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“Essa é uma característica minha…Mergulhar nas coisas com muita intensidade”, conta o professor Marco Vale sobre como entrou no mundo cinematográfico e desenvolveu sua grande paixão por documentários. Atualmente, é docente do curso de Rádio, Televisão e Internet da Faculdade Cásper Líbero, ministrando as disciplinas “Elementos da Linguagem Audiovisual” (Cinema) e “Edição de TV”.

Paulistano da gema, como se autointitula, Marco nasceu e cresceu na Terra da Garoa. Seu pai, neto de imigrantes italianos e portugueses, teve caráter decisivo em suas motivações para se tornar professor e acadêmico: “Meu pai era jornalista, então quando eu era criança, ele trazia dois ou três jornais por dia em casa, o que me permitia um vasto acesso à leitura”.

Aos seus 8 anos, a TV Globo e a TV Manchete exibiram, pela primeira vez, dois filmes que o deixaram completamente fascinado: “Guerra nas Estrelas”, do diretor George Lucas, e “2001: Uma Odisseia no Espaço”, de Stanley Kubrick. A partir disso, Marco buscou mais detalhes sobre as gravações, críticas jornalísticas e história dos cineastas. Seu amor pelo cinema dava os primeiros passos.

Como sua família era fascinada por cinema, verdadeiros cinéfilos, o professor comenta que essa proximidade com a sétima arte influenciou suas escolhas posteriores. “Foi uma mistura de estímulos externos e especificidades pessoais que me fizeram seguir esse caminho, mas a semente estava na minha infância.”

Quando criança gostava de assistir aos filmes de Stanley Kubrick e de Roman Polanski. “Eu adorava ‘A Dança dos Vampiros’, do Polanski, me dava medo, mas eu também achava engraçado. Essa mistura de medo e de humor me atraiu também.”

O tempo se passou e no ano de 1992, como é comum aos vestibulandos, uma dúvida pairava pela cabeça de Marco: prestar vestibular de Cinema ou Rádio e TV? Ao analisar o panorama do mercado audiovisual no ano de 1993, optou por Rádio e TV.

“O presidente Collor, nos anos 1990, tinha desmontado a estrutura do cinema brasileiro, a Embrafilme, que produzia e distribuía os filmes nacionais. Naquela época, não havia nenhuma produtora cinematográfica no lugar. A produção nacional estava quase zerada. Sendo uma área muito incerta, isso acabou pesando e escolhi TV. Era a escolha mais realista”, justifica o professor.

Formado em Rádio e TV pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) em 1997, Marco lembra com carinho o período de faculdade, sobretudo do professor Arlindo Machado, seu orientador no TCC e participante de sua banca de mestrado. “Antes dele, eu achava que o melhor da TV era o que se aproximava do cinema e ele me mostrou narrativas que não necessariamente dialogavam com o cinema, narrativas inovadoras.” Para Marco, a faculdade, acima de tudo é um momento de aproveitamento da experiência criativa, em que o grande diferencial é participar de diversas áreas, da direção, da produção e até da cinegrafia.

Mestre (2005) e doutor (2015) em Meios e Processos Audiovisuais pela USP, o docente fez sua dissertação de mestrado sobre “O Cinema Brasileiro na Era das Imagens Eletrônicas”, estudando a linguagem visual dos filmes de Guel Arraes, enquanto que em sua tese de doutorado o tema foi “Metalúrgicos e Motoboys: retratos audiovisuais de um país sobre rodas”.

Mas é ao relatar seus muitos empreendimentos que os olhos de Marco Vale brilham ao contar, desde sua entrada precoce no campo da produção aos profissionais com quem teve contato, como Joel Pizzini, Paulo José, Paula Cavalcanti, Mário Carneiro, e Alê Primo. Ele relembra com muita gratidão e orgulho alguns títulos de que participou, como os documentários: “Paulo José, Um Autorretrato Brasileiro”; “Evangelho Gegundo Jece Valadão”; “Glauce: Estudo de um Rosto”; e o programa “Tá na Área” da Santa TV.

O videoclipe dos Los Hermanos, dirigido por ele e mais dois cineastas, além do contato com a banda musical foi também um marco em sua trajetória profissional. Marco foi ainda o docente responsável pelo documentário “Memória Sem Visão”, trabalho premiado e gravado em uma das duas câmeras de alta definição existentes no Brasil. Seu curta sobre as imediações do minhocão foi reconhecido pelo Festival Internacional de Cinema Ambiental (FICA), como o melhor documentário, ganhando prêmio no Festival de Primeiro Plano, em Juiz de Fora, e exibido na Finlândia e Inglaterra, com uma menção honrosa em Nova York.

E sobre como transmitir suas experiências para os estudantes? “Tento passar para os meus alunos a minha paixão. A paixão que me fez correr atrás das coisas. Quando dou aula, no diálogo com os alunos, tento descontruir e compreender um processo de alteridade, de entendimento do outro, de identificação dos aspectos que são semelhantes ao que passei na mesma idade deles e do que podemos criar juntos.”

Professor na Cásper Líbero desde 2003, enxerga a instituição como um grande espaço criativo. “Tanto na sala de aula como nos trabalhos práticos com os alunos, a Cásper me deu essa oportunidade, essa troca criativa, de não achar que professor deve ficar somente mergulhado nos livros.” Responsável pela coordenadoria do curso de Rádio, TV e Internet de 2006 até 2011, atuou como diretor do programa “Vem comigo”, exibido pela TV Gazeta, tendo adorado a experiência e o convívio com o jornalista Goulart de Andrade e os alunos de Jornalismo e Rádio, TV e Internet.

Ele se define como alguém que busca sempre estar na linha fina entre o cinema e a TV, fugindo de rotulações, afinal considera difícil nos encaixarmos em algumas definições. “Gosto de estar na fronteira, tenho o ímpeto de buscar o meu caminho dentro da minha área, e me inspiro em pessoas sim, mas nunca acreditei em fórmulas. Você aprende com as experiências de outros, mas sua experiência pessoal vai ser sempre uma coisa única.”