Crédito: Letícia Negresiolo

Crédito: Letícia Negresiolo

Quem entrasse no Auditório Aloysio Biondi, no 5º andar da Cásper, na sexta-feira dia 3 de outubro, último dia da 22ª Semana de Jornalismo, encontraria uma mesa composta por belas e inteligentes jornalistas, que participaram o debate sobre “Mulheres no Jornalismo Esportivo” com muitas histórias, brincadeiras e dicas em um ambiente descontraído. Com mediação da professora Tatiana Ferraz, a mesa teve participação de Camila Mattoso, da ESPN; Silvia Garcia, apresentadora do programa televisivo Auto Esporte durante 10 anos; e Vanessa Ruiz, do Uol Esporte. Durante a palestra elas acabaram com o velho tabu e deixaram claro que, sim, mulher entende e muito de futebol e de esporte.

A mediadora Tatiana é professora de Radio e de Telejornalismo da Faculdade Cásper Líbero e tem um programa na Rádio Estadão pela manhã. Trabalhou com jornalismo esportivo no fim da década de 90 nos SBT e na TV Record. Cobriu a Copa da França de 1998 pelo SBT, segundo ela, graças ao francês que fala até hoje. Inaugurando as discussões, Tatiana já logo demonstrou sua admiração e se declarou uma grande fã de Regiani Ritter. Contou que a jornalista, na década de 1980 foi a grande pioneira do jornalismo esportivo feminino na imprensa brasileira, trabalhando no Mesa Redonda Esportiva da TV Gazeta. Ressaltou, em seu relato, que nas próprias discussões dentro do programa, Regiani era muito descriminada pelos colegas homens, sem falar de quando, ao realizar entrevistas nos vestiários, se deparava com jogadores nus, que faziam questão de deixar bem claro que aquele ambiente era exclusivamente masculino. Sendo a inspiração da professora Tatiana, Regiani Ritter “soube se impor” e superar todas as barreiras, e assim abriu portas para que desde então mulheres pudessem entrar nesse ramo do jornalismo.

Camila Mattoso, a mais jovem componente da mesa e ex-aluna da Faculdade Cásper Líbero, já morou em Londres onde cobriu as Olimpíadas e trabalhou lado a lado do repórter Andrew Janes, da BBC, de jornalismo investigativo, que a ajudou nas investigações sobre FIFA e CBF. Ela também trabalhou na Rádio Bandeirantes e fez parte de uma coluna no jornal Lance!. Atualmente ela está trabalhando na ESPN. Quando perguntada sobre o preconceito, Camila contou que já sofreu com isso diversas vezes. Um exemplo citado por ela é de quando liga para cartolas de clubes, para uma entrevista ou conseguir informações, eles a convidam para jantar, “se fosse um homem, eles com certeza não convidariam”. Também contou sobre a falsa lenda que paira sobre as mulheres nesse ramo, chegando a ouvir diversas vezes de seus colegas homens coisas como “…Melhor você ir tentar essa entrevista, vai conseguir mais fácil porque é mulher!…” Mas revelou que situações como essas são as que você precisa enfrentar para conseguir produzir suas matérias, sempre impondo respeito e deixando claro seu profissionalismo. Confessou algo que a deixa indiguinada: o fato de repórteres masculinos poderem se envolver normalmente com atletas femininas; agora, se uma jornalista do meio esportivo se envolve, por exemplo, com um jogador de futebol, automaticamente ela se torna mal vista e acaba com a sua carreira.

Quando cursava a faculdade Cásper Líbero, a jornalista Vanessa Ruiz não tinha como objetivo trabalhar com o jornalismo esportivo. Ela gostava de esportes, mas não achava que era algo tão sério para se dedicar a ele, considerava um setor menor, apenas um hobbie. Porém no último ano do curso, quando começou um estágio na emissora CBN, acabou entrando de vez no mundo do esporte. Foi nesse momento que percebeu que esse também era um importante nicho no jornalismo a ser explorado, com muitas matérias boas a serem elaboradas. Desde então, ela nunca mais saiu do jornalismo esportivo, acabou se direcionando ao automobilismo e chegou a cobrir uma temporada inteira de F1 para a ESPN. Nesse ano ela cobriu a Copa do Mundo no Brasil pelo UOL Esporte. Vanessa contou que por trabalhar mais com rádio, demorou a perceber que existia o preconceito com as mulheres nessa área, mas que essa discriminação acabou ficando bem clara. E quando um dia seu chefe a chamou e contou quase tê-la escolhido para cobrir as Paraolimpíadas, “Eu estava entre você e um cara, e resolvi mandar ele, porque mulher é mais frágil, para se virar na China ia ficar muito complicado…” Ela disse ter ficado bastante pensativa depois dessa situação, preocupada se passava uma aparência frágil talvez por ser muito magra.

Nascida e criada dentro da TV, filha de um cinegrafista e fotógrafo, Silvia Garcia é dona de voz marcante e humor irreverente. Começou no jornalismo aos 21 anos no Rio de Janeiro e desde sempre seu sonho foi trabalhar na TV. Começou no jornalismo policial, porém como ela mesma disse “Acharam que eu tinha jeito para jornalismo esportivo, eu creio que foi mesmo por causa dessa voz…” Assim começou a trabalhar com esportes na Bandeirantes e lá permaneceu durante 4 anos, como setorista – alguém que cobre diariamente determinado clube. A Silvia tocou cobrir o time do São Paulo Futebol Clube. Então foi chamada para trabalhar no programa televisivo Auto Esporte e apresentou o programa por dez anos. Atualmente a jornalista não está mais no mundo dos esportes, e trabalha na TV Assembléia e no Discovery Channel.

Diante das histórias contadas por Camila e Vanessa, duas profissionais mais jovens no jornalismo, Silvia Garcia comentou que em sua época de entrada no mundo dos esportes o preconceito com as mulheres no meio era até mais agressivo, chegando ao ponto de já terem lhe oferecido joias, dinheiro e de ter sido assediada por dirigentes famosos. Uma história citada por ela foi quando fazia entrevistas nos vestiários após os jogos, e os jogadores faziam questão de dar entrevistas nus, apenas para constranger a repórter mulher. Silvia também contou que cobrindo salão de automóveis em outros países, observava grande respeito nos trato com as mulheres, onde elas não eram expostas como “objetos” ao lado dos carros e o preconceito com as mulheres que trabalhavam no meio era quase inexistente, já aqui no Brasil a jornalista presenciava o contrário.

Outro tema bastante discutido na palestra foi a rivalidade existente entre as mulheres na profissão, que têm a tendência de competirem muito umas com as outras. Silvia Garcia contou, com bastante humor, que ela mesma já se flagrou fazendo isso com novas estagiárias na redação, mas que depois acabavam se revelando grandes amigas e profissionais. Atualmente elas disseram achar que isso diminuiu um pouco nos ambientes de trabalho, mas ainda assim, muitas vezes esse tipo de situação acaba acontecendo, por preconceito das próprias mulheres que desde pequenas crescem achando que devem ser inimigas umas das outras.

A predominância do público na sala Aloysio Biondi era de mulheres, porém também havia diversos alunos interessados no tema da palestra, que contou com a presença de vestibulandos e alunos de outras faculdades. No final, as palestrantes foram questionadas e comentaram sobre a situação atual do futebol brasileiro. Na opinião de Camila, Dunga não é o símbolo ideal para a renovação da seleção brasileira, algo que todos concordaram. Silvia completou dizendo que hoje em dia, não estamos mais conseguindo falar sobre o futebol em si, apenas das coisas em volta dele, como por exemplo a corrupção que ronda as associações esportivas. Fechando o debate com grande estilo, “o futebol anda mesmo uma porcaria, a gente assiste os jogos porque amamos muito o nosso time!”, disse Camila, que tirou risadas de muitos participantes.

Ao término da palestra, na saída do auditório, era possível enxergar nos comentários e olhares dos participantes, o quão divertido e enriquecedor a palestra havia sido. Perfeita para encerrar com chave de ouro o último dia da Semana de Jornalismo.