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Quem frequenta os bares da Vila Madalena, bairro da zona oeste de São Paulo, sabe que a Mercearia São Pedro é um dos mais badalados. Frequentado por jornalistas e cineastas, o bar parece não enfrentar crises. Pedro Issa, dono do estabelecimento, explica os motivos desse sucesso.

Camila: O que faz a Mercearia São Pedro ter tanto sucesso?

Pedro: A gente está aqui há 46 anos. Então, fazendo uma coisa por tanto tempo, você acaba gostando do que faz e faz bem-feito.

CA: O que contribui para a identificação do bar com o bairro?

PE: O bairro se identificou com a Mercearia e a Mercearia se identificou com a Vila Madalena, que é um bairro de jovens, jornalistas, professores e cineastas. A Mercearia é um complemento do bairro, e vice-versa.

CA: Por que a Mercearia atrai esse público?

PE: O meu irmão, o Marcos, que é meu sócio, sempre trabalhou com cinema. Ele tem um projeto há 30 anos, o Cinema na Rua. Aqui é uma extensão disso, ele veio pra cá e os cineastas vieram junto. A Mercearia é uma extensão da casa dos cineastas, jornalistas e escritores.

CA: Por que a Mercearia é tão estável? Parece que o bar nunca enfrenta crises.

PE: Nós somos o bar mais antigo do bairro, então não temos a necessidade de modismos, a gente faz um trabalho da melhor forma possível. A gente serve o que tem de melhor pelo preço mais honesto. Hoje em dia, todo mundo está a fim de economizar, a vida está difícil pra todo mundo. E a gente faz isso desde a época do meu pai.

CA: Qual é a dificuldade de manter um estabelecimento na Vila Madalena?

PE: Essa é uma boa pergunta (risos). Acho que é de tudo um pouco. É a situação econômica do país, né, essa incerteza, é a fiscalização, porque tem pessoas que reclamam que tem muita gente na rua. Quem tá na rua é quem tá fumando. Às vezes, não cabe todo mundo na calçada, então eles vão pra rua. Aí não pode fumar dentro, não pode fumar fora, e as pessoas pensam “onde que eu vou fumar?”. Então, sabe, é muito difícil lidar com esse tipo de problema.

CA: Mudou alguma coisa no bar depois do último problema com a fiscalização?

PE: A gente mudou totalmente a nossa maneira de trabalhar, né, eu estou fechando mais cedo, eu não vou mais servir bebida alcoólica pra quem não está na mesa. De repente, as pessoas não têm mais pra onde ir.

CA: A Mercearia sempre foi um armazém?

PE: Sempre que existiu o bar, existiu o armazém. E sempre vai ter. A Mercearia é isso, a gente não muda nada. Se tem uma coisa que me dá orgulho é que a gente serve os netos dos primeiros clientes. Isso é uma coisa que faz com que eu continue trabalhando. Eu nasci aqui, praticamente, né. Nos fundos da Mercearia meus pais moraram, eu morei. Tem muita gente que vem aqui porque lembra do meu pai, da minha mãe. Eles ficavam aqui o dia inteiro. Não era um bar, era uma casa de família.

CA: Vai ter alguma mudança na Copa?

PE: Não, nada. Eu só vou comprar televisores maiores. A gente vem trabalhando dessa maneira, e não vejo necessidade de mudar.

CA: O futebol não é o forte da Mercearia, né…

PE: Eu venho tentando, na medida do possível, manter uma boa relação com os vizinhos. Quem reclama da Mercearia não são os vizinhos, são aquelas pessoas que acham bonito reclamar. É politicamente correto, né.

CA: O que mais atrapalha, então, é a lei anti-fumo?

PE: É uma guerra jurídica. Tem alguma lei que proíbe você comprar cerveja e beber na frente da sua casa? As pessoas acham que não pode beber na rua. É uma guerra de direitos e eu não vou entrar nessa depois de 46 anos.

CA: E o pastel, é uma receita de família?

PE: Quem fazia o pastel era a minha mãe. Não só o pastel, mas tudo o que a gente serve aqui. São todas receitas da minha mãe, que foram passadas pra uma cozinheira, e essa passou pra outra. A gente faz questão de não mudar.