Mulheres indígenas de diversas partes do mundo estão entre os grupos que mais chamaram a atenção durante a primeira semana da Conferência do Clima, em Bonn, Alemanha.
No pavilhão indígena, instalado na Zona Bonn, espaço reservado para as instituições não-governamentais, uma mesa formada por integrantes da Organização de Mulheres Indígenas Andinas e Amazônicas do Peru (Onamiap, na sigla em espanhol), na sexta-feira, 10, abordou o papel das mulheres na governança do território e na preservação do meio ambiente.
As participantes denunciaram que não estão sendo ouvidas nem ineridas nos processos de tomada de decisões sobre o uso e a ocupação territorial. Um estudo de 2012, do Censo Nacional Agropecuário (Cenagro), divulgou que apenas 3% das comunidades nativas e de camponeses são lideradas por mulheres, apesar delas comporem metade dessa população. Essa estatística faz reduzir as diferenças entre andinas e amazônicas, que passaram a ser unir para, juntas, alcançarem os objetivos coletivos, inclusive com apoio de feministas atuantes em outros grupos e movimentos sociais.
Durante séculos, as mulheres indígenas têm sido as principais guardiãs do meio ambiente, com destaque à preservação e transmissão de saberes e práticas ancestrais para o cuidado da terra e das florestas. Como as mudanças climáticas afetam diariamente as atividades das indígenas, em especial a produção de alimentos, prejudicada pelo solo contaminado e empobrecido, o apelo delas ganha ainda mais importância.
As palestrantes explicaram que como as mulheres têm suas próprias reivindicações e questões peculiares, somente outra mulher pode entendê-las, mas nem por isso deixam de defender os direitos dos povos como um coletivo. “Defender os direitos da terra e uma vida digna para a Mãe Natureza não é defender direitos particulares e sim universais”, ressaltou Tarcila Zea, membro da Onamiap e ativista indígena.
Para Zea, o papel do seu povo na proteção ambiental precisa ser reconhecido. “A relação dos povos indígenas com as terra e os recursos naturais é o que garante a vida do planeta, e, portanto, de todos os seres humanos”.
Entre os apelos das indígenas estava o de mostrar que muito pode ser aprendido com os povos tradicionais. Ainda que marginalizadas em seus países, eles conseguiram garantir participação nas conferências do clima com apoio do Fórum Internacional de Povos Indígenas sobre Mudanças Climáticas. Criado em 2008, no âmbito da ONU, o Caucus Indígena, como o Fórum também é conhecido, tem tentado garantir a presença dos povos indígenas nas discussões em torno do Acordo de Paris.
Segundo dados da ONU, há mais de 370 milhões de indígenas no mundo, um dos grupos mais vulneráveis às mudanças climáticas, uma vez que dependem diretamente da natureza para sobreviver.
Para garantir a participação deles na COP23, como a reunião das mulheres indígenas, o pavilhão conta com uma agenda extensa de encontros, debates e discussões sobre os impactos e as respostas dos indígenas às ameaças do clima.
E a reunião da Onamiap encerrou de forma otimista. Mulheres estão assumindo cargos de maior prestígio e têm buscado mais aliados para a causa que defendem. Quando questionada sobre como mulheres e homens podem melhorar sua relação com o meio ambiente, Melania Cabales Poma, outra ativista presente no debate foi objetiva: “a resposta é a união e o respeito, somente assim conseguiremos trabalhar juntos contra as mudanças climáticas”.