1) O que o impulsionou para o campo artístico? Como se deu o descobrimento da paixão pela música?
Minha história pessoal foi me encaminhando para essa relação com a arte, desde pequeno, auxiliado e motivado pelos meus pais. Minha maneira de encarar a vida e o mundo, de forma mística, também foi um dos motivos importantes a me impulsionar, por encontrar na música elementos que, para mim, estão muito próximos dessa dimensão. E, por fim, me estimulam a relação da música com o autoconhecimento, com o que me faz melhor como pessoa, e com o que tenho a dizer ao mundo por meio dela.
2) Sua formação musical foi espontânea ou o contexto da sua vivência influenciou suas escolhas?
Desde que eu me entendo por gente, a música sempre foi parte integrante da minha vida. A paixão pela música deu-se desde muito cedo. Lembro muito bem de minha mãe que adorava cantar enquanto trabalhava. Meu pai também gostava muito de música e foi o responsável por me apresentar vinis de grandes artistas nacionais e internacionais. Assim, cresci nesse ambiente privilegiado e propício ao som. Comecei a aprender a tocar violão aos oito anos, ainda no interior de São Paulo, e quando cheguei à capital iniciei os estudos formais em canto popular no Centro de Estudos Musicais Tom Jobim (antiga ULM, atual EMESP) e mais tarde em Educação Musical pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
3) Como, quando e por qual razão ocorreu a decisão de profissionalizar o seu dom?
Profissionalmente, iniciei minha carreira musical há dez anos, como cantor do grupo Trovadores Urbanos, o qual tem como propostas o repertório de música brasileira e a preservação das serenatas na cidade. Há sete anos, veio a formação acadêmica. A razão que me impulsionou ao estudo foi a percepção do meu potencial e minha habilidade musical, que me chamavam cada vez mais para tal vivência. Foi desse ponto que surgiu a necessidade de um maior aprofundamento e estudo para poder realizar da melhor forma a profissão de músico.
4) Qual é a vantagem de transformar o ofício em prazer? De trabalhar com algo que oferece um retorno profissional e, ao mesmo tempo, possibilita a vivência diária com seu hobbie?
A vantagem é de fazer o ofício com alegria e realização, tornando a sua vida e a dos outros mais leves.
5) Seus alunos o conhecem por Agostinho, o encontramos no Facebook como Junior e seu nome artístico é Tino de Lucca. Levando em conta tamanha diferença, qual é o significado por trás de seu pseudônimo musical?
Todos nós somos muitos dentro de um só. E assim a gente vai dando vida a todos os “eus” que habitam o nosso “eu” de carne e osso. Contudo, o nome artístico nasceu da inspiração do final do meu primeiro nome de batismo: “Agostinho”. E Lucca se deu por conta do seu significado: luz.
6) Como surgiu a possibilidade de gravar seu primeiro álbum, o intitulado “Inequação”?
Foi a junção de quereres. Tenho um amigo muito próximo, também músico, e que por sinal é o produtor do disco, que há tempo vinha me incentivando para registrar meu trabalho. Em princípio tive uma certa resistência, mas motivado pelo entusiasmo juvenil dele acabei aceitando. Começamos então o processo de escolha e pesquisa do repertório, nada fácil por sinal, por ser a música brasileira de extrema beleza e riqueza. Foi um disco que teve um tempo de quatro anos para ser gestado por questões financeiras, somadas ao grande número de pessoas envolvidas no trabalho.
7) No processo de gravação, a sua prioridade recaía mais sobre a produção de covers ou sobre a vontade de gravar suas próprias composições?
Todo artista quer mostrar a sua produção enquanto compositor, contudo, torna-se inevitável pensar sobre a exposição que isso pode causar num primeiro impacto, ou seja, num primeiro disco. Daí decidi utilizar meu lado intérprete no disco. Tenho apenas uma composição, intitulada “Risco”, que é a faixa dez do CD. Assim, lanço meu primeiro trabalho intitulado “Inequação”, onde apresento obras inéditas de compositores da nova geração e releituras de clássicos da música brasileira.
8) Quais as vantagens da gravação independente? E quais os maiores desafios encontrados?
A vantagem é de poder realizar um trabalho com maior liberdade, deixar o disco com a sua cara e fugir dos grandes padrões comerciais. Você mesmo escolhe os músicos que deseja interar no seu trabalho e os arranjos coerentes com a sua concepção musical. A desvantagem é a questão financeira, necessária para que se faça um trabalho bem-feito sem o apoio de uma grande empresa. Tem que se virar bastante!
9) Você, que se envolveu em todas as etapas da produção do CD, considera qual momento como mais valioso? E qual deles trouxe mais satisfação artística?
Pra ter a cara da gente, ou ao menos pras pessoas comentarem que tem alguma coisa parecida com a gente, é necessário se envolver e se entregar integralmente ao projeto. Participei da elaboração de cada acorde, de cada harmonia. Foi um trabalho muito artesanal e a satisfação é encontrada quando você começa a ver aquilo se lapidar. Uma experiência única!
10) Como ocorre a relação do músico independente com o público? Você acha que tal relação é diferente quando se trata de artistas midiaticamente conhecidos?
É um trabalho muito manual de conquista e construção diária da sua carreira. Contudo, acredito que, como em qualquer uma, relação do músico independente com o seu público se torna muito mais consistente, alicerçada, e não passageira. Você tem que conquistar o seu público com aquilo que você é, sem aparatos midiáticos. Assim, o resultado é uma cumplicidade é muito maior. Aquele público conquistado não é passageiro. Ele chega e fica.
11) Você acha que, atualmente, a mídia brasileira é adepta às manifestações artísticas independentes? Como a busca por visibilidade ocorre, por parte de tais artistas?
Não. A mídia brasileira está preocupada com aquilo que dá a ela um retorno imediato. Raramente conseguimos enxergar pequenos sinais de trabalhos independentes em canais que tem um olhar mais atendo às manifestações culturais expressivas. Em contrapartida, encontramos hoje na internet as várias formas de promover um trabalho artístico. Assim, a busca por visibilidade se dá no espaço democrático da Internet. E é só no meio digital que você consegue reunir tantos artistas e ainda disponibilizar tudo sobre o seu trabalho, atingindo todos os gostos.
12) Em sua opinião, há outro campo artístico que obtenha melhores retornos midiáticos do que a música? Qual e por quê?
Tenho muitos amigos músicos, cineastas, escritores, atores e acredito que todos estão no mesmo barco, buscando mostrar o seu trabalho da melhor forma possível. Quem precisa nos enxergar é a mídia, a fim de que nosso trabalho chegue a todos os gostos da forma democrática que oferecemos.
13) As atividades que você exerce fora dos palcos complementam, ou até mesmo caminham juntas, com sua vida musical?
Juntamente à carreira artística, atuo como professor e educador musical em escolas da cidade de São Paulo. Assim, sempre procuro unir a música a tudo o que produzo diariamente. Dessa forma, minhas atividades se complementam.
14) Você considera que a música independente é, acima de qualquer retorno financeiro, uma forma diferente de encarar a produção musical? Por quê?
Com certeza. E é por isso que, cada vez mais, surgem selos independentes e artistas que apostam nisso. Porque, graças a uma série de coisas, principalmente a internet, hoje uma banda ou um cantor solo, tem cada vez mais chances de se dar bem com um público específico. Tem tudo para todos os gostos. Só é necessário que tudo seja apresentado de uma forma que o público possa fazer suas escolhas. A web permite que as pessoas conheçam muitas coisas diferentes e encontrem músicas do seu gosto sem precisar ser convencidas por grandes empresas. Por outro lado, os artistas têm na internet uma infinidade de possibilidades de divulgarem o seu trabalho e encontrarem seus fãs – por mais específicos que eles sejam.
15) Acerca do futuro da profissionalização musical no Brasil, você acha que há a possibilidade da construção de um mercado mais adepto à produção independente?
Sim, e é nisso que consiste nossa luta diária. Hoje temos uma geração de pessoas muito independentes, autônomas e que sabem o querem. Logo, a tendência de um mercado mais adepto à produção independente torna-se cada vez mais real.