O musicólogo, jornalista e produtor musical Zuza Homem de Mello é uma referência jornalística para o mundo da música. Não à toa, são praticamente 60 anos dedicados ao garimpo e à divulgação do que há de melhor na MPB e no jazz. Com vasta carreira na área musical – de engenheiro de som da TV Record a crítico musical no jornal O Estado de S. Paulo, em seu currículo não faltam produções de shows, discos e livros, além de curadoria de eventos e festivais. Com 80 anos de idade e ânimo de um homem de 40, criou no ano passado o programa de webrádio com plateia interativa Mergulho no Escuro. Com participação de mais de 600 pessoas em seu primeiro ano, o programa que promove uma viagem musical promete ser um sucesso em seu retorno.
De onde surgiu o seu gosto pela música?
A música está em minha vida desde os dez anos de idade. Não posso dizer “comecei a gostar de música”; eu já nasci gostando de música – assobiando, como mamãe me falava. E desde então eu optei pela música. Na hora de optar por uma universidade, eu cheguei a cursar dois anos de engenharia, mas aí achei que aquilo não tinha nada a ver, e mudei para a música. Desde então estudei música, em Nova York, na Juilliard School of Music, e estou na ativa desde 1956.
Então sua vida é dedicada à música?
É bastante dedicada á musica! (Risos.)
Como é seu gosto musical? O que você mais gosta de ouvir?
Ah, o meu gosto é muito variado. Eu gosto de ouvir tudo o que você pode imaginar, desde que seja bom. Eu gosto de ouvir os grandes compositores, os grandes intérpretes, música instrumental, canções, ópera, concertos, jazz, tudo o que faz parte do meu escopo predileto.
Do que se trata o Mergulho no Escuro?
Esse é um programa que teve início no ano passado no Itaú Cultural, na Sala Vermelha. Esse programa tem uma característica que o próprio título sugere que é a seguinte: eu não sei quais são as músicas que vão ser apresentadas; os ouvintes que forem à sala vermelha do Itaú Cultural podem levar discos que são colocados em uma caixa e identificados somente pela faixa, e eu só terei contato na hora do programa, por isso que é “no escuro”. Ou seja, é um programa em que eu me arrisco a me dar mal ou bem, depende do que acontecer. Até agora não me dei mal em nenhum programa! (Risos.) O programa é muito divertido porque as pessoas também participam, alguns deles dão suas opiniões, é um programa diferente e arriscado.
Quais são suas expectativas para o retorno do programa?
O retorno tem sido crescente. Começamos apenas no ano passado, e neste ano já havia muita gente procurando o Itaú Cultural pra saber quando iria recomeçar o programa, uma vez que paramos no ano passado. Esse interesse é palpável e deve crescer cada vez mais, sobretudo porque agora o programa é quinzenal.
Quando e a que horas ocorrem as gravações e as transmissões?
O programa vai ao ar na primeira terça-feira de cada mês e na terceira terça-feira de cada mês, sempre às vinte horas, no site do Itaú Cultural. E pra quem quer assistir ao programa, é na primeira terça-feira de cada mês, quando eu gravo os dois programas: o da primeira e o da terceira terça-feira.
Quais são as novidades que o programa trará em relação aos anteriores? Trará alguma diferença no formato?
Exatamente isto é o que eu não sei! Como eu posso saber as novidades se [o programa] é no escuro? (Risos.) Mas em relação ao ano passado, agora os programas serão quinzenais, a duração foi ampliada para 1h30 e a primeira parte, além de gravada, é transmitida ao vivo no site do Itaú Cultural.
O programa mescla o formato dos antigos programas de rádio de auditório com a tecnologia das transmissões online. Você poderia explicar como funciona esse sistema, e o que você procura trazer para o publico de hoje em dia que não tem contato com esse antigo formato de transmissão?
Bem, online é crescente a visibilidade e o interesse de uma maneira geral. E eu acho que há diversas formas de a gente sentir que isto está crescendo de uma maneira assustadora, não só no mundo inteiro, mas no Brasil inteiro, de maneira que esse é um novo modo de se fazer e poder divulgar a melhor música brasileira, como tem acontecido até agora no nosso programa Mergulho no Escuro.
Você podia contar como é a interação entre você, o musicólogo, e o público durante o programa?
Pois é, eu tenho uma caixa na qual estão os CDs… Você precisa ir lá para ver! (Risos.) Tem uma caixa, eu puxo o CD, vejo a música que está indicada pelo ouvinte, e aí eu toco essa música. É então que eu vou contar o que eu sei sobre essa música, sobre esse artista, enfim, aquilo que eu possa acrescentar, além de ouvir a música.
Então a participação da plateia é fundamental para o programa?
Claro, a plateia é que leva os discos que são apresentados no programa, então, só na hora é que eu saberei o que será o programa! (Risos.)
Qual é o público que compõe a plateia, que traz esses CDs?
O público é bem variado. Tem jovens, tem pessoas que a gente vê que conhece o material que eles propõem para ser tocado. E a maioria é do público feminino, o que é muito gostoso, né? Em geral é um público, sobretudo, muito bem-informado sobre música. Quer dizer, quando algum deles tem que dar opinião, e isso acontece frequentemente, ou dizer o porquê de ter escolhido aquela música, sempre vêm coisas interessantes que às vezes ilustram para os ouvintes o porquê – não somente o porquê, mas também a origem do artista, de onde ele vem etecétera. E de maneira que fica muito ilustrativa de ouvir o programa, é bem divertido, o pessoal gosta bastante e sai todo mundo feliz.
Então se pode dizer que a maioria do público é amante da música?
Francamente amantes da música!
E quais são os estilos musicais mais recorrentes nesta escolha aleatória e totalmente no escuro?
Olha, grande quantidade é de Música Popular Brasileira. Tem também outros gêneros, mas a MPB predomina francamente. E isso é muito bom, porque é o que está faltando no rádio hoje em dia, não é? Tanta, ai (suspiros), coisa dura de suportar! (Risos.)
Você não fica nervoso na hora dessa escolha e pensa “e agora, qual música será escolhida”?
Com oitenta anos eu não fico mais nervoso! (Risos.)