A mesa sobre jornalismo de moda da 22ª Semana de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero foi de tamanho sucesso que lotou a sala Aloysio Biondi, mostrando assim que não é pequena a procura por estudantes em trabalhar no mercado da moda. Com a mediação da professora Filomena Salemme, a mesa teve a participação da consultora de moda e ex-editora da revista Elle, Jussara Romão, do professor e coordenador do curso de jornalismo, Carlos Costa, que também dirigiu a revista Elle, entre 1966 e 1999, e da aluna do 4º ano de jornalismo, Marina Espindola, criadora do blog e TCC Costanza Who?
Artista plástica por formação, Jussara Romão decidiu que queria trabalhar com moda ao ter pela primeira vez uma revista Vogue em mãos. Foi paixão à primeira vista. Ela queria, então, trilhar uma profissão que não era considerada de muita importância – a de jornalista e produtora de moda. A vida de um jornalista de moda é charmosa e interessante. Mas não é só de uma vida de glamour que é feita sua profissão: tem muito trabalho por trás das belas reportagens encontradas nas revistas. Segundo Jussara Romão, chega uma hora que o ritmo frenético das “Fashion Weeks” cansa. Mas como admite Carlos Costa: “o bom de nossa profissão é que não vamos morrer de tédio”.
Marina Espíndola, prestes a se formar jornalista pela Faculdade Cásper Líbero, comanda o blog Constanza Who?, que na verdade surgiu como o seu projeto de TCC – o trabalho de conclusão de curso. Ela acredita que, para os estudantes de jornalismo, blogs são uma ótima forma de criar um portfólio de seus trabalhos. Marina e Jussara falaram sobre a grande popularidade dos blogs de moda quando surgiram, pois trouxeram a moda como experiência pessoal do blogueiro ao vestir certa peça de roupa ou usar determinada maquiagem. Assim, tiveram o diferencial de levar para o leitor a individualidade, atingindo muito mais as pessoas com a sua linguagem do que os textos dos editoriais das revistas. Foram eles que começaram a propor a ideia de ser diferente, de não vestir exatamente o que as revistas sugerem, e sim criar suas próprias referências.
E esse movimento atingiu as passarelas, segundo Jussara. Ela mencionou o próprio desfile da Chanel, que havia acontecido na manhã de terça-feira: as modelos encerraram a apresentação como se estivessem em um protesto pelos direitos das mulheres e de autonomia fashion. O próprio cenário recriava as ruas de Paris e modelos seguraram cartazes com dizeres “Seja você mesma!”. “Quer mais transformação que isso?”, narrou Jussara. E ela continuou afirmando “Hoje a passarela representa o que está acontecendo na rua”. Os grandes estilistas perceberam isso, a superação da rua na expressão individual de cada um, e eles levam cada vez mais tendências do streetsyle para as passarelas.
Segundo o professor Carlos Costa, o mundo da moda é divertido, porém pouco valorizado. Muitos vêem a área da moda como superficial e fútil. No entanto, os convidados provaram o contrário, e o preconceito com que o jornalismo de moda é encarado hoje foi bastante discutido. “Deve-se pensar que o segmento da moda é um campo sério, que exige pesquisa e preparo”, afirmou o professor, que também cuidou dos textos das grandes reportagens do conceituado Fernando de Barros, quando esse grande personagem da moda editava as páginas de estilo da revista Playboy. Como qualquer outro segmento de produção e consumo, o mercado da moda é bem expressivo, correspondendo a cerca de 15% do Produto Interno Brasileiro.
Todos os convidados ressaltaram, então, a importância de estudar a moda com profundidade e dedicação. Ter conhecimento sobre um assunto é fundamental para basear opiniões, influenciar com o pensamento, e direcionar o mercado. “Ninguém nasce autodidata, precisamos estar constantemente lendo. Como dizia Gonzaguinha: ser eternos aprendizes”, afirmou Costa. E tão importante quanto o conhecimento, o jornalista deve criar sua assinatura própria, a voz de sua personalidade, o que acaba sendo o seu diferencial. “Se você não estiver muito apaixonado, tudo será difícil. Não será prazeroso”.
Jussara Romão esteve à frente do reposicionamento da loja de departamentos Renner, e aceitou o desafio de criar uma revista que gerasse o desejo do consumidor. Geralmente, profissionais da moda se arrepiam ao pensar em trabalhar com grandes lojas de varejo. Catálogos e propagandas de marcas populares normalmente não são feitos com tanto empenho e qualidade como os das grifes de alta costura. Criar a revista da Renner foi então um trabalho que Jussara agarrou: ela quis criar o melhor que pudesse: “Vou fazer tudo o que gostaria de receber se fosse cliente. Vou tratar como se [a Renner] fosse a Chanel”. Reuniu uma equipe sem preconceitos, que queria de fato construir algo novo. O intenso trabalho foi um grande sucesso, que alcançou o objetivo de reposicionar a marca no mercado. Jussara trabalhou com a construção de sensações que, segundo ela, é o papel da comunicação, de aproximar o público: “jornalistas são vendedores; eles vendem as marcas, constroem uma imagem, que vai fazer com que o consumidor tenha desejo de adquiri-la”.
No final, Jussara sorteou seu novo livro, Arquivo Urbano – 100 anos de Fotografia e Moda no Brasil, e ainda brincou: “O livro vai cair nas mãos certas!” Indicado ao Prêmio Jabuti, seu trabalho retrata a trajetória da moda brasileira sob o ponto de vista comportamental, com o uso de fotos de família. Encerrou com chave de ouro uma excelente mesa, que deixou cada pessoa presente com um sorriso estampado no rosto: “Acreditem em seus sonhos. Vocês estão escolhendo um caminho que amam. Estudem. E não percam a oportunidade de fazer a diferença. Boa sorte!”.