AfriCásper, formado por alunos e alunas negras da Faculdade Cásper Líbero, em parceria com a Coordenadoria de Cultura Geral. O objetivo do encontro foi levantar discussões e reflexões sobre o tema do atual genocídio da juventude negra brasileira, suas raízes históricas, sociais e o mito da democracia racial.

O coletivo, atualmente, é formado pelas Casperianas: Juliana Renata, Lívia Martins, Bruna Cambraia, Beatriz Magalhães, Giovanna Gilio, Thaís Regina, Sophia de Mattos e Laís Franklin. Se você ficou interessado em conhecer mais sobre a formação desse importante grupo de ação Casperiano, clique aqui e leia a matéria de Bruna Cambraia, Bruna Araújo e Matheus Meirelles sobre a história do coletivo!

A mesa de debate foi conduzida por Lívia Martins, formanda do curso de Jornalismo da Cásper Líbero, representando o coletivo AfriCásper e mediada por Juliana Serzedello Crespim Lopes, do Instituto Federal de São Paulo, ex-docente da Faculdade.

Para discutir sobre o tema, foram convidados: Julia Drummond, mestranda de direitos humanos na Faculdade de Direito da USP e militante do Coletivo Quilombo Oxê, da mesma instituição; Eliane Dias, ativista feminista e advogada, foi assessora parlamentar na Assembleia Legislativa de São Paulo, onde atuou na Comissão de Direitos Humanos, e é produtora do grupo de rap Racionais MC’s; Tamires Gomes Sampaio, formada em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e militante do coletivo AfroMack; Danilo Lima, ex-diretor de DCE – UFSCar e conselheiro municipal juventude em SP. Coordenação do Coletivo Nacional de Juventude pela Igualdade Racial – CONAJIR, Juventude Educafro, Fórum Nacional de Juventude Negra e membro do Grupo de Estudos Étnico-Raciais na UFSCar e Silvio Luiz de Almeida, pós-doutorando pelo departamento de Filosofia e Teoria Geral do Direito da Faculdade de Direito da USP. É doutor em Filosofia e Teoria Geral do Direito pela USP, presidente do Instituto Luiz Gama, advogado e militante do movimento negro.

Logo no início do debate, a mediadora Juliana Serzedello pontua: “Para nos debruçamos sobre um tema tão áspero é preciso coragem”. As falas e comentários de cada um dos convidados trouxeram dados e estatísticas sobre uma realidade velada. Você sabia que a cada 23 minutos um jovem negro morre no Brasil? “Pessoas viram números, estatísticas, mas por trás dos dados, pessoas reais estão morrendo todos os dias”, expõe Laís Franklin.

Confira os destaques de importantes falas e reflexões da noite:

julia-destaque“Esse é um país enorme, com 53% da população negra e apenas 7% estão na USP. 70% dos negros são assassinados e como não podemos falar sobre genocídio? (…) No Brasil, a noção de ascendência e descendência não é nítida para os negros, porque nos foi tirado com a escravidão. Nós não sabemos de qual parte da África viemos. (…) Muitos brasileiros não se identificam como negros, falam pardo. Pardo? O que é pardo? É preto!” – Julia Drumond

tamires-destaque“Falar sobre o genocídio da população negra é falar da História do Brasil, pois isso acontece desde a escravidão e dois terços da história desse país são marcados por esse processo, pois quando se aboliu a escravidão não foram criadas políticas públicas que inserissem o negro na sociedade. Pelo contrário, foram criadas leis como a Lei da Vadiagem, a criminalização da capoeira. (…) O racismo é estrutural e estruturante na nossa sociedade”. – Tamires Gomes Sampaio

luis-destaque“Eu costumo usar a designação ‘extermínio’ no lugar de ‘genocídio’. Isso porque se observarmos, a morte sistemática de jovens não é tido como algo anormal. E o genocídio deve ser combatido por medidas político-jurídicas para evitar uma anomalia. O sistema funciona como funciona. Isso nos coloca em uma outra postura, uma postura de transformação do sistema (…) que engloba a política, economia e formação da subjetividade”. – Silvio Luis de Almeida.

danilo-destaque“Vocês sabem quantas horas de programas policiais são exibidos na televisão brasileira? Eu pesquisei e são cerca de 30 horas semanais. Programas que mostram a prisão e a violência com jovens negros. Então eu vejo o jovem, negro e periférico morrendo, e eu percebo que eu estou nessa classe. Sou eu quem está morrendo”. – Danilo Lima.
eliana-destaque“Eu tenho dois filhos, jovens negros, que contrariam as estatísticas. (…)
As mulheres são criticadas pela forma como usam seu cabelo. Se usam trança, se não usam trança, em diversos ambientes. (…) O racismo institucional não dá oportunidade para a entrada no mercado de trabalho. (…) E se a PEC 241 for aprovada, nossa raça sofrerá, nós, mulheres negras sofreremos as consequências.” – Eliane Dias.

O evento foi um marco muito importante para a Faculdade, levantando questões e reflexões em todos os Casperianos que puderam participar e debater sobre uma realidade presente em nosso país. Confira mais algumas fotos da palestra: